Somalilândia, uma fatia somali relativamente pacífica e organizada, tem a esperança de se tornar uma nação
Os comícios começam geralmente no início da manhã, antes do sol raiar. Por volta das 8h em um dia recente, milhares de pessoas se reuniam na praça central da cidade de Burao, com meninos subindo em árvores altas para espiar os políticos de longe.
"Vamos acabar com a corrupção!", gritou um dos políticos, segurando diversos microfones ao mesmo tempo. "Vamos trazer de volta a dignidade para o povo!" Os meninos festejaram intensamente. Militantes franzinos sacudiram os braços no ar.
As mensagens dos políticos não são nada originais. Mas na somali Burao, na região da Somalilândia, uma manifestação política livre e aberta - liderada, além disso, por líderes da oposição com uma chance real de ganhar - é uma anomalia aparentemente digna de comemoração.
A multidão naquele dia ajudou a contar uma estranha verdade: um dos países mais democráticos do Chifre da África não é realmente um país. É a Somalilândia, no canto noroeste da Somália, que desde a desintegração do Estado somali em 1991 vive uma missão quixotesca para obter reconhecimento como uma nação independente.
Embora grande parte da Somália seja atormentada por uma violência implacável, essa fatia pouco conhecida do país é pacífica e organizada o suficiente para realizar eleições nacionais nesta semana, com mais de 1 milhão de eleitores registrados.
Grande parte dos observadores independentes prevê que a maioria dos votos será do principal partido da oposição, o Kulmiye, que significa algo como "aquele que une as pessoas". Isso não significa, necessariamente, que a oposição vá ganhar.
Muitas pessoas se preocupam que, se o partido do governo da Somalilândia, o UDUB, tentar se manter no poder de forma ilegítima, a população bem armada (afinal de contas essa região ainda é parte da Somália) se levantará e quase duas décadas de paz podem desaparecer rapidamente.
Em muitos aspectos, a Somalilândia já é o seu próprio país, com sua própria moeda, seu próprio Exército e Marinha, suas próprias fronteiras e sua própria identidade nacional. Parte disso decorre de sua história colonial distinta, tendo sido governada, de maneira relativamente indireta, pelos britânicos.
O clã não é a questão predominante nessa eleição. Os três candidatos presidenciais (o código eleitoral da região diz que apenas três partidos políticos podem concorrer, e eles se alternam na campanha diariamente), são de clãs diferentes ou subclãs.
No entanto, muitos eleitores não parecem se importar. Haboon Roble, de 20 anos, explicou que gosta do UDUB porque "Eles são bons. Eles seguraram a casa".
Mas seu tio, Abdi Rahman Roble, sacudiu a cabeça. "Esse governo não fez nada pelos fazendeiros", reclamou. "Não podemos nem sequer receber vasilhames de plástico para pegar a chuva."
Ele disse que vai votar para o Kulmiye. "Mas não digo a ninguém como votar", disse Roble. "Isso é uma opção individual".
FONTE:
The New York Times
Os comícios começam geralmente no início da manhã, antes do sol raiar. Por volta das 8h em um dia recente, milhares de pessoas se reuniam na praça central da cidade de Burao, com meninos subindo em árvores altas para espiar os políticos de longe.
"Vamos acabar com a corrupção!", gritou um dos políticos, segurando diversos microfones ao mesmo tempo. "Vamos trazer de volta a dignidade para o povo!" Os meninos festejaram intensamente. Militantes franzinos sacudiram os braços no ar.
As mensagens dos políticos não são nada originais. Mas na somali Burao, na região da Somalilândia, uma manifestação política livre e aberta - liderada, além disso, por líderes da oposição com uma chance real de ganhar - é uma anomalia aparentemente digna de comemoração.
A multidão naquele dia ajudou a contar uma estranha verdade: um dos países mais democráticos do Chifre da África não é realmente um país. É a Somalilândia, no canto noroeste da Somália, que desde a desintegração do Estado somali em 1991 vive uma missão quixotesca para obter reconhecimento como uma nação independente.
Embora grande parte da Somália seja atormentada por uma violência implacável, essa fatia pouco conhecida do país é pacífica e organizada o suficiente para realizar eleições nacionais nesta semana, com mais de 1 milhão de eleitores registrados.
Grande parte dos observadores independentes prevê que a maioria dos votos será do principal partido da oposição, o Kulmiye, que significa algo como "aquele que une as pessoas". Isso não significa, necessariamente, que a oposição vá ganhar.
Muitas pessoas se preocupam que, se o partido do governo da Somalilândia, o UDUB, tentar se manter no poder de forma ilegítima, a população bem armada (afinal de contas essa região ainda é parte da Somália) se levantará e quase duas décadas de paz podem desaparecer rapidamente.
Em muitos aspectos, a Somalilândia já é o seu próprio país, com sua própria moeda, seu próprio Exército e Marinha, suas próprias fronteiras e sua própria identidade nacional. Parte disso decorre de sua história colonial distinta, tendo sido governada, de maneira relativamente indireta, pelos britânicos.
O clã não é a questão predominante nessa eleição. Os três candidatos presidenciais (o código eleitoral da região diz que apenas três partidos políticos podem concorrer, e eles se alternam na campanha diariamente), são de clãs diferentes ou subclãs.
No entanto, muitos eleitores não parecem se importar. Haboon Roble, de 20 anos, explicou que gosta do UDUB porque "Eles são bons. Eles seguraram a casa".
Mas seu tio, Abdi Rahman Roble, sacudiu a cabeça. "Esse governo não fez nada pelos fazendeiros", reclamou. "Não podemos nem sequer receber vasilhames de plástico para pegar a chuva."
Ele disse que vai votar para o Kulmiye. "Mas não digo a ninguém como votar", disse Roble. "Isso é uma opção individual".
FONTE:
The New York Times
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