Politicas
abertamente pró-nazistas do Svoboda não impediram senador americano John McCain
de falar num comício do partido; nem evitaram que a secretária-assistente do
Estado, Victoria Nuland, desfrutasse um encontro amigável com líder da agremiação.
Obcecada
com vitória geopolítica na Europa Oriental, Washington envolveu-se com grupos
que defendem “supremacia branca” e atacam comunistas, anarquistas e judeus.
Quando
os protestos na capital da Ucrânia chegaram a um desfecho, este fim-de-semana,
as demonstrações de extremistas fascistas e neo-nazistas assumidos tornaram-se
evidentes demais para serem ignoradas. Desde o início dos protestos, quando
manifestantes lotaram a praça central para combater a polícia ucraniana e
exigir a expulsão do corrupto presidente pró-russia Viktor Yanukovich, as ruas
estavam cheias de pelotões de extrema-direita, prometendo defender a pureza
étnica de seu país.
Bâners
dos partidários da “supremacia branca” e bandeiras dos confederados
norte-americanos [escravocratas] foram fixadas dentro da prefeitura de Kiev
ocupada. Manifestantes içaram bandeiras da SS nazista e símbolos do poder
branco sobre a estátua tombada de Lenin. Depois que Yanukovich fugiu do palácio
estatal de helicóptero, os manifestantes destruíram a estátua dos ucranianos
que morreram lutando contra a ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial.
Saudações nazistas e o símbolo do Wolfsangel tornaram-se cada vez mais comuns
na praça Maiden. Forças neo-nazi estableceram “zonas autonômas” em torno de
Kiev.
Um
grupo anarquista chamado União Ucraniana Antifascista tentou juntar-se aos
manifestantes de Maiden, mas encontrou dificuldades, com ameaças de violência
das gangs neo-nazis itinerantes da praça. “Eles disseram que os anarquistas são
gente como judeus, pretos e comunistas. E nem havia comunistas entre nós, foi
um insulto”, ”, disse um integrante do grupo.
“Está
cheio de nacionalistas aqui — incluindo nazistas”, continuou o antifascista. “Eles
vieram de toda Ucrânia, e são cerca de 30% dos manifestantes.”
Um
dos “três grandes” partidos políticos por detrás dos protestos é o
ultra-nacionalista Svoboda, liderado por Oleh Tyahnybok, que clama pela
“libertação” de seu país da “máfia judaico-moscovita”. Após a condenação, em
2010, de John Demjanjuk, um vigilante dos campos de extermínio que teria
participado da morte de 30 mil pessoas no campo de extermínio nazista de
Sobibor, Tyahnybok propôs à Alemanha
declará-lo um herói que “lutou pela verdade”. No parlamento ucraniano,
onde o Svoboda detém inéditos 37 assentos, o vice de Tyahnybok, Yuiy
Mykhalchyshyn, cita com frequência Joseph Hoebbels. Ele próprio fundou um
thinktank originalmente chamado de Centro de Pesquisa Política Goebbels.
Segundo Per Anders Rudling, acadêmico especialista em movimentos neofascista na
Europa, o auto-intitulado “nacional socialista” Mykhalchyshyn é o principal elo
entre a ala oficial do partido Svoboda e as milícias neonazistas, como o Right
Sector.
Right
Sector é um grupo nebuloso, que se auto-intitula “nacionalista autônomo”. Seus
membros são identificados pelo jeito skinhead de trajar, estilo de vida
ascético e fascínio pela violência nas ruas. Armado com escudos e porretes, o
grupo ocupou as linhas de frente das batalhas nas manifestações deste mês,
enchendo o ar com seu tradicional canto: “A Ucrânia, acima de tudo!”. Em um
vídeo-propaganda recente, o grupo prometeu lutar “contra a
degeneração e o liberalismo totalitário, pela tradição moral nacional e os
valores familiares.” Com o Svoboda ligado a uma constelação de partidos
neofascistas internacionais por meio da Aliança dos Movimentos Nacionais
Europeus, o Right Sector promete levar seu exército de jovens desiludidos a
“uma grande Reconquista Europeia”.
As
políticas abertamente pró-nazistas do Svoboda não impediram o senador americano
John McCain, de falar num comício do partido, ao lado de Tyahnybok; nem
evitaram que a secretária-assistente do Estado, Victoria Nuland, desfrutasse de
um encontro amigável com o líder do Svoboda, em fevereiro. Ansioso por se
defender de acusações de anti-semitismo, o dirigente hospedou recentemente o
embaixador israelense da Ucrânia. “Eu gostaria de pedir aos israelenses que
respeitassem também nossos sentimentos patriotas”, Tyahnybok observou.
“Provavelmente, todos os partidos do Knesset [parlamento de Israel] são
nacionalistas. Com a ajuda de Deus, deixe-nos ser assim também.”
Numa
conversa telefônica vazada com o embaixador dos EUA na Ucrânia, Geoffrey Pyatt,
Nuland revelou seu desejo de que Tyahnybok permaneça “do lado de fora”, mas que
se consulte com Arseniy Yatsenyuk, o preferido dos EUA para substituir
Yanukovich, “quatro vezes por semana.” Em 5 de dezembro de 2013, na Conferência
da Fundação EUA-Ucrânia, Nuland destacou que Washington havia investido 5
bilhões de dólares para “desenvolver habilidades e instituições democráticas”
na Ucrânia, embora não tenha acrescentado nenhum detalhe.
“O
movimento da praça Maiden incorporou os princípios e valores que são os pilares
de todas as democracias livres”, proclamou Nuland.
Duas
semanas depois, 15 mil membros do Svoboda realizaram uma cerimônia com tochas
na cidade de Lviv, em homenagem a Stepan Bandera, colaborador nazista da
Segunda Guerra Mundial e então líder da Organização dos Nacionalistas
Ucranianos (OUN-B), pró-fascista. Lviv tornou-se o epicentro das atividades
neo-fascistas na Ucrânia, com os dirigentes eleitos do Svoboda liderando uma
campanha para renomear o aeroporto (em homenagem ao líder fascista) e a antiga
Praça da Paz. Isso, eles já conseguiram. Ela honra, agora, o Batalhão
Nachtigall, rememorando um grupo, ligado à OUN-B, que participou diretamente do
Holocausto. “Paz’ é um resquício dos estereótipos soviéticos”, explicou um
deputado do Svoboda.
Reverenciado
pelos nacionalistas ucranianos como legendário lutador da liberdade, a
verdadeira história de Bandera foi infame, na melhor das hipóteses. Depois de
participar da campanha para assassinar ucranianos que defendiam a pacificação
com os poloneses, durante a década de 1930, as forças de Bandera determinaram-se
a limpar etnicamente a Ucrânia ocidental
dos poloneses, entre 1943 e 1944. No processo, mataram mais de 90 mil poloneses
e muitos judeus, a quem o seguidor mais
destacado de Banderas, o “primeiro ministro” Yaroslav Stetsko, estava
determinado a exterminar. Bandera aferrou-se à ideologia fascista mesmo nos
anos do pós-guerra, defendendo uma Europa etnicamente pura e totalitária,
enquanto o Exército Insurgente Ucraniano (UPA), ligado a ele, travava uma luta
armada sem futuro contra a União Soviética. O banho de sangue só cessou quando
agentes da KGB o assassinaram em Munique, em 1959.
As
conexões da Direita
Muitos
membros sobreviventes da OUN-B fugiram para a Europa Ocidental e para os EUA –
por vezes, com ajuda da CIA –, onde forjaram silenciosamente alianças políticas
com elementos da direita. “Você tem que entender, nós somos uma organização
subterrânea. Nós passamos anos em silêncio, alcançando posições de influência”,
disse um membro ao jornalista Russ Bellant, que documentou o ressurgimento do
grupo nos Estados Unidos, em seu livro de 1988, Velhos nazistas, Nova Direita,
e o Partido Republicano.
Em
Washington, a OUN-B reconstitui-se sob a bandeira do Comitê do Congresso
Ucraniano para os EUA [Ukrainian Congress Committee of America (UCCA)], uma organização
composta por “frentes 100% OUN-B”, segundo Bellant. Em meados da década de
1980, o governo Reagan ligou-se a membros da UCCA. O líder do grupo, Lev
Dobriansky, serviu como embaixador nas Bahamas, e sua filha, Paula, teve um
posto no Conselho de Segurança Nacional. Reagan recebeu pessoalmente Stetsko, o
líder banderista que supervisionou o massacre de 7 mil judeus em Lviv, na Casa
Branca, em 1983.
“Seus
problemas são nossos problemas”, disse Reagan para o colaborador nazista. “Seu
sonho é o nosso sonho.”
Em
1985, quando o Departamento de Justiça lançou a cruzada para capturar e
processar os criminosos de guerra nazistas, a UCCA agiu rapidamente,
pressionando o Congresso a travar a inciativa. “A UCCA também tem desempenhado
um papel de liderança na oposição de investigações federais dos supostos
criminosos de guerra nazistas, desde o início da relação entre as entidades, no
final dos anos 1970″, escreveu Bellant. “Alguns membros da UCCA têm
muitas razões para se preocupar. Elas remontam a 1930.”
Ainda
hoje uma força lobista ativa e influente em Washington, a UCCA não parece ter
abandonado sua reverência pelo nacionalismo banderista. Em 2009, no 50º
aniversário da morte de Bandera, o grupo proclamou-o “um símbolo de força e
justiça para seus seguidores”, que “continua inspirando a Ucrânia hoje em dia”.
Um ano depois, o grupo homenageou o 60º aniversário da morte de Roman
Shukhevych, o comandante do Batalhão Nachtigall da OUN-B, que massacrou judeus
em Lviv e Belarus, chamando-o de “herói” que “lutou pela honra e justiça…”
De
volta a Kiev em 2010, o então presidente Viktor Yuschenko concedeu a Bandera o
título de “Herói Nacional da Ucrânia”, marcando o ponto culminante dos seus
esforços para construir uma narrativa nacional anti-russa capaz de “higienizar”
o fascismo da OUN-B. (A esposa de Yuschenko, Katherine Chumachenko, atuou no
governo Reagan e foi ex-funcionária da Heritage Foundation, claramente
identificada com a direita “neoconservadora”). Quando o Parlamento Europeu
condenou a proclamação de Yuschenko como uma afronta aos “valores europeus”, a
afiliação ucraniana da UCCA no Congresso Mundial reagiu com indignação,
acusando a UE de “reescrever a história da Ucrânia na Segunda Guerra Mundial”.
Em seu site, a UCCA tentou rotular os registros históricos da colaboração de Bandera
com os nazistas como “propaganda soviética”.
Após
a derrubada de Yanukovich neste mês, a UCCA ajudou a organizar comícios em
todas as cidades dos EUA, em apoio aos manifestantes. Quando centenas destes
marchavam pelo centro de Chicago, alguns agitavam bandeiras da Ucrânia,
enquanto outros orgulhosamente carregavam as bandeiras vermelhas e pretas da
UPA e OUN-B. “Os EUA apoiam a Ucrânia!” eles gritavam.
FONTE: OUTRAS PALAVRAS / Por Max Blumenthal, no Alternet | Tradução Cauê Seignemartin
Ameni
LEIA TAMBÉM:
Seis notas para compreender o que acontece na Ucrânia
http://guebala.blogspot.com.br/2014/02/seis-notas-para-compreender-o-que.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário