Quem são os indígenas brasileiros e vizinhos de continente? Quantos são e como se enxergam? Será possível aproximá-los e compreender suas aspirações comuns? Para buscar respostas a estas e outras questões, especialistas brasileiros e latino-americanos se reuniram no fim do mês passado em Manaus, no Seminário Latino-Americano de Demografia e Saúde dos Povos Indígenas.
O encontro não contou com a participação de representantes de países em que a presença indígena é mais marcante: Bolívia, Peru e Nicarágua. Ainda assim, seus resultados foram considerados proveitosos pelos organizadores, destacando-se um tema em especial: a autodeclaração da condição indígena.
De acordo com dados do IBGE, em 1991, o percentual de índios em relação à população total brasileira era de 0,2%, o equivalente a 294 mil pessoas. Em 2000, esse percentual subiu para 0,4% da população, ou 734 mil pessoas que se declararam indígenas no recenseamento.
Outros fatores também podem ter interferido, como o crescimento vegetativo, embora por si só não seja capaz de explicar o fenômeno, e a imigração internacional de países limítrofes com alto contingente de população indígena. Mas o fato é que a população indígena ganha visibilidade a cada ano e, no censo deste ano estão incluídos itens como etnia, língua, localização geográfica e outras características.
“Existem muitas justificativas para este crescimento acentuado das populações indígenas de um censo para outro”, explicou o coordenador do seminário internacional, Pery Teixeira, da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep): “Uma delas é que em 1991 só foram visitados grupos indicados pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Em 2000 foi muito ampliada a pesquisa”.
Muitos são, também, os fatores desta “descoberta” da população indígena, como sua interação com organizações não governamentais, maior atenção dos governos, a inserção no meio urbano e a afirmação econômica nas próprias aldeias, entre outros, conforme destacaram os pesquisadores na capital amazonense.
Pery Teixeira lembrou que a categoria indígena foi incluída no censo de 1991, embora a investigação da cor no primeiro levantamento censitário realizado no Brasil tenha ocorrido em 1872: “Anteriormente, essa parcela da população se classificava em outras categorias. Ao longo do tempo, muitos pesquisadores tiveram grandes dificuldades para identificar os índios, pois muitos deles têm preconceitos. Mas, aos poucos, estamos vendo que eles estão se declarando”, ressaltou.
A substituição da observação do recenseador pela declaração do próprio entrevistado ajudou ainda a vencer outra barreira, a do desconhecimento de quem aplica a entrevista sobre as características menos óbvias da população. Por isto, também, os estudiosos reunidos em Manaus esperam novo crescimento significativo na população indígena no próximo censo.
FONTE: AGÊNCIA BRASIL
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