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quinta-feira, novembro 29, 2012

‘O governo tenta nos transformar em agressores em vez de vítimas’













A holandesa que faz parte das Farc explica motivos que levaram guerrilheiros às armas


Tanja Nijmeijer se levanta da mesa para ir embora, com mais um um cigarro na mão. É noite de terça-feira e seu rosto mostra uma expressão atormentada, a mesma da segunda-feira durante as seis horas de entrevista.


- Estou cansada de ter que me defender constantemente - diz a representante holandesa das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) nas negociações de paz. - É importante que se entenda por que pegamos em armas e que na Colômbia existe uma guerra que produz mortes. E sim, às vezes cometemos erros.

Tanja, de 34 anos, nasceu em Denekamp (Holanda) e é a segunda das três filhas da família. Em entrevista ao “El País”, ela conta, cheia de ardor, como é sua vida nas Farc, a organização guerrilheira que faz parte desde 2002. E se parece muito surpresa com o interesse da mídia.

- Eu gostaria que eles prestassem mais atenção às condições de vida das pessoas. Não seria muito mais importante do que falar de mim?

O caminho que levou Tanja à guerrilha colombiana foram dois acontecimentos vividos em 2001, durante o período que viveu no país. O primeiro foi uma visita a um bairro pobre da cidade de Pereira. Seu acompanhante lhe disse que teriam que sair de lá às 21 horas, porque as pessoas iam dormir.

- Quando perguntei a um vizinho do bairro porque ele foi para a cama tão cedo, ele disse que os paramilitares poderiam considerar como criminoso alguém que andasse a essa hora na rua e matá-lo com um tiro. Isto é chamado de limpeza social na Colômbia.

O outro incidente ocorreu em Bogotá. Ele foi visitar Ciudad Bolívar, um bairro gigante de favelas ao sul da capital. Depois a levaram para o Centro Andino, o centro comercial da elite do norte da cidade. O contraste era muito doloroso. Tanja mergulhou na história da Colômbia, buscou os contatos certos no país e entrou na guerrilha. - Para mim, ficou claro que a democracia na Colômbia só existia no papel. E assim permanece até hoje.

Alguns pensam que as Farc recorrem a você - uma mulher ocidental, inteligente e eloquente- para melhorar sua imagem.

Tanja Nijmeijer: Me incomoda ouvir que sou parte da campanha de comunicação das Farc. O que queremos é contar a nossa visão das coisas. O governo colombiano colocou muitas dificuldades na minha participação nas negociações de paz.

As Farc nasceram em 1964. Qual é a sua luta atual?

Tanja Nijmeijer: Os tempos mudam, mas a opressão continua. Nos consideramos um partido político armado, cuja ideologia é baseada no marxismo-leninismo. Essas são as ideias pelas quais lutamos. Queremos fazer reformas radicais. O que nós queremos saber é como podemos participar da política? Disso tratam nossas conversas com o governo.

Pelo jeito que você fala sobre a sua vida nas Farc, parece que não existe guerra. Também clipe que gravaram a impressão é que se trata de uma banda alegre.

Tanja Nijmeijer: E isso é o que somos. Se você não está feliz, não consegue aguentar. São precisamente os momentos mais difíceis que nos inspiram a maioria das piadas.

As Farc são conhecidas por impor penas severas para violações e a pena de morte por deserção.

Tanja Nijmeijer: Quando uma vez liguei escondida para casa, o castigo foi cavar mais de 30 metros e escrever 20 páginas sobre meu delito. Somos um exército e deve haver disciplina. Mas quem nos abandona é um traidor.

Você já assistiu a alguma execução?

Tanja Nijmeijer: Não. Mas já ouvi falar sobre elas.

Você se tornou mais dura ao longo dos anos?

Tanja Nijmeijer: Nós, os guerrilheiros, somos duros por fora, mas macios por dentro.

Você estaria disposta a pedir desculpas para suas vítimas? (Ele olha com raiva)

Tanja Nijmeijer: Há um ditado que diz: “O povo sabe quem são seus algozes”. O governo tenta nos transformar em agressores, em vez vítimas.

Como o objetivo que vocês perseguem é bom, não há nada que seja reprovável?

Tanja Nijmeijer: Eu não tenho que me justificar. A luta é justificada. Estamos em guerra.

FONTE: GLOBO.COM

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