Homem tentou vender cópia para o ‘Estado’ em SP; MEC confirmou que questões eram originais
O vazamento da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) levou o Ministério da Educação a cancelar na madrugada desta quinta-feira, 1º, a prova, que seria aplicada no fim de semana para 4,1 milhões de candidatos em 1,8 mil cidades do País.
A decisão foi tomada pelo ministro Fernando Haddad após ter sido alertado pela reportagem do Estado - Renata Cafardo e Sergio Pompeu - sobre a quebra do sigilo do exame. "Há fortes indícios de que houve vazamento, 99% de chance", afirmou o presidente do Inep, Reynaldo Fernandes, por volta da 1h, por telefone.
Na tarde de quarta-feira, 30, o jornal foi procurado por um homem que disse, ao telefone, ter as duas provas que seriam aplicadas no sábado e no domingo. Propôs entregá-las à reportagem em troca de R$ 500 mil. "Isto aqui é muito sério, derruba o ministério", afirmou o homem.
O Estado consultou rapidamente o material, para checar sua veracidade, sem se comprometer com a compra. Haddad, que diz nunca ter tido acesso ao conteúdo da prova, confirmou o vazamento ao consultar técnicos do Inep, órgão do ministério responsável pelo Enem.
A comprovação da fraude se baseou em elementos repassados ao ministro pela reportagem, via telefone e e-mail. As questões originais estavam guardadas em um cofre, que foi aberto ontem à noite para confirmar a informação.
No exame que o Estado teve acesso, a prova de linguagens e códigos, que seria aplicada no domingo, tinha na questão número 1 uma tira da personagem de história em quadrinhos Mafalda. Na folha seguinte, o exame reproduzia uma bandeira do Brasil com a área verde parcialmente suprimida, simbolizando o desmatamento. A imagem lembra uma campanha publicitária famosa da organização não governamental SOS Mata Atlântica. Embaixo dela, a prova tinha a seguinte frase: "Estão tirando o verde de nossa terra."
Em outro trecho do exame, também no alto, à esquerda, os examinadores usaram no enunciado o poema Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, aquele que começa com os versos "Minha terra tem palmeiras/onde canta o sabiá". As questões da bandeira e do poema foram confirmadas pelo MEC como originais.
Outro trecho literário usado no Enem tinha o verso de Carlos Drummond de Andrade: "No meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho". Mais adiante, a prova reproduzia um texto da revista Veja sobre o filme Touro Indomável, de Martin Scorsese. Outro personagem usado no Enem era o gato Garfield. O programa de mensagens instantâneas MSN é mencionado em uma das questões.
O encontro no qual o Estado viu trechos da prova aconteceu ontem à noite, na zona oeste de São Paulo. O homem que telefonou para a redação estava acompanhado de outra pessoa. Eles disseram ter recebido o material na segunda-feira, de um funcionário do Inep. Afirmaram que o esquema de fraude tinha cinco pessoas. "Ninguém aqui é bandido, ninguém tem ficha na polícia, nós dois temos emprego", disse o homem. Ele afirmou que recebeu o material "de Brasília, de gente do Inep, do MEC". Disse que viu na situação a oportunidade de ganhar dinheiro. "Não tenho motivação política." Ele afirmou que procurou um advogado para orientá-lo. "Registramos em cartório cópias das provas."
Seu companheiro, mais incisivo, cobrou o tempo todo da reportagem uma posição sobre o pagamento dos R$ 500 mil. "Isto aqui é muito grande, eu não quero correr o risco de morrer por nada." Diante da negativa da reportagem, ele se impacientou. "A gente vende isto aqui até por mais dinheiro", disse,
revelando a intenção de procurar emissoras de TV.
revelando a intenção de procurar emissoras de TV.
O Estado de S. Paulo
2- Prejuízo com o vazamento da prova do Enem pode chegar a R$ 34 milhões
O ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira, em Brasília, que o prejuízo com o vazamento da prova do Enem será de 30% do valor total do contrato, que custou R$ 116 milhões, segundo a pasta. Dessa forma, a perda estimada é de aproximadamente R$ 34 milhões --valor apenas das impressões. Não se sabe ainda quem deve assumir esse prejuízo.
Em decorrência do vazamento das informações, o ministro decidiu adiar a aplicação da prova, que aconteceria neste fim de semana. Ainda segundo Haddad, o MEC já possui uma segunda prova do Enem para substituir o exame que vazou, mas o material ainda precisa ser impresso. A expectativa é que a prova aconteça dentro de 30 a 45 dias.
O ministro informou que as investigações sobre o vazamento da prova do Enem devem começar no Estado de São Paulo devido à denúncia ter partido do Estado e pelo fato de a prova ter sido mantida dividida até a fase de impressão, que aconteceu em uma gráfica de São Paulo.
Apesar disso, o ministro destacou que todo o processo de desenvolvimento da prova será analisado. O inquérito foi aberto pela PF (Polícia Federal) na manhã de hoje.
Ainda segundo Haddad, as provas do Enem estavam no fim da fase de impressão e já eram distribuídas em algumas regiões. Toda a região Norte já estava abastecida, por exemplo, e os últimos lotes seriam distribuídos em São Paulo. São 10 mil pontos de prova em todo o Brasil.
Folha Online
Folha Online
3- Estudantes protestam no centro do Rio contra vazamento da prova do Enem
Pelo menos cem estudantes secundaristas protestam contra o cancelamento das provas do Enem (Exame Nacional do ensino Médio) na tarde desta quinta-feira em frente a Câmara dos Vereadores, na Cinelândia, centro do Rio. Os testes foram adiados hoje, após suspeita de fraude.
Com os rostos maquiados, narizes de palhaços, apitos e cartazes, os jovens pedem respeito em meio à desconfiança que foi gerada com a situação. A Polícia Militar acompanha a ação dos estudantes, que gritam por "Justiça" e afirmam que foram prejudicados pelo governo.
Folha Online
Com os rostos maquiados, narizes de palhaços, apitos e cartazes, os jovens pedem respeito em meio à desconfiança que foi gerada com a situação. A Polícia Militar acompanha a ação dos estudantes, que gritam por "Justiça" e afirmam que foram prejudicados pelo governo.
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