Opinião
O
repórter Henrique Massaro esteve na Boca do Jacaré, em Taguatinga, Distrito
Federal, e vivenciou de perto a emoção do acesso para a Série C, vinda após
disputa de pênaltis emocionante
Não
foi exatamente em Brasília, mas em Taguatinga, localizada a pouco mais de 20
quilômetros da capital federal. Mais de 800 torcedores vestidos de vermelho e
preto se espalharam pela cidade. A maioria veio de avião. Mas também de ônibus.
São cerca de 30 horas de viagem e nenhuma novidade no fanatismo rubro-negro. Em
2009, por exemplo, três ônibus saíram de Pelotas com destino a Minas Gerais em
uma das grandes decisões xavantes - uma tentativa frustrada de acesso à série B
do Campeonato Brasileiro.
Em
disputa, desta vez, uma tentativa de retorno à série C. O que não mudava era a
paixão do torcedor. Para estes loucos conhecidos como xavantes, de fato, não há
derrota que os impeça de exercer sua natureza: torcer eternamente pelo Brasil.
No Distrito Federal, ficaram divididos, basicamente, entre dois hotéis, o
Smart4 e o Days Inn - este último a apenas uma quadra de onde estava
concentrada a equipe xavante.
Pelas
imediações dos hotéis, as cores do Brasil podiam ser vistas desde sábado,
quando chegou a maioria das excursões. Em alguns pontos de Brasília, como o
Congresso Nacional, elas também brilhavam. Mas o grande encontro dos torcedores
- o êxtase, a explosão, característica do fanatismo futebolístico - viria no
domingo, horas antes do confronto que determinaria como seria a viagem de volta
e o restante do ano de todas aquelas pessoas.
Em
uma estação de metrô, a colisão de emoções pré-decisão tinha hora marcada. Às
13h30min a festa começava. O trem de acesso ao estádio Serejão não tinha os
passageiros de costume nem um simples local de chegada. Ele transportava
exaltação e seu destino era uma redenção materializada em partida de futebol.
Quando emergiu do subterrâneo e aquele estádio apareceu, o pensamento era um
só. Ali teria de se justificar todas as forças depositadas em um só time.
Nos
90 minutos, a oscilação de ânimos não parava. Com a derrota parcial, como em
qualquer jogo de qualquer time, havia os mais pessimistas, outros mais
enfurecidos e os que tentavam se manter positivos. "Vai dar, eu vi 1985 e
acredito", dizia um xavante de mais idade para um da nova geração, fazendo
referência ao ano em que o Brasil foi terceiro colocado do Campeonato
Brasileiro.
Mas
ali não estava apenas um time e seus torcedores. Era o Grêmio Esportivo Brasil
e seus fiéis seguidores. Pela arquibancada, quando saiu o gol rubro negro, veio
também a exaltação unânime. Os sentimentos voltaram a desequilibrar quando, nas
penalidades máximas, se encontrava a última chance de subir de divisão.
O
olhos embargados, os punhos cerrados e as camisas apertadas junto às centenas
de corações eram constantes durante cada batida. Ao fim da última cobrança, a
explosão final. Foi um soluço único, um choro de toda uma massa. Desta vez,
contudo, as lágrimas não eram por eliminação, rebaixamento ou tragédia. Não. No
dia 19 de outubro de 2014, o choro teve um só nome: acesso.
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