Conheça os diferentes grupos que tem atuado na
guerra civil do Mali
País de divisões
econômicas, sociais e históricas intensas entre sul e norte, o Mali enfrenta
quatro diferentes grupos armados na guerra civil que atingiu o país desde o
início de 2012.
Com o recrudescimento do conflito, houve muita confusão inicial para identificar
os objetivos e origens de cada um deles.
O conflito começou entre o governo e grupos separatistas do norte, pertencentes
ao povo tuaregue. Os grupos de orientação islâmica que hoje combatem juntos as
tropas do governo auxiliado pela França apareceram posteriormente. Eles se
aliaram aos separatistas na tomada da região e romperam meses depois, tomando o
controle das cidades.
Conheça abaixo os principais atores desse conflito:
Tuaregues
Povo berbere de natureza nômade localizado entre a região do deserto do Sahara
e do Sahel. Sua população no Mali é estimada em 450 mil pessoas, basicamente
concentradas na região norte, com línguas e costumes diferentes do sul.
São seguidores do Islã misturado a tradições locais – por serem
majoritariamente nômades, por exemplo, nem todos tem possibilidade ou costume
de seguir o Ramadã à risca. Seguem uma corrente sufista (que não interpreta o
Islã de forma literal), o que vai de encontro aos princípios da sharia No
século XX, quatro grandes rebeliões tuaregues são registradas na região desde
1914, a última em 2009.
Conheça o histórico de rebeliões tuaregues e a história de conflitos do Mali
aqui.
MNLA (Movimento Nacional pela Libertação de Azawad)
Muitos dos atuais insurgentes do MNLA lutaram nos dois lados na guerra civil da
Líbia em 2011, que terminou com a queda do regime do coronel Muamar Kadafi
(1969-2011). Formado em 23 de outubro de 2011, três dias após a morte de
Kadafi. Voltaram para o Mali, em sua maioria, sem emprego, mas fortemente
armados.
O MNLA, formado por milicianos separatistas tuaregues, é um grupo secular
secular. Mas, para conquistarem o norte do Mali (ver histórico abaixo), contaram
com ajuda de grupos armados de orientação islâmica. Posteriormente à conquista
da região, em abril de 2012, e a declaração (não-reconhecida) da independência
de Azawad, entraram em conflito com os grupos islâmicos, perdendo o controle
das principais cidades em julho. Atualmente, apoiam o governo do Mali e a
intervenção francesa.
Ansar Dine (Defensores da Fé, em árabe)
Começou suas operações em março de 2012, ao ajudar os separatistas do MNLA a
tomarem o controle do Mali. Seu objetivo declarado é a imposição da sharia em
todo o território. O grupo se opõe à orientação sufista, tradição entre os
tuaregues.
Após a tomada da histórica cidade de Timbuctu, em abril de 2012, o fundador e
líder da organização, Iyad ag Ghaly deu uma entrevista à rádio local anunciando
a aplicação da sharia e seus respectivos detalhes: imediata obrigatoriedade do
uso de véu nas mulheres, apedrejamento de adúlteras e mutilação de ladrões.
Logo após o anúncio, boa parte da população cristã fugiu para outras cidades.
Foi o principal com o Ansar Dine que o MNLA teve o maior número de
atritos.
O Ansar Dine nega
relações com a Al Qaeda, afirma não ter envolvimento com o sequestro de reféns
no campo de tratamento de gás em uma petrolífera no sul da Argélia.
Aqim (sigla em inglês de Al Qaeda no Magreb
Islâmico)
Existente desde
1998, tem base no Mali. A maioria de seus integrantes é de origem argelina, mas
também atua na Mauritânia, no Chade, Níger, Nigéria e Líbia. Tem como principal
objetivo transformar esses países em estados islâmicos.
Além das ligações confessas com a Al Qaeda, seus integrantes são acusados de se
utilizarem de métodos como sequestros, tráfico de armas e cigarros,
extorsões e lavagem de dinheiro.
Mujao (Movimento pela Unidade e Jihad na África Ocidental)
Dissidência da Aqim. Seu objetivo é a implementação da jihad (guerra islâmica)
na África Ocidental. A Aqim, de maioria argelina, teria se afastado desse
princípio, segundo os fundadores, do Mujao Em sua principal batalha, ajudou o
Ansar Dine a tomar a cidade de Gao do MNLA em junho do ano passado.
Os três grupos islâmicos também contam com ajuda militar, estratégica e
financeira do grupo extremista Boko Haram, baseado na Nigéria.
Para o senegalês Hamidou Anne, especialista em relações Internacionais
africanas e membro do think tank africano Terangaweb, a coalizão dos três
últimos grupos de orientação islâmica tratam-se não tem na religião o único
desafio: eles também têm interesses econômicos e políticos envolvidos.
“A religião é só um pretexto. Muitos desses dirigentes não creem mais no que
pregam, o que realmente querem são duas coisas: desenvolver uma ideologia
marcada por uma série de violações de direitos humanos sob desculpa da sharia;
mas também prosperarem através de uma economia ‘do mal’, baseada em sequestros,
contrabando de cigarros, tráfico de drogas. E depois pregam o islã. O que lhes
fornece recursos para colocarem na prática seu projeto totalitário”, afirma.
Ele lembra que a principal vítima desses conflitos têm sido os próprios
muçulmanos. “A reação dos malineses face a ataques fundamentalistas é
semelhante a dos nigerianos com o Boko Haram: esse não é o meu islã. O Corão é
claro, ninguém se tornará muçulmano obrigado”, diz o especialista.
FONTE: ÓPERA MUNDI
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