As duas
questões não são relacionadas. Mas, juntas, ressaltam a mudança dos EUA rumo a
uma sociedade mais libertária
Este é o
ano das “eleições legislativas de Seinfeld”, temos dito — um pleito sobre nada
em particular, sem temas dominantes. Ainda, estas eleições também mostram como
estamos nos tornando uma “sociedade Seinfeld”. Quando se trata de duas questões
culturais que antes eram tabu — relações homossexuais e uso de maconha —, os
americanos estão cada vez mais dizendo: “Não que haja algo de errado com isso.”
Em
novembro, os eleitores do Alasca e do Oregon vão decidir se legalizam e regulam
a venda de maconha, como os do Colorado e de Washington já fizeram, enquanto os
cidadãos da capital do país vão optar por legalizar, ou não, a posse da droga.
Pesquisas preliminares sugerem que a legalização é aprovada no Oregon e em
Washington, ambos redutos democratas. No Alasca, é mais difícil de prever. Uma
sondagem realizada em agosto mostrou a oposição na frente: 49% a 44%. Isto após
duas votações anteriores mostrarem o campo pró-maconha na liderança. No
entanto, mesmo se os alasquianos votarem “não” sobre a legalização total, a
maconha para uso medicinal e consumo em casa permanecerá legal.
Enquanto
isso, outra questão, uma vez considerada como contracultural, é um não fator
nestas eleições legislativas. Pela segunda vez, desde 2000, nenhum estado
sequer vai realizar um referendo sobre a proibição do casamento homossexual.
Embora 31 estados tenham adotado o veto, os oponentes do matrimônio entre
pessoas do mesmo sexo têm sofrido uma série de perdas em tribunais federais e
parecem ter desistido da luta pelos referendos por agora. Mesmo que a Suprema
Corte finalmente decida que o casamento homossexual não é constitucionalmente
protegido, mais estados tendem a legalizá-lo em resposta ao crescente apoio
público.
As
atitudes públicas em relação ao casamento homossexual e à maconha têm
percorrido um caminho muito similar. Apenas um em cada quatro americanos
apoiaram a legalização de uma das duas questões em meados da década de 1990.
Até 2011, o apoio tinha se ampliado para um em cada dois cidadãos. Agora, a
aprovação pública está se aproximando de 60%, com a maioria dos americanos com
idades entre 30 a 49 a favor.
Hoje, o
casamento entre pessoas do mesmo sexo é legal em 19 estados; três deles têm
leis de uniões civis e de parceria doméstica que reconhecem casais gays. A
maioria desses estados também liberalizou as leis relativas à maconha nos
últimos anos.
Se a
legalização da erva continuar a seguir a trajetória do casamento homossexual,
irá se expandir para mais estados nos próximos anos — mais provavelmente para
aqueles que já adotaram a maconha para uso medicinal. Se isto acontecer, e se a
Suprema Corte não derrubar a proibição do casamento homossexual, o mapa dos
estados que já legalizaram a maconha e o casamento homossexual pode vir a ser
muito parecido.
As duas
questões são, obviamente, não relacionadas. (A legalização da maconha levanta
sérias preocupações.) Juntas, porém, ressaltam a mudança do país em direção a
uma sociedade culturalmente mais libertária.
Os
paralelos podem se estender até a corrida presidencial de 2016. Um ou ambos os
principais candidatos poderiam adotar a mesma posição sobre a maconha que o
presidente Barack Obama assumiu sobre o casamento homossexual em 2008: oposição
à legalização pessoalmente, mas apoiando o direito dos estados de decidirem a
questão por si mesmos. Enquanto isso, os esforços para colocar a legalização da
maconha na cédula de 2016 já estão em andamento em pelo menos dois estados:
Montana e Wyoming.
Se os
eleitores de Washington aprovarem o referendo da maconha para a cidade em
novembro deste ano, a velha turma de colégio do presidente pode ser tentada a
aparecer na Casa Branca para comemorar. Não que haveria alguma coisa errada
nisso.
FONTE: O GLOBO /Francis
Barry é jornalista
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