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sábado, dezembro 01, 2012

Jovens negros: aspectos relevantes de discriminação racial


É necessário equilibrar o jogo de poder. 
Temos de fazer valer nossa maioria, 
pois o racismo ainda produz invisibilidade
 da população negra na
 disputa dos rumos do país.

Para pensar a juventude negra, de largada temos de entender em que contexto esse grupo social está inserido na história, pois sua condição atual está intimamente ligada ao que foi forjado ao longo dos anos após a “abolição”. A juventude negra vive sob um legado de discriminação com ações históricas de marginalização e exclusão dos postos de trabalho. Um exemplo disso foi o apoio à vinda da mão de obra imigrante no período inicial do processo de industrialização do Brasil. Com isso, nos anos 1940 houve um movimento de cotas para brasileiros nas empresas nacionais, exigindo maior participação dos locais nas empresas. Entretanto, é notório que se optou pela exclusão da mão de obra dos afrodescendentes do mercado de trabalho e da vida social brasileira.

Da mesma forma, devemos jogar luz no fato de que o Brasil forjou, com muito empenho de sua elite, a diminuição drástica do número de afrodescendentes em relação à população total. Fez isso com diversas ações públicas, utilizando a máquina estatal por meio de políticas de higienização, embranquecimento racial e precarização da moradia, dificultando o acesso a serviços básicos, financiando a vinda dos imigrantes na procura de alijar os negros da manutenção de sua sobrevivência. Soma-se a isso o fato de que a educação notadamente evidencia a contribuição europeia na construção da nação em detrimento dos demais aportes históricos dos indígenas e africanos. Por isso, o movimento negro lutou pela alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, instituindo a Lei n. 10.639/03, que obriga a inclusão da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo oficial da rede de ensino.

Além da exclusão do sistema econômico, a marginalização se estabelece em ações de criminalização. O sujeito negro é continuamente parado e assediado pela polícia por todo o país em revistas que não cumprem o básico direito de ir e vir garantido na Constituição. Um dos fatores que geram essa violação é que seus traços são associados à representação do tipo marginal. Foi criado o estereótipo que legitima mortes por atos infracionais muitas vezes duvidosos, como os casos de resistência à prisão seguida de morte. Procedimento herdado da ditadura, quando se podia matar um criminoso por estarmos em estado de conflito contra insurgentes que queriam tomar o país, para a população negra esse recurso está em uso até hoje. Essa anistia, fornecida pelo Estado às corporações policiais como uma espécie de carta branca, aplica-se a todos os tipos de inquérito. É de causar estranhamento como isso ocorre, sem exceção, com jovens negros moradores da periferia. Assim, esse quadro deixa dúvidas sobre se o combate às drogas é o melhor caminho a tomar na luta contra o crime nas periferias, pois as mortes são justificadas em grande medida ao se caracterizar as vítimas como traficantes ou ladrões − muito no sentido de tranquilizar a consciência da sociedade, que assiste a tais crimes como diversão nas telas de televisão. Em complemento, as mulheres negras e jovens vêm morrendo por, em razão da discriminação, não terem seus direitos garantidos à saúde pública de qualidade. Ainda no governo Lula, o ministro da Saúde admitiu que, no Sistema Único de Saúde, muitas mulheres morriam por não terem seu pré-natal feito com qualidade e atenção devidas, por serem negras. Essa é a razão que fundamenta a afirmação, por parte do movimento negro, de que está em curso um processo de genocídio da juventude negra no Brasil.

Equilibrar o jogo de poder

Por isso a juventude negra e o movimento negro organizam-se para lutar contra os estereótipos fortalecidos pelos meios de comunicação e educação racistas. É necessário equilibrar o jogo de poder. Temos de fazer valer nossa maioria, pois o racismo ainda produz invisibilidade da população negra na disputa dos rumos do país. Precisamos ter, além de sindicalistas, membros do movimento negro no Legislativo. Devem-se garantir eleições em que o capital não se torne o diferencial. Por outro lado, avaliamos que, na última eleição, houve sinais de mudanças pelo país. Elegemos alguns vereadores comprometidos com nossas causas, além dos que já tínhamos. Ainda temos o desafio de chegar de maneira mais efetiva ao Congresso e ao Executivo. Devemos pretender alcançar o patamar de metade de negras e negros no poder, considerando a proporcionalidade da população brasileira. Não convivemos harmoniosamente como pregam, mas estamos na luta para vencer a camuflada cultura racista brasileira.

O racismo no Brasil cria lugares para nos abater, espaço para nos limitar e um mundo para nos devorar. A juventude negra faz diferença ao se lançar ao mundo, mesmo que este seja tão desigual e perverso, cheio de caminhos sinuosos e perigosos. Construímos, educamos, ensinamos, cantamos, amamos e não atacamos ninguém com tantas armas e balas que estão apontadas para nós. A elite branca pretende ver nosso fim, mas somos amor, somos história, somos legítimos vencedores de um jogo de cartas marcadas.

FONTE: DIÁRIO LIBERDADE / Gerson Sergio Brandão Sampaio é membro da Articulação Política de Juventudes Negras. / Samoury Mugabe Ferreira Barbosa é membro da Articulação Política de Juventudes Negras.

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