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domingo, setembro 09, 2012

Emicida e Criolo gravam primeiro DVD


Criolo e Emicida são hoje duas das vozes mais representativas da música feita no Brasil. Formados na escola do rap, os dois gravam hoje juntos em São Paulo o primeiro DVD de suas carreiras.

Eles e seus músicos, além dos cantores Rael da Rima e Juçara Marçal, apresentam um show que será registrado por 40 câmeras.

O DVD, que deve sair em 2013, é coprodução da Natasha Filmes, de Paula Lavigne, com a Conspiração Filmes. Paula divide a direção com Andrucha Waddington e Ricardo Della Rosa.
A gravação marca um momento de crescimento dos artistas, responsáveis por levar o rap, cada um à sua maneira, a novos patamares de reconhecimento. Tanto Criolo quanto Emicida fizeram turnês internacionais neste ano.

Folha registrou conversa entre os dois, no Laboratório Fantasma, escritório do selo musical de Emicida, na zona norte paulistana, sobre música, cultura e política.


Folha - Falem sobre a palavra periferia, tão presente na raiz do rap e que em ano eleitoral é uma das mais ouvidas nos discursos dos políticos.



Criolo - Fico me perguntando até quando a periferia vai ser usada como fetiche de propaganda eleitoral. E a palavra política, como é que ela chega às pessoas? Será que é para todos a compreensão de que política é o modo de cada um agir em relação ao todo, será que o bem alimentado e o que sonha em comer entendem da mesma forma?


Emicida - Há um trabalho sistemático para afastar a periferia da prática política, e isso é feito divulgando a ideia de que política é apenas sinônimo de corrupção. Fora os absurdos, tipo Celso Russomanno dizendo que ama a periferia, o mesmo cara que fazia parte do "Aqui Agora", um programa que passava uma imagem lamentável dos moradores de periferia.

Criolo - Crescemos entre mazelas, mas o pouco de arte que nos davam, um grafite que a gente via, uma música que alguém mostrava, isso ajudava a abrir nossos olhos para algo maior, embora não acabasse com o sofrimento. Mas também existe o escravo pós-moderno, aquele que vive numa embalagem bonita mas não consegue enxergar a realidade.

Emicida - A ação do hip-hop nesse processo vai além de ser DJ, fazer grafite, rimar ou dançar. É uma espécie de educação para a igualdade acima das diferenças. Xis, Racionais, DMN, Sistema Negro, toda essa geração que falou com a gente ajudou a difundir essa ideia.

Criolo - O rap já tem seus clássicos e nós não somos ruptura nessa história. Somos continuidade, e o que estamos fazendo agora só poderá ser analisado no futuro. É surreal para mim, aos 24 anos de carreira, ter ido agora para Europa e para os Estados Unidos, participar da construção criativa de uma música mundial com as coisas que aprendi. Mas tem de deixar claro que, apesar de muita coisa ter melhorado, a gente está fazendo o bagulho na raça, depois de cada festival a gente sobra cheio de boletos de dívidas a pagar, a luta para divulgar nossa música segue.

Emicida - É difícil explicar um país que se orgulha de uma certa imagem do índio e da miscigenação mas mata índios e discrimina negros, nordestinos. Que reconhece a cultura da periferia, mas assiste às favelas queimarem como se não fosse nada.

Criolo - A cultura é tratada como algo vazio, cultura de quê, cultura para quem? Veja o caso da sua prisão [Emicida foi detido após show em Belo Horizonte, depois de criticar a violência policial e se posicionar a favor de um movimento de ocupação], preso por se expressar. Na defesa de uma ideia, nessa vontade louca de estabelecer comunicação, há barreiras.

Emicida - Nessas horas a gente questiona se nossa democracia não é de isopor.

Criolo - Sim, mas por outro lado viajamos o Brasil, e o que eu vejo é cada vez mais gente sem arrogância, jovens que se aproximam de nós e da nossa música querendo somar, querendo fazer a diferença.

FONTE: VIVIAN WHITEMAN / COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

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