Entramos no mês de junho no Rio Grande sem que o cenário eleitoral em relação às candidaturas majoritárias esteja completamente definido, o que se não é inédito é muito raro num estado tão polarizado politicamente como o nosso. Esta circunstância por si só demonstra a complexidade da conjuntura estadual.
O PT abre o mês em vantagem, lançando uma chapa com Tarso e Olívio, contando com a presença de Lula e Dilma. O fator Olívio foi a grande novidade dos últimos dias. Uma chapa Tarso/Olívio remete para a mítica eleição municipal de 1988, onde tudo começou, unifica todo o partido sem traumas e traz para a campanha um enorme símbolo de ética na política. Com a candidatura de Dilma , a presidente que mais benefícios trouxe ao estado nas últimas décadas, o PT apresenta em 2014 a mais forte chapa de sua história no Rio Grande do Sul. Em relação às alianças eleitorais , Tarso acabou numa situação confortável. A transição do PC do B para a vice-governança foi suave e o PTB pôde concentrar-se nas candidaturas proporcionais , até porque sabe que seu real peso numa futura administração está diretamente relacionado ao tamanho de suas bancadas. Mesmo perdendo o PSB e sem atrair o PDT , alvos iniciais dos petistas, a coalizão de Tarso terá o maior tempo de televisão, o que ajudará a mostrar as realizações de seu governo.
Assim, embora as últimas pesquisas tragam Tarso ainda alguns pontos atrás de Ana Amélia, a chapa liderada pelo PT encontra melhores condições do que no fim do ano passado e entra no partidor com reais chances de vencer o páreo.
O PMDB também cresceu muito em relação à conjuntura de 2013. Atraiu o PSB para sua chapa, afastando-o de Ana Amélia , que investiu bastante em contar com os socialistas. A presença do PSB revigora um PMDB que vinha combalido de 2010 e a recente entrada do PSD e de um líder empresarial respeitado como José Cairoli na chapa configura um forte sopro de renovação política na coalizão que durante anos e anos polarizou a política no estado. A chapa Sartori/Cairoli/Beto, apoiando nacionalmente a Eduardo Campos, buscará apresentar-se como a novidade política no pleito.
Mas o PMDB entrará na eleição profundamente dividido. Nacionalmente o partido fará campanha para Dilma ( o que, aliás, se dará também com o PSD de Cairoli) e a presidenta conta com fortes apoiadores no PMDB gaúcho. O processo de fritura de Germano Rigotto, aparentemente comandado pelo próprio Simon, também contribuiu para aumentar a crise interna. Os nomes da chapa , embora sem manchas ou problemas, são pouco conhecidos do eleitorado e um partido dividido diminui as chances de suprir esta desvantagem durante a campanha. O PMDB não será mais mero figurante na eleição mas dificilmente conseguirá ser um grande protagonista.
Já o PDT lutará para não desaparecer. A opção comandada por Vieira da Cunha de afastar o partido do PT ainda carrega o risco de levá-lo à irrelevância política no estado. Não conseguiu atrair nenhum partido de peso para sua coalizão e só foi salvo do brete absoluto pela presença do DEM na chapa, o que, convenhamos, em nada acrescenta ao trabalhismo no Rio Grande. Este casamento de conveniência , onde Ônix Lorenzoni consegue a legenda para se eleger ( Ônix faz boas votações, mas o DEM sozinho não atingiria o quorum para eleger um deputado sequer) e o PDT sai do isolamento completo e obtém preciosos segundos na televisão , dificilmente catalisará um bom desempenho eleitoral , até porque não consegue unificar minimamente o discurso , nem o palanque . Vieira busca ainda alguns nanicos ,como o PSC e o PV, para superar os 2 minutos de tempo de TV, o mínimo para não submergir totalmente na eleição, mas talvez pague o preço de ter 4 partidos na coalizão que apóiam 4 diferentes candidatos presidenciais, o que certamente entrará para o folclore político nacional em lugar de destaque… Lasier Martins tem reais chances de eleger-se senador, mas pouco acrescenta aos trabalhistas como força política. Ninguém em sã consciência considerará eventual eleição de Lasier uma vitória do PDT. O que pode salvar o partido é sua boa bancada de candidatos proporcionais , mas que lutarão sozinhos , sem uma chapa majoritária que lhes dê suporte , bandeiras e linha política.
A ultra-esquerda ainda luta para entrar unificada e sofreu um baque com a impossibilidade da candidatura no estado de Luciana Genro, legalmente impedida de concorrer por ser filha do Governador. Normalmente estes partidos são o desaguadouro do voto de protesto, mas este depende de figuras carismáticas. Ninguém protesta votando em siglas. Após as jornadas de junho de 2013 , a ultra-esquerda passou a cobiçar o voto das classes C, D e E que ascenderam no período Lula/Dilma , mas esta estratégia encontra duas grandes dificuldades. A primeira é que os protestos de junho tiveram bandeiras muito difusas ( “ contra tudo o que está aí”) e por isso é muito difícil uma síntese eleitoral que galvanize seus participantes. E , em segundo lugar, o mais perto de um resumo daqueles protestos que se pode chegar é a vontade destas classes economicamente subalternas de obter mais e melhores serviços públicos, o que torna a tática central de PSOL e PSTU de atacar o governo petista antes e acima de tudo ( tributários que são da velha compreensão de que a social-democracia é igual ou pior que a direita) um contrassenso, eis que estes setores não rejeitam o PT , mas querem ir além dele. É pouco provável que a ultra-esquerda saia de seu gueto nestas eleições.
Por fim, Ana Amélia , a líder das pesquisas até aqui. Unificando a direita tradicional gaúcha, calcada na bandeira do agronegócio, que vem puxando nossa economia , e escorada na tradição dos gaúchos de não reeleger seu governador , muito provavelmente porque a permanente crise financeira do estado torna frustrantes quaisquer governos, Ana Amélia é de fato, neste momento, a favorita para vencer o pleito.
Não é irrelevante , porém, que falhou o principal movimento político que vinha preparando há dois anos: a caminhada ao centro político. Desde que apoiou a jovem comunista Manuela à Prefeitura de Porto Alegre, Ana Amélia tentou afastar-se do brete à direta , projetando uma imagem mais centrista. Ela sabe que num eventual segundo turno ser a “ candidata dos fazendeiros” pode levá-la á derrota, limitando o indispensável crescimento no eleitorado dos centros urbanos. Mas o principal movimento nesta tática era contar com o PSB em sua chapa , o que tornou-se impossível pela resistência das bases socialistas e de Marina Silva. Outro fator de crise que atrapalha sua largada é a indefinição em relação à candidatura do Senado. Todos sabem que informalmente a chapa é Ana Amélia/Lasier , mas esta não é uma fórmula fácil de assumir, porque remete para a consolidação de uma chapa com flagrante ligação a um poderoso grupo econômico , outra enorme dificuldade numa eleição polarizada. Já há pichações em Porto Alegre com a palavra de ordem “RGS x RBS”, um terrível resumo que assusta o PP e seus aliados. Mas não será fácil achar um candidato decente que aceite ser cristianizado ( na clássica alusão a Cristiano Machado, o candidato a Presidente do velho PSD em 1950, quando o partido na verdade fazia campanha para Getúlio Vargas, que concorria sob a sigla do PTB).
Mas Ana Amélia domina a televisão, terá abundantes recursos e acertou ao escolher o mote da “Esperança” para sua campanha, visando faturar um sentimento difuso de insatisfação e desejo de mudança. Dividirá com Tarso Genro o centro do palco.
Não é um quadro definitivo, portanto. Três das cinco chapas sequer estão completas. A Copa do Mundo, seus protestos e demonstrações, traz grande instabilidade ao quadro político. A tendência é a polarização entre Tarso e Ana Amélia, mas o PMDB reforçou sua posição na eleição e os efeitos desta chapa “ moderna” ainda não estão claros. Quebrará a polarização? Tirará votos de Ana Amélia? O cenário eleitoral gaúcho , pois ,está quase definido , mas ainda há muitas incertezas.
FONTE: SUL 21 / Antônio Escosteguy Castro é advogado.
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