Joaquim Barbosa, o jurista que encontrou Frei Betto em um aeroporto e, mal sendo conhecido dos petistas, foi alçado ao STF quase simbolicamente como o primeiro negro a ocupar uma vaga na mais alta Corte do país, era um bastião do lado “plural” e simbolicamente (para variar) democrático do PT, como uma “contrapartida” aos outros partidos.
Era. Aparentemente, o PT colocou o primeiro negro no STF para mostrar seu “compromisso social”. Aí começa o julgamento do mensalão, o negro não dá a patinha e vão mandá-lo dormir na senzala pra reaprender humanismo progressista.
Joaquim Barbosa é o relator e um dos principais acusadores (ao contrário do que se pensava, Gilmar Mendes, o “tucano”, ganhou um destaque quase irrisório perto de Barbosa). Qual acusação a petistosfera militante faz contra ele? Citar a cor de sua pele. Reiteradamente. Ou, nos dizeres de Vinícius Duarte, acaso se fosse um Lewandowski que estivesse condenado petistas diriam que é um polonês que escapou de Auschwitz?
Parece papo dos racistas rednecks que achavam um absurdo os EUA serem governados por um negro, ou a “elite” de bairros chiques que acha que empregadas negras merecem ser maltratadas por não pertencerem à sua mesma classe. Não é a tal “direita” que, quando ataca profissionalmente um negro, precisa lembrá-lo que ele é negro. Quem fez isso contra Joaquim Barbosa foi a tal esquerda. Foram os tais progressistas. São os caras contra preconceito, contra ditadura, contra o fanatismo hipócrita e histérico da classe média e do Cansei! que não sai do Twitter.
Eu não lembro dessa tal “elite” citar a cor da pele de Joaquim Barbosa quando o ministro defendeu cotas no STF, mesmo sob o argumento de que o comportamento daqueles contrários às cotas demonstraria o fanatismo perigoso e reacionário dessas pessoas. Bobagem. Óbvio que alguns racistas são contra cotas. Mas isso não indica que ser contra cotas seja o mesmo do que ser contra negros (muito pelo contrário), e nem mesmo de que não existam diversas formas de racismo – inclusive as próprias cotas. Mas o que dizer do comportamento dos petistas contrários a condenar mensaleiros? Não há nada a ser comentado?
Uma menina falou em afogar nordestino que vota na Dilma, quase deu cadeia. Uma turma do PT diz que Barbosa não entra na Casa Grande, está tudo ok. Afinal, é pelo partido. E contra os velhos preconceitos da velha elite e da velha mídia. Afinal, se um negro estudou e entrou no STF, não é mérito dele (onde já se viu negro ter mérito?!), e sim o partido de Lula e Dilma que o colocou lá (por ser negro? e colocou o Dias Toffoli lá para quê?).
Assim, se Joaquim Barbosa conseguiu sua “cota”, deve subserviência e parcialidade absoluta ao PT. Sobretudo como juiz do STF. E se passa a condenar petistas citando um cartapácio de provas de mais de mil páginas, é acusado de “capitão-do-mato”, os negros que perseguiam negros fugitivos na escravatura (mesmo que Barbosa não esteja perseguindo pobres, e sim a elite mais dominante do país há uma década).
Não foi nem o típico “racismo a favor”, como aquele da Carta Maior, que acha que talento de negro é escola de samba e futebol. Foi o racismo declarado: se é negro, deve nos obedecer, porque, supostamente, somos o único partido que defende negros. Estranho: além da injúria racial, os petistas estão cada vez mais desabridos para falar que indicam ministros pro STF “não para apenar como estão apenando”, Ora, juiz do STF não está lá para julgar? Para haver separação entre poderes? Ou o PT o colocou lá para não apenar, não importando o ilícito cometido? (a família do Celso Daniel deve confiar mais na segunda hipótese).
Para piorar, por que só conseguem olhar para Joaquim Barbosa pensando: é um negro? Não conseguem enxergar seres humanos independentemente de cor de pele, tal como alguns (inclusive da “classe média conservadora”) enxergam? Tal como existem cores e tipos de cabelo, altura, massa corporal, espinhas ou timbres distintos de voz (todos passados geneticamente, e mais dominantes em uma etnia do que em outras), e é possível olhar para uma pessoa, gostando dela ou não, sem pensar: “aquela morena de cabelos ondulados, um pouco alta, massa corporal tipo ‘cheinha’, baixa incidência de espinhas e contralto”, por que não considerar racismo que um dos ministros acusadores seja sempre lembrado como “um negro” quando atacado – por petistas?
Enquanto isso, vamos proibir Monteiro Lobato, ursinho Ted, propaganda de calcinha da Gisele. Mas não petista proibindo Barbosa de entrar na Casa Grande.
Esse é o típico progressismo atual. É o feminismo do olho roxo do Netinho de Paula. É a Marta Suplicy perguntando sobre seu adversário: “É casado? Tem filhos?”. É a preocupação com a hipersensibilidade de alguns, que gera filmes do ministério da Educação (ainda comandado por Haddad) mais vexatórios em sua “conscientização” do que qualquer piadinha já ouvida na Via Láctea. É o tratamento racial igualitário, em que defendemos os negros, e por isso os negros devem nos obedecer e dizer “sim, senhor”. E, claro, os preconceituosos são… os outros.
Mesmo que, para isso, valha até pintar Joaquim Barbosa como um cruel ditador africano:
Ou, num auto-coitadismo que chega a parecer uma confissão, compará-lo a um juiz do Tribunal de Nurenberg:
Não sabemos se melhor ou pior, mas vale até tentar dizer que Barbosa é um… mensaleiro!
Como bem lembrou Vladimir Aras, o pessoal que está cometendo injúria racial contra o ministro Joaquim Barbosa pode precisar de um habeas corpus do STF uma hora dessas.
FONTE:IMPLICANTE BLOG / Flávio Morgenstern / com ajuda no rastro de imagens de Alexandre Gonçalves e do Tumblr Governismo, a doença infantil…
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