1 - O número de suicídios, nos cinco primeiros meses do ano, foi 40% maior do que em idêntico período do ano anterior.
2 - O desemprego, que era de 7% até o início da crise, faz três anos, mais que dobrou e está hoje em 16%.
3 - O estancamento da economia foi pavoroso: 8,1% no primeiro trimestre, 7,3% no segundo.
Melhorou, então, o desempenho das contas públicas? Nadica de nada. As receitas caíram e os gastos aumentaram, do que resultou um déficit superior em 15% ao dos nove primeiros meses de 2010.
Com efeitos tão devastadores, nada mais natural do que perguntar ao "soberano" se quer continuar ou prefere parar, certo?
Errado, responderam os mercados. Castigaram não apenas a Grécia mas todas as bolsas de valores do planeta com quedas espetaculares. Consequência inescapável: os países que patrocinam uma intervenção clara nos negócios internos gregos convocaram Papandreou para ouvir um baita pito na cúpula do G20 que começa nesta quinta-feira.
Por quê? Porque o pressuposto dos mercados - que não prestam contas a ninguém - é o de que os eleitores gregos rejeitarão o sofrimento. Não deixa de ser curioso: o pacote de ajuda a Grécia inclui um calote de 50% na imponente dívida do país, cujos detalhes serão ainda negociado com a banca - ah, o diabo está sempre nos detalhes. Ou seja, se a Grécia recusar o pacote, o calote também será recusado, o que deveria alegrar os mercados.
O problema é que eles sabem que o calote virá de uma forma ou de outra: organizado como está sendo negociado ou na marra, caso em que, em vez de perderem 50%, perderão tudo.
Pode até ser que o pito no premiê grego funcione aqui em Cannes e ele desista do plebiscito. Já não importa, do ponto de vista do jogo democracia x mercados. Os mercados ganham. O plebiscito demora para ser realizado, porque a democracia é necessariamente lenta para poder ser limpa e organizada. Já os mercados votam instantaneamente e repetem a votação a cada dia, a cada momento, a cada minuto.
O pior é que os mercados não deixam alternativa aos gregos: ou votam sim à dor ou são jogados às feras pelos seus parceiros europeus, enfurecidos com a decisão do primeiro-ministro de praticar um ato democrático.
FONTE: FOLHA.COM / CLÓVIS ROSSI
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