Vinícius
Romão, 27 anos, trabalhava em uma loja no shopping (anteriormente atuou na
novela global lado a lado), aluno do último ano de psicologia, negro.
Características que até então poderíamos colocar como exceção, principalmente
em um país onde a grande maioria dos jovens negros não consegue chegar aos 27
anos pela violência policial. Mas infelizmente Vinícius não foi conhecido por
seu papel em uma novela ou por uma dissertação brilhante na faculdade, o
conhecimento de sua existência veio com um caso que muitos outros jovens negros
são submetidos: a de ser confundido com um bandido, mas não por ter matado ou
roubado algo, mas sim por ser negro.
Voltando
para casa, depois de um dia inteiro de serviço, Vinícius caminhava do seu
serviço até seu lar quando foi parado por uma viatura. Acusação? Alguns metros
de onde o jovem foi abordado, uma senhora foi vítima de um roubo seguido de
agressão. Ela informou ao policial que o seu agressor era negro e estava sem
camisa e bermuda, roupa diferente da que Vinícius estava (camisa preta e calça
jeans). Mesmo assim, o jovem foi encaminhado à delegacia. A polícia não quis
ouvir quando Vinícius dizia que era inocente, relatando que no horário do
assalto ele estava saindo do trabalho e que geograficamente seria impossível ter
assaltado a senhora. Não. Sua carta de condenado já estava assinada, mesmo
ainda não ter ido a júri.
A
vítima, quando viu Vinícius, afirmou que era ele o seu agressor e assaltante. O
jovem ator foi encaminhado a Casa de Detenção Patrícia Acioli, em São Gonçalo,
no Rio de Janeiro. Horas depois, através das redes sociais, os amigos de
Vinícius comunicaram o fato, que gerou em uma enorme solidariedade a ele e uma
massificada denúncia de racismo. A senhora agredida e assaltada, que antes
afirmava que Vinícius foi o autor de sua agressão, retirou a queixa dizendo que
“se confundiu”, como se isso bastasse.
Em
um país onde 53% dos presos são negros, muito dá para se desconfiar quantos
“Vinícius” não há dentro do sistema carcerário. Será que se os amigos do jovem ator
não tivessem se mobilizado a “alma generosa” da senhora iria afirmar que se
confundiu? Quantos jovens estão nessa condição, de serem presos por sua
negritude?
Este
caso só mostra que não podemos ter nenhuma confiança na polícia e na justiça de
Cabral, que quando não desaparece com os corpos de trabalhadores como o caso de
Amarildo, os colocam atrás das grades como criminosos sem ao menos se darem ao
trabalho de investigarem o caso, como se só do fato da pessoa ser negra ela
fosse inerentemente criminosa.
Nós,
do Quilombo Raça e Classe, repudiamos a ação da polícia que foi explicitamente
racista. Não compactuamos também com a posição da senhora, que mesmo tendo sido
assaltada e agredida, partiu da premissa de que todo negro é criminoso, e por
isso condenou um jovem inocente cujo único crime foi ter andado pela rua.
Também cobramos que o governo do Rio de Janeiro seja indiciado, pois para
prender inocente se mostrou muito eficiente, mas para pegar os grupos
trogloditas e racistas “Justiceiros”, que prendem negros em postes, nada faz.
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Contra o racismo, chamamos ao Fora Cabral!
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Somos todos Vinícius, nos morros e nos asfaltos!
FONTE: Edu
H. Silva – Quilombo Raça e Classe SP
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