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segunda-feira, julho 16, 2012

COMUNICADO ESPECIAL CNG/ANDES-SN


O movimento de greve resultou da indignação e reação por parte da categoria frente às condições de trabalho, a desestruturação da carreira e ao aviltamento salarial impostos no interior da Instituição Federal de Ensino-IFE ao longo das duas últimas décadas, resultado das políticas  econômica, educacionais e de ciência e tecnologia que incluem a subordinação da produção do conhecimento e dos processos de  formação aos interesses mercantis.
Na maior greve das Instituições Federais de Ensino - IFE na história de nosso país, os docentes lutam pela pauta de reivindicações definida na base do ANDES-SN. A greve é forte, inclusive em alguns locais onde as bases derrotaram direções que não queriam a greve nem enfrentar as ações governamentais que retiram direitos dos docentes.
A força da greve adquiriu proporções que ultrapassaram os muros das IFE e fez a sociedade perceber a gravidade da situação em que se encontram as IFE e, por conseguinte, a legitimidade das nossas reivindicações. Isso resultou na ampliação do apoio social  a esta luta que, para além da defesa de uma carreira docente e  de  melhores condições de trabalho, pauta para a sociedade a defesa da educação pública de qualidade no país.  O movimento grevista tem pressionado cada vez mais o governo, forçando-o ao processo de negociação com a categoria, tendo apresentado uma proposta no último dia 13.
Além disso, a força da greve e a intensificação da mobilização na base, através de atos públicos, debates, marchas nacionais, atividades no parlamento, unidade de ação com o setor da educação e os demais servidores públicos, reuniões com alto escalão do governo e entrega de carta a presidenta da república, dentre outras, geraram  desgastes e agravou a situação do governo, forçando-o a se movimentar no marco de uma greve forte. O momento exige avaliar não só a força de nossa greve, mas não desconhecer a capacidade de ação do governo que se vale da troca favores com o grande capital, o parlamento, a mídia, e políticas populistas e age diante do conflito para, ao responder ao movimento, manter seu projeto estratégico para o serviço público e para as IFE. 
A proposta apresentada no último dia 13, que não atende as reivindicações de nossa greve, atesta o projeto mais amplo do governo para a sociedade brasileira.
Diante do quadro econômico internacional, usado pelo governo como justificativa de suas políticas contencionistas, da crise política pela qual passa o país e da força da nossa greve, o governo encena uma iniciativa frente  à sociedade  ao apresentar à mídia  uma proposta, de modo falacioso e  antes mesmo de apresentá-la oficialmente ao movimento, tentando jogar a opinião pública contra o movimento.
Mesmo o governo tendo sido forçado a responder ao movimento, a proposta por ele apresentada não atende às nossas reivindicações, pois está orientada pelos interesses do projeto macroeconômico de estado, que diminui gastos com políticas públicas,  apresenta uma organização do trabalho docente coadunado com os pressupostos organizativos da reforma gerencial em  curso no Estado brasileiro, em especial no que se refere às determinações produtivistas e às designações externas às instituições, subordinando-as ainda mais aos processos e interesses mercadológicos.
Além disso, a proposta  do governo consolida alterações estruturais na organização do trabalho docente,  adequando-o  às  exigências de um  “novo” padrão de instituição de ensino superior, cujo papel social prioriza  a  formação imediata da força de trabalho, reduz esta formação ao ensino e distancia a perspectiva de integração  e indissociabilidade  com  a pesquisa e  a  extensão, ao mesmo tempo em que favorece  os processos de privatização. Ações já em curso nas universidades e nos Institutos Federais confirmam essa orientação fragmentadora dos processos institucionais e de bloqueio ao efetivo desenvolvimento da indissociabilidade prevista e necessária à formação superior de qualidade.
A desestruturação iniciada com a implementação das gratificações em 1992, com a criação da GAE (Gratificação de Atividade Executiva)  – Lei 13/1992, de 27 de agosto de 1992  - gratificação calculada a partir de percentual fixo sobre o vencimento básico, posteriormente qualificada a partir da introdução de critérios produtivistas pela criação da GED (Gratificação de Estimulo à Docência), para a carreira de magistério superior, através da Lei 9.678, de 3 de julho de 1998 e da criação daGID (Gratificação de Incentivo à Docência) para a carreira de magistério de 1º e 2º graus por meio da Lei no 10.187, de 12 de fevereiro de 2001 – se aprofundou na última década com a introdução de novos elementos que descaracterizaram a estrutura de carreira e de malha salarial.
A criação da Classe de Professor Associado (Lei 11.344, de 8 de setembro de 2006), a desvinculação do adicional de qualificação (aperfeiçoamento, especialização, mestrado e doutorado) do Vencimento Básico e sua transformação em uma Retribuição por Titulação (Lei 11.784, de 22 de setembro de 2008), hipervalorizando o incentivo de doutorado para os docentes associados da carreira de Magistério Superior e para os docentes das classes DIV  e DV  da carreira de EBTT, promoveram a quebra da isonomia, a diferenciação interna entre ativos e aposentados, entre recémingressos na carreira docente e docentes mais antigos.
A mesma lei (11.784/2008), que reestruturou a carreira do Magistério Superior, criou a Carreira de EBTT, repercutindo nela os mesmo problemas da Carreira do Magistério Superior. Além disso, criou obstáculo na progressão por titulação, pela omissão em sua regulamentação, nos termos previstos na própria lei.
Tudo isto, somado a outros elementos impostos aos docentes, intensificou a individualização do trabalho e dos processos institucionais.
Dentre os elementos da proposta apresentada pelo governo que consolidam o processo em curso destacamos: a desestruturação da carreira e da malha salarial; a desvalorização salarial; a ampliação da heteronomia e da intensificação do trabalho docente, determinados pelos critérios de progressão e promoção; a consolidação do produtivismo, do empreendedorismo, do individualismo e da competitividade; e a quebra de isonomia entre ativos e aposentados. Trata-se de uma das peças decisivas e fundamentais para a consolidação da contrarreforma universitária.
A malha salarial implícita nos valores apresentados nas tabelas desvenda uma desestruturação salarial e a desvalorização salarial diferenciada para as diferentes classes, que impõe aos docentes uma quebra de identidade enquanto trabalhador docente. Isso se expressa de forma mais clara nos diferentes percentuais de reposição que, para além da não recuperação das perdas inflacionárias prevista para o período de 2010 a 2015, incidem, de forma diferenciada, nas classes e nos níveis, sobretudo em relação à retribuição por titulação: apresenta projeção de eventuais “ganhos” apenas aos docentes no topo da carreira (professor titular) em 2015, congela salário para algumas classes e determina perdas para outras, além de reforçar o represamento no acesso  ao topo da carreira.
A proposta para  avaliação do trabalho não só intensifica a heteronomia como também incide negativamente sobre o trabalho coletivo nas IFE, pois se centra no “desempenho individual” e o submete a um agente externo, sem conexão ao projeto institucional que deveria ser construído pela comunidade acadêmica de forma democrática e vinculado a uma avaliação institucional que nortearia a avaliação docente para progressão na carreira.A subordinação da avaliação do trabalho docente, na proposta do governo, para efeitos de progressão e promoção, a critérios definidos pelo Ministério da Educação e Órgãos de Fomento de pesquisa e tecnologia, generaliza para o conjunto do trabalho docente o processo já experimentado nos programas de pós-graduação em sua relação com a CAPES, o qual tem resultado na intensificação do trabalho, no produtivismo acadêmico e  na  ampliação da heteronomia, o que afronta diretamente a autonomia universitária.
No mesmo sentido, subordinar as atividades de pesquisa, ensino e extensão a critérios externos – que também está presente no projeto do governo, através da Retribuição por Projeto (RP) – consolidará a “editalização” da vida acadêmica já em curso e viabilizada pelas Fundações Privadas ditas de Apoio.
O processo de “editalização” da vida acadêmica, ou seja, a organização do trabalho docente, nas dimensões  de pesquisa, ensino e extensão, a partir de financiamento obtido fundamentalmente através de editais de financiamento dentro e fora da universidade, se consolidará por meio da inclusão da RP na carreira docente.
A intensificação do trabalho se evidencia na combinação de duas exigências concomitantes como critério para progressão na carreira. Desconsiderando o que está na LDB, mínimo de 8 horas aula, o governo quer arbitrar em 12 horas aula o mínimo para o Magistério Superior e remete ao MEC a definição do mínimo para a EBTT, sem levar em conta as múltiplas realidades em cada IFE, unidade curso ou departamento. Além disso, impõe a implantação de um sistema de avaliação individual de cunho produtivista objetivada em um escore de pontos, no qual o índice de 70% foi arbitrado para aprovação.
Além disso, a proposta mais uma vez incide sobre os aposentados ao cristalizar, na transposição da carreira, as perdas que eles sofreram ao longo dos anos com a implementação de mudanças, como:
A criação de gratificações das quais eles foram excluídos  e a inclusão de nova classe de professor associado, cujo acesso lhes foi negado, quebrando a isonomia. O conjunto dessas ações complementa a contrarreforma de previdência por dentro da carreira docente para os que não foram atingidos pela contrarreforma “oficial”.
Por fim, a proposta do governo quebra a solidariedade de classe, na medida em que força a categoria a uma divisão interna, classificando-a em segmentos por tipos de trabalho e modalidades de desenvolvimento na carreira.
Nesse cenário, o governo buscará, a partir do apoio dos seus aliados no movimento sindical e no interior das instituições, dividir o movimento grevista e ganhar a opinião pública, apresentando dados distorcidos e falaciosos, gerando confusão e desfocando o cerne do debate em torno das nossas reivindicações.
O GNG/ANDES-SN avaliou o quadro e considera que a greve entra em um novo momento, e este decisivo, cujo centro é: dar sequência ao enfrentamento, num patamar superior de compreensão e crítica à posposta do governo; cerrar fileiras no movimento paredista avançando na paralisação de maior número de atividades nas instituições; intensificar o diálogo com a categoria e a sociedade; desmistificar a proposta do governo, destacando seu significado de consolidação dos retrocessos já existentes em nossa carreira, na desestruturação e desqualificação de nossa remuneração, na legalização da intensificação do trabalho que precariza as condições do seu exercício. Isto contribui para o fim do caráter público das instituições de ensino federal neste país.  A tarefa é manter e radicalizar a greve. Nesta semana, isto significa intensificar o movimento e desmascarar a proposta do governo.

A GREVE É FORTE! A LUTA É AGORA!
Brasília 15 de julho de 2012
CNG/ANDES-SN

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