Além do Dia Nacional de Luta contra a Empresa Brasileira de
Serviços Hospitalares (Ebserh), realizado no dia 3 de outubro, as seções
sindicais do ANDES-SN estão realizando seminários e palestras para debater a
tentativa do governo de privatizar os hospitais universitários. A Associação
dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas (Adua) realizou uma mesa
redonda semana passada e a Associação dos Docentes da Universidade Federal de
Pelotas (Adufpel) vai promover um seminário nesta quarta-feira (31).
A Lei 12.550/11, que criou a Empresa Brasileira de Serviços
Hospitalares (Ebserh), possui alguns “pontos preocupantes”. Essa é a avaliação
de juristas que participaram quinta-feira passada (25) da mesa redonda “Saúde
Pública, Universidade e Ebserh: questões políticas e legais”, promovida pela
Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas (Adua), no
auditório da Faculdade de Estudos Sociais da Ufam.
Na mesa redonda, o procurador federal dos Direitos do
Cidadão, Felipe Augusto de Barros, e a defensora pública federal, Marília Silva
de Lima, analisaram os artigos da legislação e destacaram alguns, que, na
opinião deles, podem ser objetos de futuras contestações judiciais. Contratação
de funcionários temporários, cessão de bens, contrato sem licitação e autonomia
universitária foram alguns temas questionados pelos juristas, durante a
atividade programada para discutir a privatização do Hospital Universitário
Getúlio Vargas (HUGV), por meio da Ebserh.
Organizada pela Adua, em parceria com o Sindicato dos
Trabalhadores do Ensino Superior do Estado do Amazonas (Sintesam) e o Diretório
Central dos Estudantes (DCE), o evento contou ainda com a participação do
presidente do Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CRM/AM), Jefferson
Jezini; do presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam), Mário
Vianna, e do diretor da Faculdade de Medicina da Ufam, Dirceu Benedicto
Ferreira.
Um dos pontos questionados pela defensora Marília Lima foi o
parágrafo 3º do artigo 3º da lei, que assegura à Ebserh o ressarcimento das
despesas com o atendimento de consumidores e dependentes de planos privados de
assistência à saúde. “Se existe a prestação de serviço para pessoas que não
seriam do SUS, isso implica que a União seja ressarcida dos valores do
atendimento desse paciente que possui plano de saúde, o que precisa ser
garantido”, disse. Outra questão levantada por Marília Lima foi o artigo 5º.
“Esse é um dos mais gritantes da lei, pois dispensa a licitação para contratação
[da Ebserh]. Não podemos dizer que é inconstitucional, mas é um ponto
preocupante”, afirmou.
No caso da dispensa da licitação para “contratação da Ebserh
pela administração pública para realizar atividades relacionadas ao objeto
social”, como diz a lei, o procurador federal Felipe Augusto de Barros afirmou
que tal disposição pode gerar futuras contestações na Justiça. “Caso a Ebserh
passe a comprar insumos sem licitação estará errada, porque não é isso que está
lei”, afirmou. Segundo Felipe Augusto de Barros, outro ponto relevante é a
questão da autonomia universitária.
“Formalmente, ela foi respeitada, ao deixar as universidades
decidirem ou não pela adesão. Mas, do ponto de vista político, não é impossível
que aquelas universidades que não aderirem sofram pressões e ameaças.
Entretanto, do lado jurídico, a lei prevê que a universidade que aderir assine
um contrato, mas as atribuições de uma universidade não podem ser delegadas por
um contrato, pois um Hospital Universitário é acima de tudo uma instituição de
ensino que presta serviços de saúde, que devem ficar por conta das
universidades, que zelam pela educação de qualidade, esse é um dever que elas
não podem abrir mão”, disse.
Durante a Mesa Redonda, o presidente do CRM/AM, o presidente
do Simeam, o diretor da Faculdade de Medicina da Ufam e o coordenador geral do
Sintesam, Carlos Augusto Almeida, defenderam a não privatização do HUGV.
De acordo com o presidente da Adua, José Belizario, as
discussões e conclusões levantadas durante a mesa redonda servirão de subsídio
para que professores, técnicos-administrativos e estudantes também votem pela
não privatização do HUGV durante a reunião do Conselho Universitário (Consuni),
marcada para a manhã desta quarta-feira (31), no auditório da Faculdade de
Direito da Ufam.
Pelotas
A Ebserh será debatida nesta quarta-feira (31), às 19h30, no
auditório do Instituto Federal Sul, em Pelotas. As palestrantes do seminário
serão a professora da Universidade Federal Fluminense Cláudia March e a técnica
administrativa Eurídice Almeira. O evento é uma promoção da Associação dos
Docentes da Universidade Federal de Pelotas (Adufpel), da Asufpel e do DCE da
universidade.
Para a Adufpel, a Ebserh instalará uma lógica produtivista
dentro dos hospitais universitários, estabelecendo metas de desempenho, prazos
e indicadores.
Apesar de muitos alegarem que a Ebserh é uma empresa
pública, os termos de seu estatuto deixam claro que a empresa terceiriza a
administração, desvincula os HUs das universidades, é altamente antidemocrática,
guiada por interesses privados, e ofensiva aos pilares da universidade publica:
ensino, pesquisa, e extensão.
Demissões
Os trabalhadores vinculados à Fundação Universitária e que
hoje prestam serviço para o HU deverão ser demitidos e haverá abertura de
processo seletivo para recomposição do quadro de pessoal. O processo seletivo
simplificado previsto na Lei nº 8.745/1993, está regulamentado pelo decreto nº
4.748/2003 e compreende prova escrita e a análise de currículo a partir de
sistema de pontuação previamente divulgado que contemple, entre outros fatores,
a qualificação, a experiência e habilidades.
A Adufpel alerta que não existe nenhuma garantia de que os
funcionários da fundação que forem demitidos sejam contratados pela Ebserh,
pois o processo seletivo simplificado é aberto ao público em geral. Além disso,
nenhum sindicato que possa representar esses trabalhadores está definido no
contexto da implementação da empresa.
“A incoerência da Lei que da Ebserh é tamanha que para
‘regularizar’ a situação dos terceirizados opta-se por impor a todos os
profissionais contratados o mesmo regime precarizante de trabalho que o
Tribunal de Contas da União condenou”, condena a Adufpel.
Os empregados da Ebserh serão contratados pelo regime CLT,
que substituirá o RJU (Regime Jurídico Ùnico). Essa mudança caracteriza o
desmantelamento do serviço publico e o desrespeito com os servidores, os quais,
cada vez mais, perdem força dentro das Universidades.
Fonte: ANDES-SN
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