Filme é o primeiro longa dirigido por um negro premiado pela
Academia na categoria principal
Em uma cerimônia histórica (mas sem
surpresas nas categorias principais), a Academia de Artes e Ciências
Cinematográficas de Hollywood deu pela primeira vez o Oscar de melhor filme a
um longa-metragem de um cineasta negro: o britânico Steve McQueen, diretor de
“12 anos de escravidão”. O longa-metragem, adaptação das memórias de Solomon
Northup, negro livre da Nova York de meados do século XIX, sequestrado e
vendido como escravo para fazendeiros do Sul, ainda ganhou os prêmios de melhor
roteiro adaptado e atriz coadjuvante, de um total de nove indicações.
— Quero dedicar a todos que merecem não
só sobreviver, mas viver. Esse é o grande legado de Solomon (autor do livro que
inspirou o livro). E a todos que sofreram com a escravidão e ainda sofrem hoje.
— disse McQueen.
O filme derrotou os dois outros
favoritos, “Gravidade”, do mexicano Alfonso Cuarón, e “Trapaça”, de David O.
Russell, que concorriam em dez categorias. A ficção científica de Cuarón venceu
sete estatuetas, incluindo a de direção, dada pela primeira vez a um
latino-americano, e outros seis prêmios técnicos. Apesar do lobby que
impulsionou a candidatura do filme de O. Russell, a equipe de “Trapaça” saiu de
mãos abanando, e nem a queridinha Jennifer Lawrence, que novamente levou um
tombo num Oscar (desta vez no tapete vermelho), foi suficiente.
A festa, realizada no Dolby Theatre, em
Los Angeles, teve como apresentadora a comediante Ellen DeGeneres, que jogou
muito para a plateia: serviu pizza aos convidados, tirou fotos com eles (uma
delas, postada em seu Twitter, bateu o recorde de compartilhamentos na
ferramenta) e vivia interagindo fora do palco. Nas piadas, porém, deixou a
desejar. Mesmo assim, o tom da noite apontou para uma cerimônia bem família.
Vários atores levaram as mães como acompanhantes, caso de Jared Leto, Michael
Fassbender e Charlize Theron, enquanto muitos dos premiados, muitos mesmo,
agradeceram aos progenitores (ou mesmo aos filhos).
Na categoria melhor ator e melhor atriz,
nada de novidades: como era de se esperar, Matthew McConaughey levou a
estatueta por "Clube de compras Dallas", enquanto Cate Blanchett se
consagrou por "Blue Jasmine", de Woody Allen.
— Sentem-se, vocês estão todos muito
velhos para ficar de pé — brincou a atriz ao subir ao palco, para depois
agradecer o prêmio, afirmando que ele "significa muito num ano de
performances tão extraordinárias". — Filmes
com mulheres são filmes que o público quer assistir e que dão dinheiro —
completou a atriz.
Entre as atuações coadjuvantes, Jared
Leto foi premiado por seu desempenho como a travesti Rayon de “Clube de Compras
Dallas”, de Jean-Marc Vallée, que totalizou três vitórias, incluindo a de
maquiagem. O ator, que também é conhecido no mundo musical como vocalista da
banda 30 Seconds to Mars, dedicou o troféu às vítimas da Aids, doença que
dizimou a vida de milhares nos anos 1980, período em que se passa o filme. E
também à sua mãe, é claro.
— Ela me ensinou a sonhar — explicou
Leto, durante os agradecimentos, no discurso mais emocionante da noite, que
ainda teve espaço para a política. — Para todos os sonhadores ao redor do
mundo, assistindo a esta noite em lugares como a Ucrânia e Venezuela, nós
estamos aqui e enquanto vocês lutam para que seus sonhos aconteçam, para vencer
o impossível, nós estamos pensando em vocês esta noite.
Lupita dá show de elegância
Entre as performances femininas
coadjuvantes, sagrou-se vitoriosa a mexicana (criada no Quênia) Lupita Nyong’o,
de “12 anos de escravidão”. A jovem estrela, que completou 31 anos no último
sábado, uma das mais elegantes da noite, agradeceu o prêmio ao diretor Steve
McQueen.
— Você foi o meu esteio, o meu guia —
disse Lupita, emocionada. — Quando eu olho para esse troféu dourado, espero que
isso lembre a todas as crianças pequenas que, não importa de onde você seja,
seus sonhos são válidos.
Lançado no Festival de Cannes do ano
passado, “A grande beleza”, de Paolo Sorrentino, protagonizado por Toni
Servillo, rendeu à Itália o Oscar de melhor filme estrangeiro. Elogiada crítica
à decadência moral da sociedade italiana contemporânea, o filme de Sorrentino,
que já havia ganhado o Globo de Ouro da categoria, confirmou o favoritismo. Em
seu discurso, Sorrentino dedicou a vitória a Fellini, Scorsese e Diego
Maradona. O último filme italiano a faturar o prêmio da Academia foi “A vida é
bela” (1997), de Roberto Benigni.
A maior surpresa da noite foi a vitória
de “A um passo do estrelato”, sobre cantoras de apoio de grandes artistas, na
categoria documentário em longa-metragem. O filme de Morgan Neville bateu
favoritos, que tinham temas polêmicos, como “Ato de matar”, de Joshua
Oppenheimer e Christine Cynn, sobre carrascos do governo da Indonésia que
reencenam torturas e execuções para a câmera.
Dentro do segmento animação, a vitória
de “Frozen — Uma aventura congelante”, dos estúdios Disney, o favorito da
categoria de melhor longa, foi tranquila. O filme dirigido por Chris Buck e
Jennifer Lee derrotou “Os Croods”, da Fox, “Meu malvado favorito 2”, da
Universal, e o francês “Ernest e Célestine”, e o japonês “Vidas ao vento”, do
mestre japonês Hayao Miyazaki, as duas últimas produções de prestígio, porém de
público limitado nos Estados Unidos. Entre os curtas, venceu a produção
francesa “Mr. Hublot”, de Laurent Witz e Alexandre Espigares.
Homenagem a Eduardo Coutinho
No tradicional clipe em homenagem aos
mortos do mercado cinematográfico, o documentarista brasileiro Eduardo
Coutinho, membro da Academia, foi justamente lembrado. O diretor francês Alain
Resnais, morto no sábado, acabou não entrando na edição final do vídeo, que
lembrou ainda de James Gandolfini, mais conhecido por "Família
Soprano", Philip Seymour Hoffman e Shirley Temple, entre outros.
O prêmio de melhor figurino foi para a
australiana Catherine Martin, autora do guarda-roupa do filme “O grande
Gatsby”, drama de época ambientado nos anos 1920, e dirigido por Baz Luhrmann,
seu marido. Catherine já havia ganhado o prêmio da Academia com o musical
“Moulin Rouge” (2002), também de Luhrmann. O filme também levou o prêmio de
direção de arte. O Oscar de maquiagem foi para a dupla Adruitha Lee e Robin
Mathews, pelo drama “Clube de Compras Dallas”.
A categoria de curta-metragem de ficção
foi vencida por “Helium”, de Anders Walter e Kim Magnusson. Entre os
documentários em curta-metragem, o troféu foi parar nas mãos dos produtores de
“The lady in number 6”, de Malcolm Clarke, sobre a pianista Alice Herz, de 109
anos, uma das mais antigas sobreviventes do Holocausto.
FONTE: O GLOBO
FONTE: O GLOBO
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