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quinta-feira, janeiro 21, 2010

De qual religião pertence o Estado brasileiro?

A história da formação do Brasil, assim como a dos países de colonização espanhola e portuguesa, teve ao longo dos anos imposições culturais que de certa maneira permanecem arraigadas em nosso cotidiano. Essa imposição cultural acontece de várias maneiras, inclusive no âmbito religioso.


A maior população católica do mundo, ou seja, a brasileira, não se formou por acaso. Religião "oficial" durante mais de cinco séculos, contribuiu para o processo de colonização do europeu, buscando ser a "única" força religiosa em nome de Deus, não só no Brasil, mas em quase todo o novo mundo.


Este processo não ocorreu de forma pacífica, pois ao chegarem encontraram povos indígenas com diversas práticas religiosas, tidas como pagãs pelos conquistadores e, portanto, devendo ser combatidas, num processo de etnocídio em nome da cristianização de milhões de cativos.


Isso ocorre de forma semelhante com as religiões de matrizes africanas, perseguidas, criminalizadas e marginalizadas, motivo ainda hoje de muito preconceito.


O "confronto"  etnocultural que se deu no Brasil tardiamente garantiu o avanço de nos formalizarmos como nação laica, sem caráter religioso, onde o Estado deve respeito às diversas práticas religiosas que compõem a espiritualidade brasileira – num país que se constituiu como uma verdadeira colcha de retalhos cultural.


Mas, somos, na realidade, um país verdadeiramente laico? Não!


Apesar da conquista histórica garantida por diversos movimentos sociais, religiosos e etnoculturais na Constituição brasileira de 1988, constituímos um país com grande preconceito religioso, onde as próprias instituições tidas como democráticas possuem práticas anticonstitucionais e desrespeitosas, como ostentação de símbolos religiosos em repartições públicas, prefeituras, câmaras de vereadores, fóruns, entre outras.


Além disso, nosso calendário possui grande quantidade de datas católicas como feriados, garantindo um certo discurso de unidade nacional que não existe, negando a diferença cultural formadora desta nação.


Até quando seremos capazes de nos intitularmos um país democrático e de liberdade religiosa, se não somos capazes de garantirmos o mínimo de qualquer país laico, o respeito?

FONTE: CORREIO DA CIDADANIA 

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