Eles
fizeram história ao comandar Porto Alegre por 16 anos consecutivos (1989 a
2004) e ajudaram a consolidar o PT no País, deixando legados como o
Orçamento Participativo e o Fórum Social Mundial. Porém, após a retumbante
derrota de Adão Villaverde na disputa pela prefeitura neste ano, obtendo
apenas 76.548 votos (9,6%) - o pior índice da história da sigla no Estado -, os
ex-prefeitos Raul Pont, João Verle, Tarso Genro e Olívio Dutra pregam a
autocrítica e o retorno às raízes para recuperar o prestígio na cidade.
Criticando os próprios correligionários que negam o mensalão, eles cobram
mudanças e o fim da acomodação para voltar à vitrine.
"A
nossa linha sucessória, que vinha se dando ao natural, pela continuidade do
projeto coletivo, passou a ser ideia de alguém, de pessoas e quadros,
contaminando também a militância", avaliou Olívio Dutra, prefeito de 1989
a 1992 e governador do Estado de 1999 a 2002. Segundo ele, o PT precisa se
repensar agora para não ser "engolido pela máquina pública e
partidária".
"O PT não
nasceu de gabinetes, mas hoje há quadros cuja profissão é pular de eleição em
eleição para se manter na burocracia. Assim, começamos a ficar como a velha
política tradicional. Na base do partido existe muita insatisfação com essa
acomodação. Precisamos discutir os reflexos de estarmos sendo, de forma
acelerada, engolidos pela máquina pública e partidária. Não podemos ser o
partido da acomodação, mas da transformação", disse.
Entre as
razões para o fracasso na capital gaúcha, as lideranças petistas apontam
inércia, desunião com a esquerda, disputa interna por espaços, falta de novas
lideranças afirmadas, esgotamento da agenda e distanciamento das raízes
populares e de atuação social. De acordo com eles, o prefeito José Fortunati
(PDT) - filiado ao PT de 1980 a 2002 - se aproveitou disso para fazer
517.969 votos (65,22%), elegendo-se tranquilamente no primeiro turno.
"Esgotamos
a agenda. As três grandes novidades implantadas aqui - participação popular,
inversão das prioridades e cidade global - foram assimiladas e defendidas por
outros partidos. Como O PT não inovou e não renovou, a tendência do
eleitorado é votar num candidato que está mais próximo à realidade política,
normalmente o próprio prefeito. O PT tem que refundar a sua agenda e
reestruturar sua visão de cidade", opinou o governador Tarso Genro, que
foi prefeito de 1993 a 1997 e de 2001 a 2002.
Críticas ao mensalão
Ao contrário de figuras marcantes do PT nacional, como o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, que negam a existência do mensalão, os ex-prefeitos
gaúchos têm posição firme e se posicionam publicamente contra o esquema
criminoso de compra de apoio político, julgado no Supremo Tribunal Federal
(STF). Segundo eles, a campanha de Porto Alegre foi prejudicada pelo
escândalo. Entre os condenados pelo STF estão o ex-presidente nacional do PT
José Genoíno e o ex-ministro José Dirceu, principal apoiador de Lula no
primeiro mandato.
"Uma
das nossas características era a ética e o combate à corrupção. Os fatos
recentes levaram todos a dizer que o PT é igual a todos. Isso afetou bastante o
prestígio e o apoio que tínhamos aqui, influenciou bastante", entende João
Verle, prefeito de 2002 a 2004.
"O
Lula tem dito 'o povo não se importa' e eu acho isso um erro. Depois de umas
pessoas importantes terem negado a existência do mensalão, o PT no Sul teve uma
postura diferente. Porém, não podemos ficar nos insurgindo contra o governo
federal e também sofremos com isso. O povo, que olhava o PT com simpatia,
passou a ter desconfiança. Isso é um patrimônio que precisa ser
resgatado", corroborou Olívio Dutra.
Prefeito eleito em 1996, Raul Pont, atualmente deputado estadual e presidente
da sigla no Rio Grande do Sul, também sinaliza como problemas deste pleito a
inércia e a falta de consenso em torno de um nome que atraísse um grande número
de votos. Ele retirou a sua pré-candidatura no final de 2011 para evitar um
racha.
"Nós
insistimos que, pela dificuldade que teríamos na disputa, era importante um
nome de muita densidade eleitoral. Mas o partido não construiu esse consenso e
agora terá que se debruçar sobre isso. A opção dos eleitores por Fortunati foi
dada por uma inércia e pelo desconhecimento da nossa candidatura, pagamos um
alto preço", afirmou.
Para
Olívio Dutra, "o PT está longe de ter esgotado o seu projeto", mas
precisa voltar a se radicalizar: "Nós fomos reduzindo a nossa radicalidade
e nossas bandeiras foram sumindo. Defendemos coisas permanentes, como
radicalizar a democracia e ir além do bom discurso. Democracia deve ser vivida
no plano econômico, social, político e cultural. Temos de questionar as coisas
pela raiz."
A votação
média da legenda nas últimas eleições municipais foi de 331.578 votos, quatro
vezes maior que o desempenho deste ano. "Acho que houve um certo pecado da
campanha em explicar qual era a nossa crítica e porque somos oposição ao
governo. Não conseguimos ser mais esclarecedores", analisou Raul Pont.
Em 2008,
o PT amargou a derrota de Maria do Rosário no segundo turno, com 327.799 votos,
contra 470.696 de José Fogaça (PMDB), que protagonizou a primeira reeleição em
Porto Alegre, com Fortunati como seu vice. Em 2004, no PPS, ele havia vencido
Raul Pont no segundo turno, com 53,32% dos votos válidos, contra 46,68% do
petista.
FONTE: TERRA. COM / MAURICIO TONETTO - Direto de Porto Alegre
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