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quinta-feira, maio 24, 2012

O Pampa é o segundo menor e mais alterado bioma do Brasil


Bioma que ocorre no RS tem 3,26% de seu território em parques e reservas e menos de 1% na categoria de unidades de conservação de proteção integral


Segundo menor bioma brasileiro, perdendo só para o Pantanal, o Pampa nunca chamou a atenção por sua beleza de árvores frondosas e flores de cores exuberantes. Sua paisagem predominantemente campestre, com campos abertos e muitas espécies de aves sobrevoando o bioma, promove uma sensação de vazio e solidão. Engana-se quem pensa que isso é sinal de escassez ou pobreza biológica. O bioma esconde em sua pequena área de 178,243 mil km2 uma grande biodiversidade: cerca de 3.000 espécies vegetais, mais de 100 espécies de mamíferos e quase 500 espécies de aves. A diversidade de gramíneas chama a atenção, com mais de 450 espécies. Entre as espécies florísticas, mais de 200 estão ameaçadas de extinção.
“A paisagem aberta é muito influenciada pelos ventos e pela luminosidade. Há uma grande diversidade de plantas herbáceas, incluindo gramíneas, compostas, leguminosas (ou Fabaceae, plantas da família do feijão) e ciperáceas, estas nos locais mais úmidos. Também ocorrem muitas plantas arbustivas e árvores de menor porte, como as vassouras, o espinilhos, as aroeiras e a coronilha”, diz Eduardo Vélez , biólogo e doutorando em Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Assim como o lagartinho do pampa, também são animais típicos da fauna local a ema, a codorna, o passarinho caminheiro, o veado-campeiro, várias espécies de tatus, o quero-quero, o tuco-tuco, a preá e o ratão do banhado, um roedor que ocorre em áreas úmidas e banhados. O clima é úmido o ano todo, com temperaturas mais baixas e chuvas distribuídas ao longo do ano.
Os animais sofrem o mesmo problema que sofrem os de outros biomas: têm cada vez menos áreas contínuas de campos. Assim, como tem fragmentação nas florestas, a mesma coisa vem ocorrendo no Pampa. Para espécies que precisam de grandes extensões para manter populações viáveis, isto é um grande problema. Também ocorre a redução no fluxo gênico e na capacidade de dispersão da flora e da fauna”, diz Eduardo.
“Essa diversidade biológica do Pampa tem sofrido ameaças em função da conversão dos campos, ou seja,  a eliminação do campo para a implantação de lavouras de agricultura e de silvicultura. O Pampa já perdeu muitas áreas de banhado para as lavouras de arroz. Nos últimos anos a soja também tem sido o grande vilão na perda da biodiversidade dos campos”, comenta o pesquisador.O Pampa já teve 64% de sua cobertura vegetal original destruída, sendo o segundo bioma mais alterado do Brasil, em termos percentuais. Para Eduardo, com algum esforço e muita consciência, os 36% nativos ainda podem ser salvos.

Segundo o Mapeamento da Vegetação Nativa do Bioma Pampa, divulgado em 2007 pelo Ministério do Meio Ambiente, o bioma tinha 23,03% de campos, 5,38% de florestas e 12,91% de áreas de transição (savanas, campos e florestas). Os principais tipos de florestas do Pampa são a estacional decidual e a semidecidual, além de formações savânicas com espécies xerófilas (plantas adaptadas à aridez). O Pampa se estende pelo Uruguai e parte da Argentina, formando uma das regiões de campos temperados mais importante do planeta.
“A silvicultura pode ser uma nova fronteira de expansão sobre essas áreas remanescentes, porque os projetos são empresariais, com plantio em grandes extensões que podem representar a descaracterização da paisagem do Pampa”, teme Eduardo.
No Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), o Pampa é o bioma com menor representatividade, com apenas 3,2% de seu território transformados em áreas de conservação: “Por não ter grandes extensões de florestas, o Pampa gera menor sensibilidade social. As iniciativas de conservação estão abaixo da crítica. Temos menos de 1% de unidades de conservação de proteção integral. Isso é um problema sério e o principal desafio que temos hoje. Para manter os 36% que ainda estão conservados, é necessário criar novas unidades de conservação e, também , incorporar processos produtivos sustentáveis. Eu entendo que isto é plenamente possível através da pecuária sustentável”.
“Entanto, estas iniciativas de manejo sustentável dos campos são ainda recentes. Ainda vivemos o paradoxo no Brasil de destruir a floresta na Amazônia para implantar pastagens com gramíneas exóticas, enquanto que, no Pampa, que tem as melhores pastagens naturais para a produção de carne, está se propondo plantar grandes extensões de árvores exóticas. Uma vez li um artigo que dizia que o Pampa era um bioma negligenciado, parecia que ninguém dava bola para ele. Hoje, isto parece estar mudando. 

Iniciativas como as da Apropampa e o Mapeamento do Bioma indicam que pode haver alguma esperança para este importante bioma brasileiro”, diz.Pouco praticada no Pampa, a experiência com a pecuária sustentável mostrou-se viável em estudos realizados por pesquisadores da Embrapa Pecuária Sul e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Um exemplo disto é a iniciativa da Apropampa, uma associação sem fins lucrativos formada por produtores rurais na região de Lavras do Sul e arredores que vem colocando em prática produção de carne com base em campos nativos bem conservados. Conservam-se as espécies nativas do campo e se consegue aumentar a produção de carne, já que o manejo do gado e dos campos permite esta harmonia.

FONTE: GLOBO ECOLOGIA
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