Os partidos adversários na
esfera nacional se unem e acabam dando palanque para mais de um presidenciável
A pouco mais de três meses para
as eleições brasileiras, os partidos decidiram mais uma vez dar um nó na cabeça
dos eleitores. Na maioria dos Estados as legendas locais não seguirão as
composições feitas na disputa presidencial e terão de dar palanque para mais de
um candidato. Assim, o mesmo concorrente ao governo que pede votos para a
petista Dilma Rousseff acabará apoiando o socialista Eduardo Campos. Não se
espante se houver casos em que um candidato se apresente como tucano-petista,
ao apoiar a presidenta e, ao mesmo tempo, se juntar a Aécio Neves, do PSDB.
Levantamento feito pelo EL PAÍS
mostra o seguinte quadro nas 27 unidades da Federação: o PT já decidiu lançar
candidatos ao governo em 18, o PSB lançará em 12 e o PSDB, em 15. Nas demais
localidades ainda não sabem que rumo tomar ou vão apoiar outros nomes, boa
parte deles do PMDB, o partido que quase nunca é oposição no Brasil. Esse
cenário ainda pode mudar até 5 de julho, quando acaba o prazo para as legendas
registrarem suas coligações no Tribunal Superior Eleitoral.
São Paulo, Paraná, Rio de
Janeiro, Rio Grande do Norte e Maranhão são alguns dos Estados em que ocorrerá
essa esquizofrenia política. No mais populoso Estado do país, o governador
Geraldo Alckmin, do PSDB, anunciou que se coligará com o PSB, de Campos. A
aliança paulista gerou uma crise interna no reduto socialista porque a vice de
Campos, Marina Silva, defendia uma candidatura própria. Assim, Alckmin dará
suporte para os dois principais opositores de Rousseff.
Crise semelhante ocorre no
Paraná, onde os socialistas apoiarão a candidatura à reeleição de Beto Richa
(PSDB) e a descontente Marina Silva vai pedir votos para um candidato do
Partido Verde.
No Rio de Janeiro, foi o PT que
iniciou uma ruptura com a base que apoiou Rousseff nas últimas eleições, ao
lançar Lindbergh Farias para o governo confrontando o antigo aliado Luiz
Fernando Pezão, do partido do atual vice-presidente Michel Temer. Coube a Pezão
se juntar ao PSDB e ao PSB ao mesmo tempo. Essa possivelmente será uma das
composições menos compreensíveis para o eleitor, já que Pezão se diz amigo de
Rousseff, mas pedirá votos para dois opositores dela.
O mesmo ocorre no Rio Grande do
Norte. O candidato do PMDB, Henrique Eduardo Alves, é o presidente da Câmara
dos Deputados e sempre esteve ao lado de Rousseff. Mas, ao invés de dar suporte
a ela, se aliou aos dois oposicionistas. No Maranhão, reduto da família Sarney,
o comunista Flávio Dino, que apoia Rousseff nacionalmente, também pedirá votos
para o tucano Aécio, com quem formalizou um acordo.
A confusão para o eleitorado
também chega ao Rio Grande do Sul, onde os socialistas, contrários ao governo
Rousseff, pedirão votos para um aliado dela, José Ivo Sartori, do PMDB. Na
região central, em Mato Grosso do Sul, os socialistas tomaram o mesmo rumo e
subirão no palanque peemedebista, que pedirá votos para Rousseff e Campos.
A falta de coerência nas
alianças regionais predomina há anos no Brasil. Ela tentou ser quebrada com a
regra da verticalização, que vigorou apenas nos pleitos de 2002 e 2006 e previa
que as coligações nacionais deveriam ser repetidas nos Estados. Porém, desde o
pleito de 2010, o Judiciário liberou as alianças. “Se há algum idealismo na
política no Brasil ela ocorre na esfera federal. Nos Estados há a política do
canibalismo, em que as conveniências locais prevalecem”, afirmou a cientista
política Aline Machado.
Autora do livro “Alianças
eleitorais: casamento com prazo de validade”, Machado diz que a briga por
cargos costuma prevalecer na hora de se fazer conchavos políticos. Além disso,
analisa ela, a maioria do eleitorado brasileiro não está tão atenta às
diferenças entre as coligações. “Só quem sabe sobre as alianças é o eleitor do
PSDB, que é o leitor de jornal, a classe média alta. Quem vota no PT, que
recebe Bolsa Família, não se preocupa com isso e por isso a Dilma ainda é
forte”, afirma.
Em cima do muro
Pelo cenário que se desenha no
país, outra característica eleitoral que fica bastante clara é que o fiel da
balança nos Estados será mais uma vez o PMDB. Há anos, os peemedebistas não
desgrudam do poder nacional. Deram apoio a todos os presidentes eleitos desde o
fim da ditadura militar (1964-1985). Atualmente, está com Rousseff, ao indicar
o vice-presidente Michel Temer. Na convenção que reafirmou esse apoio, contudo,
os peemedebistas deixaram bem exposta essa rachadura do partido: 41% dos
votantes optaram por romper com os petistas.
Para não desagradar tanto as
bases locais, os caciques peemedebistas decidiram por liberar as alianças
regionais. É aí que a confusão se amplia. Os peemedebistas do Ceará se juntarão
a Aécio Neves, enquanto que os do Rio Grande do Sul, estarão com Eduardo
Campos.
A bagunça é grande também com partidos
pequenos e recém criados, como o Solidariedade e o PROS. Aquele seguirá com os
tucanos em alguns Estados enquanto esse apoia o PT, mas quer mudanças nos
ministérios em um eventual segundo mandato de Rousseff.
Muita coisa ainda pode mudar,
já que falta pouco mais de uma semana para a oficialização das alianças. E esse
é apenas o início da união, ainda que efêmera, de várias sopas de letrinhas.
Em troca de apoio, os partidos
forçam mudanças no Governo
A coligação que elegeu Dilma
Rousseff em 2010 não deverá se repetir na candidatura dela à reeleição neste
ano. Para piorar sua situação, parte dos partidos que entraram no seu governo
no início do mandato já começam a abandonar a nau petista.
O PSB entregou os cargos no ano
passado, quando Eduardo Campos decidiu concorrer à presidência. O PDT viveu
crises, mas decidiu ficar. O PTB, que sempre foi da base governista, apesar de
ter apoiado José Serra na eleição passada, repetirá a coligação com o PSDB,
agora dando suporte a Aécio Neves.
A saída dos petebistas, aliás,
ligou o sinal amarelo na gestão Rousseff que, para não perder o PR, decidiu
trocar o ministro dos Transportes, uma antiga demanda da legenda. O novo
trabalho da presidenta agora é conter uma iminente saída do PP e do PSD, ambos
com ministérios.
Em São Paulo, por exemplo, o
PSD já decidiu que não estará ao lado do candidato Alexandre Padilha, do PT. O
presidente da sigla, o ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab, disse que há
três opções: lançar candidatura própria ao governo (tendo Kassab ou o ex-presidente
do Banco Central Henrique Meirelles), apoiar o tucano Geraldo Alckmin ou seguir
com o peemedebista Paulo Skaff. Apesar de já ter dado sua palavra para
Rousseff, o PSD quase mudou de lado nacionalmente também. A convenção nacional
realizada nesta quarta-feira, porém, contou com a presença de Rousseff para
fazer um agrado e garantir o apoio do partido que lhe dará 3 minutos na
propaganda eleitoral de rádio e TV.
Já o PP, ficou mais animado
para deixar os petistas de lado quando viu que a senadora pelo Rio Grande do
Sul Ana Amélia, foi sondada para ser candidata a vice na chapa de Aécio.
Até legendas nanicas têm saído
do governo ou ameaçado sair. O PSC vai lançar candidato próprio, o pastor
Everaldo Pereira. Enquanto o PTC decidiu apoiar os tucanos. Já o PROS, um dos
caçulas da política nacional, decidiu apoiar a reeleição da petista, mas pediu
a saída do ministro da Fazenda, Guido Mantega, em caso de vitória.
As mudanças nas alianças
políticas não afetam só Rousseff. O PSDB também teve uma perda considerável, se
comparada as eleições de 2010. O PPS, que nos últimos anos caminhou com os
tucanos, estará ao lado de Eduardo Campos, do PSB.
FONTE: BRASIL/EL PAÍS - AFONSO BENITES
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