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sábado, junho 30, 2012

Camisa Negra


A Itália levou para Eurocopa duas surpresas. Notáveis de imediato desde o rolar da bola na relva dos modernos estádios poloneses e ucranianos. A seleção famosa por melhor cumprir ocatenaccio, o cadeado, a retranca total,  exibiu o inverso, o futebol ofensivo, possível devido ao maestro condutor, senhor absoluto do círculo central do campo, o volante inteligente e habilidoso Pirlo – faz lembrar o santista Clodoaldo na epopéia do tri.
A outra novidade feita em Palermo, na Sicília, a partir de cromossomos ganeses chama-se Mario Balotelli, de 21 anos de idade, o primeiro atacante negro da Azzurra. O jogador do time inglês Manchester City foi autor de dois gols responsáveis por colocar a sua Itália e país dos seus pais adotivos na final contra a Espanha garantindo vaga na Copa das Confederações de 2013, no Brasil. Ademais, eliminou a toda favorita Alemanha repleta de talentos, mas hesitante nos momentos decisivos.
Contudo, foi o “terceiro gol” de Balotelli o mais emblemático de todos. Aos 37 minutos do primeiro tempo, depois de estufar as redes com um petardo impulsionado pela perna direita na entrada da grande área, tirou a camisa e fez pose de Mister Universo. Alguns acharam que era mais uma típica excentricidade de Balotelli, passível de cartão amarelo. Mas o gesto foi para consumo interno. Perfeitamente entendido em casa, na Itália, onde um racismo arraigado entra em campo de forma insidiosa e intolerável.
A derme de Balotelli, a outra “camisa negra”, diferente da vestimenta dos simpatizantes do fascismo de Mussolini, poderá matricular-se na história do futebol europeu. Seria muito estabelecer parentesco próximo com os punhos cerrados dos atletas americanos Tommie Smith e John Carlos, nos Jogos Olímpicos de 1968, em favor do movimento Black Power e pelo respeito aos direitos individuais nos Estados Unidos. Porém, há esperança que a imagem da “camisa negra” de Balotelli venha contribuir para atenuar a discriminação, um passo a mais no longo processo.
O futebol italiano passa por situação análoga ao da Inglaterra nos anos 1970, onde era corriqueiro insultar jogadores de macacos e ver bananas sendo atiradas no gramado. Balotelli conhece a situação desde a infância. Ele cresceu em Brescia, cidade na região da Lombardia, reduto do xenófobo Partido da Liga Norte. Balotelli tem qualificações para ser um exemplo pioneiro contra a intolerância. No entanto, será seu desempenho esportivo que fortalecerá a nobreza da causa. Jesse Owens é exemplo eloquente.
FONTE:VEJA / Por Antonio Ribeiro


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