Falta de sala de aula, laboratórios e livros são algumas das queixas.
Professores estão em greve há quase um mês e meio.
ENTENDA
A GREVE NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS
PROFESSORES
SERVIDORES
Desde
17 de maio, professores das instituições federais fazem um movimento de greve
nacional que já atingiu 95% da categoria.
A
paralisação nacional dos servidores teve início em 11 de junho e, segundo a
última atualização dos sindicatos, pelo menos 90% dos institutos federais
tinham servidores parados.
PRINCIPAIS
REIVINDICAÇÕES
-
Criação de uma carreira única, com a incorporação das gratificações em 13
níveis remuneratórios
-
Aumento do piso salarial em 22,8% com a correção das pendêncais da carreira
desde 2007 (atualmente, ele é de R$ 1.304)
-
Variação de 5% entre níveis a partir do piso, para o regime de 20 horas
correspondente ao salário mínimo do Dieese (atualmente calculado em R$
2.329,35)
-
Devolução do vencimento básico complementar absorvido na mudança na Lei da
Carreira, de 2005
-
Percentuais de acréscimo relativos à titulação e ao regime de trabalho
-
Reposicionamento dos servidores aposentados
O
QUE DIZ O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
O
MEC afirma que que quem define a agenda de negociação é o Ministério de
Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG). O Ministério da Educação está com
uma proposta de plano de carreira pronta, para apresentar na próxima reunião
agendada pelo MPOG – basicamente priorizando a dedicação exclusiva e
titulação docente.
Há quase um mês e meio, professores de universidades e institutos
federais do país decretaram greve. Docentes de 56 universidades federais
aderiram à paralisação nacional, segundo o sindicato da categoria, que pede
reestruturação do plano de carreira e melhores condições de trabalho. Entre as
queixas estão problemas de infraestrutura e falta de um maior número de
professores para atender à política de expansão das universidades federais
desenhada pelo Ministério da Educação (MEC). Servidores destas instituições
também estão em greve.
Para mostrar um pouco dos problemas que estudantes e professores
encontram nas universidade federais o G1 visitou duas
universidades importante de Pernambuco e conversou com alunos e
professores para conhecer a realidade das salas de aula.
As reclamações dos manifestantes vão desde piscina, que foi fechada por
falta de cloro na água, e um parafuso achado na comida do refeitório, até a
falta de livros nas bibliotecas e os laboratórios que têm equipamentos
defasados.
A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) tem campi no Recife, Caruaru e
Vitória de Santo Antão. Os dados mais recentes apontam que quase 27 mil alunos
estão matriculados na instituição. O campus da capital abarca 84% desses
estudantes. São 2.528 professores e 3.893 servidores técnico-administrativos
nos três campi, incluindo o Hospital das Clínicas. Ao todo, são 96 cursos de
graduação, sendo três a distância – sem contar as pós-graduações.
'É um puxadinho'
No campus Recife, não foi difícil encontrar alunos que criticassem a
infraestrutura do local. Um dos campeões de reclamação é o curso de música. “É
o ‘puxadinho’ da Federal”, diz o estudante Phillippi Oliveira. “É como se a
gente pegasse salas emprestadas de outros cursos do CAC [Centro de Artes e
Comunicação]. Não temos salas com tamanho nem acústica adequada. Também falta
um estúdio para ensaios”, explica.
Sérgio Tavares concorda com o colega de graduação. Por causa do trabalho, ele
adiou o sonho de cursar música e ficou meio desapontado quando a chance se
concretizou. “Fiquei um pouco frustrado, pois uma estrutura melhor poderia
motivar mais alunos e professores. Falta manutenção e até quem afine os
instrumentos, porque tudo precisa passar por um processo de solicitação”,
reclama.
Professor do curso de cinema da UFPE, Rodrigo Carreiro reconhece que a
estrutura melhorou nos últimos anos. “Meu grupo de estudos via filmes em uma TV
de 14 polegadas, com aparelho de videocassete trazido pela professora”, lembra
ele sobre a época em que fazia a graduação na universidade. “Mas, claro, a
infraestrutura ainda deixa muito a desejar, principalmente na parte de
laboratórios. O curso de cinema sofre bastante com isso, especialmente na parte
da imagem, pois faltam câmeras e equipamentos de iluminação de boa qualidade, e
som. Há microfone, gravador e mixer top de linha, mas apenas um exemplar de
cada”,diz.
Burocracia
Aluno de cinema, Alan Tonello criticou a falta de uma sala apropriada
para as aulas de som e equipamentos cinematográficos. “A gente pega, por
exemplo, câmera emprestada dos cursos de publicidade e de rádio e TV. Também há
problemas com as licitações. Uma vez pediram gravadores, mas não pensaram nos
cabos, então eles ficaram parados. Vários livros chegaram recentemente, mas a
filmografia ainda é feira com as nossas doações. Estou quase me formando e acho
que poderia ter feito um curso melhor”, fala.
Ao lado do CAC fica o Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), que
abriga o curso de geografia. Emanoel Vieira está no terceiro período da
licenciatura e já sofreu com a falta de títulos na biblioteca às vésperas das
provas. “Os banheiros do prédio também ficam muito sujos, as salas do meu andar
não têm ar-condicionado e, às vezes, temos que improvisar para algo dar certo.
Certa vez, não tinha auditório disponível e o professor pediu que colocassem
tapumes nas janelas para a claridade não atrapalhar a gente na hora de assistir
aos vídeos”, comenta.
'É uma vergonha'
A Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) tem cerca de 15 mil
alunos espalhados pelos campi Recife, Garanhuns e Serra Talhada, incluindo
os matriculados no ensino a distância (EAD). Ao todo, são 49 cursos de
graduação, sendo nove EAD. Aproximadamente mil professores e mil
técnicos-administrativos trabalham na Rural.
No campus Recife, que fica no bairro de Dois Irmãos, o G1 encontrou
muitas reclamações a respeito do curso de Medicina Veterinária. “É uma
vergonha”, resume o estudante José Gênison. “Faltam equipamentos e laboratórios
em todas as áreas, e o de anatomia não tem biossegurança. Também não há técnicos
administrativos de nível médio e superior para trabalhar nos laboratórios e no
hospital veterinário. Há livros comprados recentemente, mas não tem mais espaço
nas prateleiras da biblioteca para guardá-los”, aponta.
O hospital veterinário é o que recebe a maior crítica dos alunos. “Ele
não cumpre seu papel social nem educacional. Primeiro, ele não tem uma série de
atribuições, como plantão e internamento, para ser considerado hospital. Só faz
atendimento ambulatorial. As salas de cirurgia têm estrutura precária. Não deve
ter nem sabão para lavar as mãos. Depois, não temos médicos veterinários nem
técnicos para nos orientar nas aulas”, falou o estudante Paulo Lira.
Uma unanimidade entre os estudantes da UFRPE é o serviço do refeitório.
A qualidade do alimento servido e a pouca variedade no cardápio são as maiores
broncas. No último dia 9 de maio, o Diretório Acadêmico de Medicina Veterinária
e Agronomia denunciou à reitoria que um parafuso foi encontrado no prato de
comida servido a um estudante, no local.
Livro é de quem chega primeiro
Para o curso de biologia, a graduanda Raquel Gomes dá nota 6,5. “Há
muitos equipamentos quebrados nos laboratórios, falta até microscópio, mas o
pior é que não tem muitos livros na biblioteca. Fica para quem chegar primeiro.
Estou terminando o curso e acho que meu desempenho iria melhorar com mais
acesso a livros”, reflete.
No curso de Engenharia de Pesca, mais críticas. “Os laboratórios de química e
física são muito defasados, quase não temos aulas experimentais por falta de
material. Houve uma vez que alunos ficaram sem aulas de natação na piscina da
universidade, que é a nossa disciplina de educação física, porque não tinha
cloro, que eles disseram que compravam do Sul [do Brasil]. Não dá para entender
isso”, diz o estudante Cláudio Della Vedova.
Professor do curso de história, Tiago de Melo Gomes também lamenta o
“número ridiculamente pequeno de livros na biblioteca central da Universidade”.
“Nós, professores, nem olhamos o acervo para indicar livros para os alunos.
Vários professores não têm gabinetes de trabalho. Também não temos laboratórios
e sala de aula. Temos de espalhar nossas salas pela universidade, onde
conseguirmos enfiar nossos alunos. Frequentemente, temos de fazer boas caminhadas
entre uma aula e outra, quando vamos de uma turma para outra que fica longe, o
que significa perder uns 15 minutos de aula, por exemplo”, informa.
O professor ainda resume a crítica feita por todos os entrevistados. “Em
linhas gerais, o que aconteceu sob [o governo de] Lula foi uma enorme expansão
do número de vagas nas universidades federais, sem que tenha havido uma
preocupação com a manutenção da qualidade. A infraestrutura simplesmente não dá
conta”, finaliza.
MEC vai aumentar número de professores
O ministério anunciou esta semana que vai contratar mais de 48 mil professores.
Nesta terça-feira (26), o ministro Aloizio Mercadante destacou que é uma visão
simplista achar que o Programa de Expansão e Reestruturação das Universidades
Federais (Reuni) compromete a qualidade da educação superior.
Para ele, a interiorização das universidades permite reduzir as
desigualdades de acesso a essa etapa de ensino. Até 2003, havia 45
universidades federais e 148 campi. Com a expansão, até 2014 serão 63
universidades federais e 321 campi em todo o país.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
Campi
Recife, Caruaru e Vitória
Alunos
27 mil
Professores
2.528
Servidores
3.893
Cursos
96 graduações, sendo três a distância
O que dizem as reitorias
Através de nota enviada pela assessoria de comunicação da Universidade Federal
de Pernambuco, a instituição informa que o curso de Música ganhará um novo
prédio que solucionará os problemas de espaço levantados pelos alunos. "As
obras estão previstas para serem iniciadas no próximo ano. A diretoria do
Centro de Artes e Comunicação está tomando providências para adequar as atuais
instalações para atender às necessidades do curso".
No mesmo centro, outro curso muito criticado foi a graduação em Cinema,
com pouca quantidade de equipamentos nos laboratórios e uso de materiais de
outros cursos. "Novos equipamentos estão sendo adquiridos para o curso de
cinema. Os alunos utilizam os equipamentos e as instalações do Laboratório de
Imagem e Som do Departamento de Comunicação, que é compartilhado com os alunos
de publicidade, jornalismo e tádio, TV e internet. Portanto, não se trata de
empréstimo e o espaço é adequado às necessidades", diz a nota da UFPE.
Em relação às críticas dos alunos de geografia, a UFPE afirma estar
investindo, este ano, "R$ 1 milhão em novos títulos para as bibliotecas,
incluindo impressos e publicações digitais para suprir a demanda de todos os
cursos. Foi lançada uma campanha para que professores e alunos pudessem sugerir
os livros mais importantes para sua formação.
A primeira compra está sendo concluída, entre três programadas para este
ano".
Sobre as queixas dos estudantes do CFCH, em relação a infraestrutura, a
nota da UFPE informa que o centro "teve toda sua fachada recuperada no
reitorado passado e ainda é alvo de novos trabalhos de recuperação. As
construções recentes já atendem a esse padrão, como os dois prédios inaugurados
em abril, os Núcleos Integrados de Atividade de Ensino, que estão beneficiando
os alunos dos Centros de Tecnologia e Geociências e de Ciências Exatas e da
Natureza, em um edifício, e dos Centros de Filosofia e Ciências Humanas e de
Ciências Sociais Aplicadas, no outro. As salas de aula desses prédios são
climatizadas e possuem equipamentos de projeção".
UNIV. FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
Campi
Recife, Garanhuns e Serra Talhada
Alunos
15 mil
Professores
Cerca de 1.000
Servidores
Cerca de 1.000
Cursos
49 graduações, sendo nove a distância
Captação de recursos
Também através de nota enviada pela assessoria de comunicação, a
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) comentou as queixas feitas por
alunos e professores. Sobre as condições do hospital veterinário, tido pela
instituição como referência em suas especialidades, "a UFRPE reconhece que
melhorias de infraestrutura precisam ser implantadas para o aperfeiçoamento das
iniciativas de ensino, pesquisa e extensão" desenvolvidas no local, que
realiza uma média de mil atendimentos mensais, entre consultas, exames e
cirurgias em animais de pequeno e médio porte. Entre essas melhorias está o
remodelamento da residência, "que hoje atende ao hospital, no Recife, e à
Clínica de Bovinos, em Garanhuns. Em breve, a Unidade Acadêmica de Garanhuns
terá um novo hospital veterinário".
A dificuldade para captação de recursos, um dos problemas apontados por
hospitais veterinárias de todo o país, segundo a assessoria da Rural, também é
realidade em Pernambuco. Esse quadro começou a ser modificado, desde que o
Ministério da Educação (MEC) reconheceu, este ano, os programas de residência
veterinária como pós-graduações latu sensu, o que garante novos benefícios,
como a adesão a programas de bolsas de estudo e investimentos em melhores
instalações e equipamentos.
Sobre a carência na Biblioteca Central, a nova diretoria tomou posse no
mês passado e está, inicialmente, reordenando o atual acervo. Ao fim da greve,
uma campanha será feita junto aos professores e pesquisadores para a aquisição
de novos livros em todas as áreas. Até o fim deste ano, está prevista a
conclusão da nova biblioteca para os departamentos de ciências sociais e letras
e ciências humanas. "O atual acervo dessas duas áreas, que se encontra
atualmente na Biblioteca Central, será ampliado e conduzido ao novo espaço, de
modo a resolver os atuais problemas de espaço físico da BC". Projetos para
outras duas bibliotecas setoriais - ciências exatas e ciências agrárias - estão
em elaboração.
Em relação ao serviço do Restaurante Universitário (RU), uma pesquisa
realizada entre janeiro e maio deste ano ouviu 610 estudantes. O resultado
aponta que "90% aprovam o sabor da comida servida; 66% qualificam a
variedade do cardápio como ótima ou boa". Segundo a assessoria,
"questões como melhorias de cardápio, de estrutura e de atendimento estão
sendo aperfeiçoadas constantemente pelos gestores". O RU mantém
atendimento normal à comunidade universitária durante a greve. Na unidade
acadêmica de Serra Talhada, as obras do restaurante universitário estão em fase
de conclusão.
Um novo edifício de seis andares vai abrigar o Departamento de Biologia.
O prédio já está concluído e conta com salas de aula, laboratórios de ensino,
gabinetes de docentes e outras dependências.
Para concluir o processo, falta instalar o mobiliário já adquirido e os
aparelhos de ar-condicionado, que se encontram em fase final de licitação.
Em relação às críticas ao curso de Engenharia de Pesca, a diretoria do
Departamento de Pesca e Aquicultura "não conseguiu identificar quais
seriam os supostos laboratórios referidos [pelos estudantes], já que os alunos
de graduação e pós-graduação participam de atividades em diversos
departamentos". Segundo a Rural, essa graduação está entre as três
melhores do Brasil na área, com 21 dos 24 professores sendo doutores ou
pós-doutores.
Já as demandas levantadas pelo professor do curso de História poderão
ser minimizadas com a construção do Departamento de Letras e Ciências Humanas,
que está em andamento, segundo a Pró-reitoria de Planejamento da Rural. Ainda
de acordo com a assessoria, as novas instalações "garantirão melhor
comodidade para a boa realização das atividades de ensino, pesquisa e extensão
da UFRPE".
Por fim, sobre a carência no quadro de servidores, a Pró-reitoria de
Administração afirma que a contratação de novos profissionais - para qualquer
setor da instituição - depende principalmente de autorização do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão.
FONTE: G1
ENTENDA
A GREVE NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS
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PROFESSORES
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SERVIDORES
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Desde
17 de maio, professores das instituições federais fazem um movimento de greve
nacional que já atingiu 95% da categoria.
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A
paralisação nacional dos servidores teve início em 11 de junho e, segundo a
última atualização dos sindicatos, pelo menos 90% dos institutos federais
tinham servidores parados.
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PRINCIPAIS
REIVINDICAÇÕES
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-
Criação de uma carreira única, com a incorporação das gratificações em 13
níveis remuneratórios
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-
Aumento do piso salarial em 22,8% com a correção das pendêncais da carreira
desde 2007 (atualmente, ele é de R$ 1.304)
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-
Variação de 5% entre níveis a partir do piso, para o regime de 20 horas
correspondente ao salário mínimo do Dieese (atualmente calculado em R$
2.329,35)
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-
Devolução do vencimento básico complementar absorvido na mudança na Lei da
Carreira, de 2005
|
-
Percentuais de acréscimo relativos à titulação e ao regime de trabalho
|
-
Reposicionamento dos servidores aposentados
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O
QUE DIZ O MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
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O
MEC afirma que que quem define a agenda de negociação é o Ministério de
Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG). O Ministério da Educação está com
uma proposta de plano de carreira pronta, para apresentar na próxima reunião
agendada pelo MPOG – basicamente priorizando a dedicação exclusiva e
titulação docente.
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Há quase um mês e meio, professores de universidades e institutos
federais do país decretaram greve. Docentes de 56 universidades federais
aderiram à paralisação nacional, segundo o sindicato da categoria, que pede
reestruturação do plano de carreira e melhores condições de trabalho. Entre as
queixas estão problemas de infraestrutura e falta de um maior número de
professores para atender à política de expansão das universidades federais
desenhada pelo Ministério da Educação (MEC). Servidores destas instituições
também estão em greve.
Para mostrar um pouco dos problemas que estudantes e professores
encontram nas universidade federais o G1 visitou duas
universidades importante de Pernambuco e conversou com alunos e
professores para conhecer a realidade das salas de aula.
As reclamações dos manifestantes vão desde piscina, que foi fechada por
falta de cloro na água, e um parafuso achado na comida do refeitório, até a
falta de livros nas bibliotecas e os laboratórios que têm equipamentos
defasados.
A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) tem campi no Recife, Caruaru e
Vitória de Santo Antão. Os dados mais recentes apontam que quase 27 mil alunos
estão matriculados na instituição. O campus da capital abarca 84% desses
estudantes. São 2.528 professores e 3.893 servidores técnico-administrativos
nos três campi, incluindo o Hospital das Clínicas. Ao todo, são 96 cursos de
graduação, sendo três a distância – sem contar as pós-graduações.
'É um puxadinho'
No campus Recife, não foi difícil encontrar alunos que criticassem a infraestrutura do local. Um dos campeões de reclamação é o curso de música. “É o ‘puxadinho’ da Federal”, diz o estudante Phillippi Oliveira. “É como se a gente pegasse salas emprestadas de outros cursos do CAC [Centro de Artes e Comunicação]. Não temos salas com tamanho nem acústica adequada. Também falta um estúdio para ensaios”, explica.
Sérgio Tavares concorda com o colega de graduação. Por causa do trabalho, ele adiou o sonho de cursar música e ficou meio desapontado quando a chance se concretizou. “Fiquei um pouco frustrado, pois uma estrutura melhor poderia motivar mais alunos e professores. Falta manutenção e até quem afine os instrumentos, porque tudo precisa passar por um processo de solicitação”, reclama.
Professor do curso de cinema da UFPE, Rodrigo Carreiro reconhece que a
estrutura melhorou nos últimos anos. “Meu grupo de estudos via filmes em uma TV
de 14 polegadas, com aparelho de videocassete trazido pela professora”, lembra
ele sobre a época em que fazia a graduação na universidade. “Mas, claro, a
infraestrutura ainda deixa muito a desejar, principalmente na parte de
laboratórios. O curso de cinema sofre bastante com isso, especialmente na parte
da imagem, pois faltam câmeras e equipamentos de iluminação de boa qualidade, e
som. Há microfone, gravador e mixer top de linha, mas apenas um exemplar de
cada”,diz.
Burocracia
Aluno de cinema, Alan Tonello criticou a falta de uma sala apropriada
para as aulas de som e equipamentos cinematográficos. “A gente pega, por
exemplo, câmera emprestada dos cursos de publicidade e de rádio e TV. Também há
problemas com as licitações. Uma vez pediram gravadores, mas não pensaram nos
cabos, então eles ficaram parados. Vários livros chegaram recentemente, mas a
filmografia ainda é feira com as nossas doações. Estou quase me formando e acho
que poderia ter feito um curso melhor”, fala.
Ao lado do CAC fica o Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), que
abriga o curso de geografia. Emanoel Vieira está no terceiro período da
licenciatura e já sofreu com a falta de títulos na biblioteca às vésperas das
provas. “Os banheiros do prédio também ficam muito sujos, as salas do meu andar
não têm ar-condicionado e, às vezes, temos que improvisar para algo dar certo.
Certa vez, não tinha auditório disponível e o professor pediu que colocassem
tapumes nas janelas para a claridade não atrapalhar a gente na hora de assistir
aos vídeos”, comenta.
'É uma vergonha'
A Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) tem cerca de 15 mil alunos espalhados pelos campi Recife, Garanhuns e Serra Talhada, incluindo os matriculados no ensino a distância (EAD). Ao todo, são 49 cursos de graduação, sendo nove EAD. Aproximadamente mil professores e mil técnicos-administrativos trabalham na Rural.
No campus Recife, que fica no bairro de Dois Irmãos, o G1 encontrou
muitas reclamações a respeito do curso de Medicina Veterinária. “É uma
vergonha”, resume o estudante José Gênison. “Faltam equipamentos e laboratórios
em todas as áreas, e o de anatomia não tem biossegurança. Também não há técnicos
administrativos de nível médio e superior para trabalhar nos laboratórios e no
hospital veterinário. Há livros comprados recentemente, mas não tem mais espaço
nas prateleiras da biblioteca para guardá-los”, aponta.
O hospital veterinário é o que recebe a maior crítica dos alunos. “Ele
não cumpre seu papel social nem educacional. Primeiro, ele não tem uma série de
atribuições, como plantão e internamento, para ser considerado hospital. Só faz
atendimento ambulatorial. As salas de cirurgia têm estrutura precária. Não deve
ter nem sabão para lavar as mãos. Depois, não temos médicos veterinários nem
técnicos para nos orientar nas aulas”, falou o estudante Paulo Lira.
Uma unanimidade entre os estudantes da UFRPE é o serviço do refeitório.
A qualidade do alimento servido e a pouca variedade no cardápio são as maiores
broncas. No último dia 9 de maio, o Diretório Acadêmico de Medicina Veterinária
e Agronomia denunciou à reitoria que um parafuso foi encontrado no prato de
comida servido a um estudante, no local.
Livro é de quem chega primeiro
Para o curso de biologia, a graduanda Raquel Gomes dá nota 6,5. “Há muitos equipamentos quebrados nos laboratórios, falta até microscópio, mas o pior é que não tem muitos livros na biblioteca. Fica para quem chegar primeiro. Estou terminando o curso e acho que meu desempenho iria melhorar com mais acesso a livros”, reflete.
No curso de Engenharia de Pesca, mais críticas. “Os laboratórios de química e física são muito defasados, quase não temos aulas experimentais por falta de material. Houve uma vez que alunos ficaram sem aulas de natação na piscina da universidade, que é a nossa disciplina de educação física, porque não tinha cloro, que eles disseram que compravam do Sul [do Brasil]. Não dá para entender isso”, diz o estudante Cláudio Della Vedova.
Professor do curso de história, Tiago de Melo Gomes também lamenta o
“número ridiculamente pequeno de livros na biblioteca central da Universidade”.
“Nós, professores, nem olhamos o acervo para indicar livros para os alunos.
Vários professores não têm gabinetes de trabalho. Também não temos laboratórios
e sala de aula. Temos de espalhar nossas salas pela universidade, onde
conseguirmos enfiar nossos alunos. Frequentemente, temos de fazer boas caminhadas
entre uma aula e outra, quando vamos de uma turma para outra que fica longe, o
que significa perder uns 15 minutos de aula, por exemplo”, informa.
O professor ainda resume a crítica feita por todos os entrevistados. “Em
linhas gerais, o que aconteceu sob [o governo de] Lula foi uma enorme expansão
do número de vagas nas universidades federais, sem que tenha havido uma
preocupação com a manutenção da qualidade. A infraestrutura simplesmente não dá
conta”, finaliza.
MEC vai aumentar número de professores
O ministério anunciou esta semana que vai contratar mais de 48 mil professores. Nesta terça-feira (26), o ministro Aloizio Mercadante destacou que é uma visão simplista achar que o Programa de Expansão e Reestruturação das Universidades Federais (Reuni) compromete a qualidade da educação superior.
Para ele, a interiorização das universidades permite reduzir as
desigualdades de acesso a essa etapa de ensino. Até 2003, havia 45
universidades federais e 148 campi. Com a expansão, até 2014 serão 63
universidades federais e 321 campi em todo o país.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
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Campi
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Recife, Caruaru e Vitória
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Alunos
|
27 mil
|
Professores
|
2.528
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Servidores
|
3.893
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Cursos
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96 graduações, sendo três a distância
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O que dizem as reitorias
Através de nota enviada pela assessoria de comunicação da Universidade Federal de Pernambuco, a instituição informa que o curso de Música ganhará um novo prédio que solucionará os problemas de espaço levantados pelos alunos. "As obras estão previstas para serem iniciadas no próximo ano. A diretoria do Centro de Artes e Comunicação está tomando providências para adequar as atuais instalações para atender às necessidades do curso".
No mesmo centro, outro curso muito criticado foi a graduação em Cinema,
com pouca quantidade de equipamentos nos laboratórios e uso de materiais de
outros cursos. "Novos equipamentos estão sendo adquiridos para o curso de
cinema. Os alunos utilizam os equipamentos e as instalações do Laboratório de
Imagem e Som do Departamento de Comunicação, que é compartilhado com os alunos
de publicidade, jornalismo e tádio, TV e internet. Portanto, não se trata de
empréstimo e o espaço é adequado às necessidades", diz a nota da UFPE.
Em relação às críticas dos alunos de geografia, a UFPE afirma estar
investindo, este ano, "R$ 1 milhão em novos títulos para as bibliotecas,
incluindo impressos e publicações digitais para suprir a demanda de todos os
cursos. Foi lançada uma campanha para que professores e alunos pudessem sugerir
os livros mais importantes para sua formação.
A primeira compra está sendo concluída, entre três programadas para este
ano".
Sobre as queixas dos estudantes do CFCH, em relação a infraestrutura, a
nota da UFPE informa que o centro "teve toda sua fachada recuperada no
reitorado passado e ainda é alvo de novos trabalhos de recuperação. As
construções recentes já atendem a esse padrão, como os dois prédios inaugurados
em abril, os Núcleos Integrados de Atividade de Ensino, que estão beneficiando
os alunos dos Centros de Tecnologia e Geociências e de Ciências Exatas e da
Natureza, em um edifício, e dos Centros de Filosofia e Ciências Humanas e de
Ciências Sociais Aplicadas, no outro. As salas de aula desses prédios são
climatizadas e possuem equipamentos de projeção".
UNIV. FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO
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Campi
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Recife, Garanhuns e Serra Talhada
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Alunos
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15 mil
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Professores
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Cerca de 1.000
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Servidores
|
Cerca de 1.000
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Cursos
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49 graduações, sendo nove a distância
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Captação de recursos
Também através de nota enviada pela assessoria de comunicação, a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) comentou as queixas feitas por alunos e professores. Sobre as condições do hospital veterinário, tido pela instituição como referência em suas especialidades, "a UFRPE reconhece que melhorias de infraestrutura precisam ser implantadas para o aperfeiçoamento das iniciativas de ensino, pesquisa e extensão" desenvolvidas no local, que realiza uma média de mil atendimentos mensais, entre consultas, exames e cirurgias em animais de pequeno e médio porte. Entre essas melhorias está o remodelamento da residência, "que hoje atende ao hospital, no Recife, e à Clínica de Bovinos, em Garanhuns. Em breve, a Unidade Acadêmica de Garanhuns terá um novo hospital veterinário".
A dificuldade para captação de recursos, um dos problemas apontados por
hospitais veterinárias de todo o país, segundo a assessoria da Rural, também é
realidade em Pernambuco. Esse quadro começou a ser modificado, desde que o
Ministério da Educação (MEC) reconheceu, este ano, os programas de residência
veterinária como pós-graduações latu sensu, o que garante novos benefícios,
como a adesão a programas de bolsas de estudo e investimentos em melhores
instalações e equipamentos.
Sobre a carência na Biblioteca Central, a nova diretoria tomou posse no
mês passado e está, inicialmente, reordenando o atual acervo. Ao fim da greve,
uma campanha será feita junto aos professores e pesquisadores para a aquisição
de novos livros em todas as áreas. Até o fim deste ano, está prevista a
conclusão da nova biblioteca para os departamentos de ciências sociais e letras
e ciências humanas. "O atual acervo dessas duas áreas, que se encontra
atualmente na Biblioteca Central, será ampliado e conduzido ao novo espaço, de
modo a resolver os atuais problemas de espaço físico da BC". Projetos para
outras duas bibliotecas setoriais - ciências exatas e ciências agrárias - estão
em elaboração.
Em relação ao serviço do Restaurante Universitário (RU), uma pesquisa
realizada entre janeiro e maio deste ano ouviu 610 estudantes. O resultado
aponta que "90% aprovam o sabor da comida servida; 66% qualificam a
variedade do cardápio como ótima ou boa". Segundo a assessoria,
"questões como melhorias de cardápio, de estrutura e de atendimento estão
sendo aperfeiçoadas constantemente pelos gestores". O RU mantém
atendimento normal à comunidade universitária durante a greve. Na unidade
acadêmica de Serra Talhada, as obras do restaurante universitário estão em fase
de conclusão.
Um novo edifício de seis andares vai abrigar o Departamento de Biologia.
O prédio já está concluído e conta com salas de aula, laboratórios de ensino,
gabinetes de docentes e outras dependências.
Para concluir o processo, falta instalar o mobiliário já adquirido e os
aparelhos de ar-condicionado, que se encontram em fase final de licitação.
Em relação às críticas ao curso de Engenharia de Pesca, a diretoria do
Departamento de Pesca e Aquicultura "não conseguiu identificar quais
seriam os supostos laboratórios referidos [pelos estudantes], já que os alunos
de graduação e pós-graduação participam de atividades em diversos
departamentos". Segundo a Rural, essa graduação está entre as três
melhores do Brasil na área, com 21 dos 24 professores sendo doutores ou
pós-doutores.
Já as demandas levantadas pelo professor do curso de História poderão
ser minimizadas com a construção do Departamento de Letras e Ciências Humanas,
que está em andamento, segundo a Pró-reitoria de Planejamento da Rural. Ainda
de acordo com a assessoria, as novas instalações "garantirão melhor
comodidade para a boa realização das atividades de ensino, pesquisa e extensão
da UFRPE".
Por fim, sobre a carência no quadro de servidores, a Pró-reitoria de
Administração afirma que a contratação de novos profissionais - para qualquer
setor da instituição - depende principalmente de autorização do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão.
FONTE: G1
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