Quinta, dia 13 de junho (amanhã), as 17h no Teatro Municipal há uma nova manifestação, a quarta grande manifestação contra o aumento das tarifas. Estaremos todos lá de novo. E espero que sejamos mais que os dez mil de ontem! Que o protesto cresça!
Cheguei na Avenida Paulista pouco antes das 6 da tarde, praticamente no começo da marcha que reunia, naquele momento, pelo menos 10 mil pessoas. O caminho inicial seria a Consolação até o centro, e nem a chuva forte que caiu poucos minutos depois intimidou os participantes, apesar de ter atrapalhado - e muito - os fotógrafos e equipes de TV.
Milhares de pessoas gritavam "vem, vem pra chuva vem, contra o aumento" e a alegria estava estampada na cara dos presentes que sabiam ter reunido um número imenso de participantes e, acima de tudo, sabiam da justeza de suas reivindicações.
Mas logo a marcha sofreu o primeiro racha.
O caminho decidido era o de descer o túnel da Radial Leste/Minhocão. Muitas pessoas, surpresas, se recusaram a descer. Muitas com medo de serem emboscados pela polícia - que acompanhava em grande número, com viaturas da força tática, motos e até um carro de bombeiros - desistiram e acabaram realizando um mini-protesto pela Praça Roosevelt e região.
Os que foram adiante caminharam até o viaduto da 23 de maio, quando o movimento empacou para decidir o caminho a seguir. Como nota pessoal, achei péssima a escolha da rota, pois atrapalhamos o trânsito na Radial (nada contra, só constatando), mas ficamos isolados do resto da cidade e com poucas opções de caminho a seguir.
Empacados, o trânsito voltou a correr, e acabamos seguindo pela Av. Liberdade até a Sé. Na Liberdade a animação dos presentes voltou à toda e a marcha, pouco menor que no começo, ainda era muito grande.
Caminhamos em direção ao Terminal Dom Pedro, numa marcha pacífica que, porém, quase viu o primeiro confronto (ou a primeira violência policial) quando um pequeno grupo resolveu atear fogo em um ônibus parado e vazio nas proximidades do terminal. De forma surpreendente a polícia se limitou a apagar o princípio de incêndio (ainda que o ônibus tenha sido quebrado e pichado) e não investiu contra os manifestantes. Provavelmente porque a maioria dos presentes se revoltou contra a atitude do pequeno grupo e muitos ajudaram a polícia a apagar o fogo que começava a tomar corpo.
Eu não tenho, em princípio, nada contra atear fogo a um ônibus (vazio, obviamente), o problema é fazê-lo apenas como provocação à polícia que, até aquele momento, tinha apenas acompanhado. E atear fogo quando a MAIORIA claramente não apoiava o ato.
Violência em manifestações é legítima, mas como resposta, não como incitação ou, no máximo, quando a maioria dos presentes está de acordo e há razões para o uso da violência.
Não há (havia) razão para incitar a violência da PM contra milhares de pessoas que protestam pacificamente e, naquele momento, com amplo apoio popular. Penso - posso estar errado, mas é minha opinião - ser contraproducente iniciar incêndios e "vandalizar" buscando uma resposta da polícia.
O correto, penso, é utilizar a violência e a resistência apenas quando atacados, não dando espaço para manipulações midiáticas (ou reduzindo sua capacidade de distorcer) e, acima de tudo, sem alienar a população.
Uma coisa é a justa revolta pela violência sofrida, outra é incitá-la CONTRA a maioria.
De forma alguma afirmo ou mesmo acho que a reação da PM é justificável, mesmo com o vandalismo, mas é inocência ou estupidez achar que não haverá reação e quem não tem nada a ver, quem não cobre a cara, não vai acabar apanhando.
Continuamos a marcha por mais alguns metros até o terminal, quando a marcha novamente estacou. Colegas jornalistas na cabeça da marcha disseram que o movimento demorou demais para decidir se invadiria o terminal, naquele momento com poucos policiais o guardando, e quando finalmente decidiram pela ação a força tática já havia chegado, e houve reação.
Pessoas na cabeça da marcha tentaram passar pela polícia e atiraram objetos e mesmo fogos, e a resposta foi o gás. Fomos perseguidos pela PM por todo o centro, até a catedral da Sé. Em dado momento centenas de policiais fechavam diversas ruas e enchiam de gás a Sé inteira, mas curiosamente atiravam no vazio ou mesmo em repórteres desgarrados. Um colega jornalista comentou ter ouvido de repórter da Globo, este falando a um PM, que eles queria imagens de conflito para ficar bonito na TV e daí a PM atirava bombas no vazio. Pura pirotecnia.
Após alguns minutos desta demonstração inútil de força, recebemos a informação de que um imenso grupo havia escapado ao cerco e se dirigia à Paulista via Brigadeiro. Pegamos o metrô, eu, uma amiga e alguns jornalistas, e fomos até o local.
Chegamos na Brigadeiro no exato momento em que milhares de pessoas (pelo menos 3 mil, acredito) paravam uma das vias da avenida.
Reparei que faltavam as tradicionais bandeiras dos partidos: PSOL, PCO, PSTU... Vi apenas uma ou outra do PCB e, creio, da LER-QI e uma quantidade imensa de encapuzados.
Faço esse comentário por notar que o "tom" do protesto mudou um pouco sem certo controle por parte dos partidos. Apesar de um ou outro incidente pontual antes da reação da PM, agora alguns grupos se sentiram mais livres para atuar. Talvez 20-30 indivíduos frente a milhares que ainda marchavam pacificamente.
Vi de perto uma agência do Bradesco e outra do Itaú terem os vidros quebrados com pedradas por um pequeno grupo, que recebeu o repúdio do grosso da manifestação. A polícia apenas acompanhou.
Este pequeno grupo se adiantou à cabeça da marcha e começou a parar o trânsito e, infelizmente, começou a ameaçar motoristas, chegando a quebrar um carro (ao menos o vidro traseiro e as lâmpadas traseiras ) que se viu preso no meio da marcha.
Chegando no MASP, a polícia tentou fazer um cordão de isolamento para que os manifestantes fossem para o Vão e lá ficassem, encerrando a marcha. Um grupo negociou com a PM, mas os encapuzados novamente tomaram a frente, começaram a xingar e a cercar e começou a confusão. Vi um rapaz ser preso - me informaram depois que ele tentou dar uma flor a um PM - e levado para a base da PM na frente do Parque Trianon e foi aí que a confusão começou.
Manifestantes jogaram objetos na polícia que jogou bombas no vão do MASP e na Paulista. Formou-se uma linha da Força Tática que cometeu talvez o grande erro da noite, deixou o grupo original de vândalos avançar em direção à Consolação derrubando lixeiras de concreto (outro grupo menor passou a levantá-las, recusando a ação que era puro vandalismo e não a construção de barricadas) e começou a atirar nos milhares que se manifestavam pacificamente e tiveram de correr em direção ao Paraíso onde, me contam, houve mais violência depois.
A polícia, completamente descontrolada, começou a atirar no meio de carros, apavorando a população e enchendo a Paulista com gás.
Algumas pessoas tentavam dialogar com os encapuzados que praticavam puro e desnecessário vandalismo, e a resposta deles era que eram "contra o Estado" e "contra a burguesia e o capitalismo".
Acho justo, mas este NÃO era o foco da manifestação. E não afirmo isto de forma leviana, mas para mostrar que haviam grupos que não compactuavam com o foco da marcha - redução das tarifas - e resolveu protestar por contra própria, por suas próprias razões, e todos pagamos o pato no final.
Quisessem usar lixeiras como barricada, justo. Parar o avanço da polícia era legítimo. Mas apenas derrubá-la, enquanto gritavam desafios ao vento não significava nada.
Estes inclusive protagonizaram uma cena ridícula ao xingarem uma equipe da TV Brasil achando que era a Record e continuando a xingar e até ameaçar com violência a equipe apesar deles gritarem que eram TV pública e não a Record ou qualquer outra.
Depois de dispersar este grande grupo, a PM se virou para nosso lado e começou a avançar, jogando gás e dando tiros de borracha em direção aos carros que tentavam desesperadamente fugir da região e apavorando quem ainda estava nos ônibus parados. A corrida durou até a Consolação, quando o grupo se dispersou.
Cerca de 30 pessoas, depois, se reuniram na esquina da Paulista com Haddock Lobo e pararam o trânsito. Equipes da Record e da Globo foram intimidadas por encapuzados, mas nada demais aconteceu.
Enquanto o pequeno grupo tentava parar o trânsito em uma esquina larga, um fiat uno preto avançou à toda e atropelou pelo menos 3 pessoas, uma delas a 2 passos de mim. Felizmente ninguém ficou ferido, só escoriações.
A equipe da Globo gravou a cena e aparentemente a mostrou no Jornal da Globo. A placa do carro é EUZ1807 e, algum tempo mais tarde, passei a informação para o comandante da PM no local, que até o momento nada sabia.
É interessante que a PM tenha toda ido perseguir manifestantes no Paraíso e tenha deixado um atropelamento acontecer do outro lado. Ao invés de realizar seu trabalho, reprimia um protesto legítimo.
Pouco após o atropelamento, coisa de 20 minutos, chegaram as motos da ROCAM e começaram a descer a porrada nos manifestantes, prendendo um rapaz, Theo, que tinha a mochila lotada de bixigas com tinta. De quebra a ROCAM desceu o cacete no rapaz. Vergonhoso.
Chegou então o "reforço" da força tática que, com mais algum gás, "controlou" a situação e a marcha começou a finalmente dispersar.
A esta altura eram quase 11 da noite. Paramos a cidade por mais de 5 horas e pese a ação burra de alguns "revolucionários" (protestando por razões próprias em uma marcha que não era deles), foi um sucesso. Imensa, animada e persistente.
É difícil descrever a exultação de ver tanta gente que, mesmo depois de apanhar, tinha seguido valentemente pela Brigadeiro até a Paulista e continuava a gritar e reivindicar.
A violência usada pela PM foi, sob qualquer ponto de vista, excessiva, desproporcional. Não havia razão para perseguir a manifestação por todo o centro da cidade, nem usar a quantidade imensa de bombas e gás - e balas de borracha. Se por um lado havia uma presença considerável de vândalos que protestavam por razões completamente diferentes das reivindicações da marcha, razões aceitáveis e que concordo em grande parte, mas não cabiam naquela marcha, a PM simplesmente atirou em todos, violentou a todos e conseguiu PIORAR a situação.
Se o problema era a Paulista ocupada, já ao fim da marcha, a PM conseguiu espalhar o grande grupo em pequenos grupos revoltados com a agressão sofrida e que continuaram a "atrapalhar" o trânsito.
Da mídia, de quem não se esperava nada, não saiu nada. Criminalização, nenhum manifestante ouvido de verdade e a mesma ladainha de merda de sempre.
Quinta, dia 13 de junho (amanhã), as 17h no Teatro Municipal há uma nova manifestação, a quarta grande manifestação contra o aumento das tarifas. Estaremos todos lá de novo. E espero que sejamos mais que os dez mil de ontem! Que o protesto cresça!
Seremos milhares e iremos persistir em nossa luta.
FONTE: Raphael Tsavkko Garcia / Diário Liberdade
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