O Presidente do Sudão, Omar Al-Bechir, é o vencedor antecipado das próximas eleições gerais que decorrem de 11 a 13 de Abril no Sudão. Se a sua vitória era previsível desde que foi anunciado o escrutínio, a recente decisão da oposição de boicotar o escrutínio tornou essa previsibilidade numa realidade absoluta.
Alegando que não tiveram resposta os seus apelos no sentido de conseguir garantias de que as eleições decorrem com absoluta transparência, os principais lideres da oposição entregaram o antecipado triunfo do escrutínio ao actual presidente Al-Bechir, um líder que continua a desafiar as grandes potências internacionais que exigem o cumprimento de um mandato de prisão que contra ele foi emitido pelo Tribunal Penal Internacional sob a acusação de ter cometido “crimes contra a humanidade”.
Impedido pela França de viajar para Paris onde participaria numa cimeira franco-africana, Al-Bechir beneficia de um inquestionável apoio no interior do seu país, que aumentou depois de há cerca de dois meses ter conseguido um acordo de cessar-fogo com forças rebeldes do sul do país, na região de Darfur.
Depois de 24 anos sem a realização de eleições, a população sudanesa depositava grandes esperanças num pleito que possibilitasse a criação de uma corrente política forte de oposição a Omar Al-Bechir, que poucos duvidavam seria reempossado no seu cargo. Essa corrente seria determinante para que a própria população pudesse ver discutidas, politicamente, algumas das suas reivindicações sociais.
Porém a verdade é que a desistência da corrida às eleições por parte das formações da oposição, sobretudo o Movimento Popular de Libertação do Sudão, com forte implantação na região de Darfur, foi encarada pela população como tendo sido uma traição à confiança que neles depositava.
O período que se seguiu ao anúncio da desistência foi imediatamente aproveitado pelas forças afectas a Al-Bechir que lançaram na imprensa local uma campanha que tenta estabelecer uma ligação entre a oposição e as grandes potências internacionais que tudo têm feito para desprestigiar e minimizar a importância das eleições.
De acordo com essa campanha, o Movimento Popular de Libertação do Sudão teria sido seduzido pelos Estados Unidos e pela França para participarem num plano que visa desacreditar o processo e o inerente resultado das próximas eleições.
Internamente, porém, a oposição saiu extremamente fragilizada de todo este processo uma vez que a população do Sudão continua determinada em recusar qualquer tipo de interferência externa na solução dos seus problemas. A população acreditava que a oposição iria aproveitar as eleições para reforçar as suas posições políticas e dirimir, em sede própria, as diferenças que têm para com o poder.
Fontes diplomáticas na capital do Sudão acreditam que os apelos de boicote lançados pelas forças da oposição serão ignorados pela população que está entusiasmada com a perspectiva de voltar a votar ao fim de 24 anos.
Essas mesmas fontes acreditam que Omar Al-Bechir pode, mesmo, tirar grande vantagem do facto de concorrer sozinho ao pleito eleitoral bastando-lhe para isso manter um discurso abrangente, em tom de reconciliação e de cariz marcadamente nacionalista. Este seu reforço interno ajudaria a projectar a sua desgastada imagem junto do Ocidente por força do referido mandato internacional de captura.
Contando com o apoio da Liga Árabe e da União Africana, Al-Bechir tem evidenciado algum distanciamento quanto à importância da próxima cimeira franco-africana que decorrerá em Paris e na qual está impedido de participar por decisão unilateralmente tomada pela organização francesa do evento.
Este distanciamento é entendido como uma forma de pretender evitar a criação de facções no seio da União Africana, que até ao momento tem evitado pronunciar-se publicamente sobre o assunto aguardando por uma clarificação sobre a forma como decorrem as eleições no Sudão.
Porém, é quase certo que após as eleições o Presidente do Sudão decida falar sobre este tema e obrigar, por via disso, a organização a pronunciar-se sobre se aceita, ou não, a imposição, por parte da França, de quais as personalidades que podem estar presentes na cimeira em representaação do continente africano.
Há dois anos a União Africana impôs a participação de Robert Mugabe na cimeira de Lisboa entre países da Europa e de África, contra a vontade da Inglaterra e de alguns outros países europeus, alegando que a ausência do Presidente do Zimbabwe levaria a que outros Chefes de Estado decidissem boicotar a reunião numa previsível manifestação de solidariedade.
Para já, porém, as atenções estão centradas nas eleições que decorrem no Sudão entre os dias 11 e 13 deste mês. Tudo o que vier a acontecer depois é, apenas, o resultado de uma ampla estratégia política que ultrapassa largamente as fronteiras deste país.
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