Especialista
avalia comportamento do uruguaio
Depois
de morder zagueiro italiano, atacante está fora da Copa do Mundo. Fifa decidiu
cortá-lo de nove partidas da seleção e bani-lo por quatro meses de qualquer
atividade ligada ao futebol
Impulso?
Acesso de raiva? Resposta à pressão? O atacante uruguaio Luis Suárez está fora
da Copa do Mundo após a decisão da Fifa em cortá-lo de nove partidas da seleção
e bani-lo por quatro meses de qualquer atividade ligada ao futebol. Para
completar, uma multa de 100 mil francos suíços (cerca de 247 mil reais), e a
proibição de permanecer em qualquer ambiente que tenha vínculo com a Federação,
ou seja, ele terá que deixar o hotel em que os companheiros estão concentrados.
O motivo? A mordida que o goleador deu no ombro do zagueiro italiano Giorgio
Chiellini, nesta terça-feira, em Natal (RN).
O
incidente 'mordida' não é novidade na carreira de Suárez. Ele apresentou
comportamento semelhantes quando jogou na Holanda e na Inglaterra, em jogos com
as camisas de Ajax e Liverpool. Em 2010, tomou uma suspensão de sete jogos no
futebol holandês. Em 2013, foram dez jogos no campeonato inglês e a sugestão de
uma terapia para 'controle da raiva'. Envolvido ainda em acusações de racismo e
milhares de 'memes' pela internet, o artilheiro tem esperança de se emendar?
De
acordo com professor do departamento de Psicologia Social da PUC de São Paulo,
Hélio Deliberador, sim. “Essa mordida representa, de certa forma, uma dimensão
humana, demasiadamente humana da Copa. Foi um momento de comportamento
irracional, que se expressou dessa maneira bizarra. Ao invés de se expressar
verbalmente, como é muito comum no campo; ou com um drible, Suárez agrediu o
zagueiro italiano com a mordida. Mas sim, se ele parar para pensar porque
continua fazendo isso e aceitar realizar uma análise, ele pode se livrar do
comportamento de mordedor”, afirma o especialista.
Depois
de receber a notícia de sua eliminação da Copa, Suárez chorou. “Uma associação
recorrente é com o menino que morde o coleguinha e depois tiram o futebol dele.
De fato, é um comportamento incomum em adultos”, acrescenta o professor,
descartando comparações. Quando alguém atira um objeto no outro durante uma
briga, temos uma conduta irracional e agressiva, mas cada caso é um caso. “Cada
coisa tem que ser analisada separadamente.
A mordida é característica de
crianças pequenas, de até 3 anos. Elas atacam aquela pessoa que as impedem de
conseguir o que querem. É possível que, no caso do jogador, também esteja
ligado a um trauma infantil, mas para fazer essa análise seria necessário
conhecer sua biografia ou conversar com ele”, pontua o psicólogo.
O
atacante, que se recuperou recentemente de uma lesão no joelho e voltou em
grande estilo para a Copa do Mundo, marcando dois gols contra a Inglaterra,
significa uma grande perda para a seleção uruguaia e também para o futebol.
“Infelizmente, ele se expôs ao julgamento da Fifa com esse comportamento. Por
mais que eu ache a punição severa demais, alguma medida era necessária para
mostrar ao artilheiro que ele não pode agir dessa forma”, completa Deliberador,
que é fã de futebol e considerou a pena rígida como uma expressão da preocupação
da Fifa com a violência dentro e fora de campo.
Segundo
o professor, nas disputas esportivas, há um limite muito tênue entre o épico e
o trágico. “Um atleta tem que saber lidar com situações de stress e usar outros
recursos diante da pressão. De herói, Suárez passou a vilão. E a mordida
tornou-se a imagem da Copa até agora”, destaca.
Hélio
Deliberador lembra ainda que todos nós estamos sujeitos a um momento assim, e
não há necessidade de demonizar. “No jogo contra a Croácia, Neymar deu uma
cotovelada no adversário e isso lhe rendeu um cartão amarelo. As duas ações não
têm sentido, não têm utilidade prática no jogo. Mas, em situações extremas,
alguns atacam, outros desmaiam. O caso de Suárez chamou a atenção por ser mais
bizarro. Afinal, ao contrário de leões e lobos, nós normalmente só usamos a
boca para nos defender com palavras”, conclui o especialista. “Falo com pesar
no coração, mas Suárez foi punido por uma conduta que não é considerada
legítima no jogo. É lícito disputar espaço, brigar pela bola, usar o corpo para
proteger. Mas não é lícito morder”, finaliza.
FONTE: Letícia
Orlandi - Saúde Plena
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