Brasil terá 12 estádios prontos, mas as demais obras de infraestrutura patinam em sua maior parte
As obras necessárias à realização da Copa 2014 seguem, em etapas e ritmos distintos. As obras dos estádios caminham relativamente bem, em maior ou menor grau. Certamente, o Brasil terá 12 estádios prontos para a Copa da Fifa (alguns, provavelmente na véspera da abertura do campeonato mundial de futebol).
Mas as demais obras de infraestrutura - que do ponto de vista da população são as mais importantes, já que constituem o legado de longo prazo ao país - ainda patinam em sua maior parte. Isto após mais de quatro anos após a confirmação do Brasil como sede da Copa 2014, em outubro de 2007. O nome do problema é falta de planejamento, para o qual houve tempo mais do que suficiente para ser feito, e bem desenvolvido.
O setor mais ilustrativo dessa falta de planejamento reside nos aeroportos. Em segundo lugar, as obras de mobilidade urbana. Não por acaso, esses são dois pontos fundamentais para a percepção que os mais de 600 mil turistas estrangeiros terão sobre o Brasil em 2014. No caso dos aeroportos, a atual situação beira o colapso, pois a maioria dos terminais aeroportuários brasileiros opera bem acima da sua capacidade, e é algo que poderia ter sido evitado se a Infraero tivesse conseguido desenvolver um planejamento rigoroso e contratado projetos de qualidade no prazo adequado. Isto poderia ter propiciado o desenvolvimento de projetos executivos detalhados, com o necessário atendimento aos requisitos ambientais e a aprovação pelos órgãos responsáveis por essa área e a execução dos investimentos e obras necessários no prazo adequado; as obras deveriam ter sido iniciadas há cerca de sete anos e as ampliações requeridas já estariam prontas. Como nada disso foi feito, ao contrário, a Infraero não contratou, de maneira geral, os melhores projetos do ponto de vista técnico, que continham problemas técnicos e não obtiveram as licenças ambientais exigidas.
"Das 49 obras previstas pelo governo na nova matriz
de responsabilidades e no chamado PAC da Copa,
apenas dez estão em andamento. As intervenções
ocorrem somente em cinco cidades-sede"
Assim, chegou-se à atual situação, muito problemática. A alternativa da estatal responsável pelos aeroportos brasileiros foi recorrer aos Módulos Operacionais Provisórios (MOP), mero paliativo para a ausência de um programa permanente de expansão da capacidade aeroportuária. O recente desabamento parcial da cobertura da obra do Terminal Remoto em Cumbica, que atrasará em pelo menos dois meses a entrega desse importante reforço para o desembaraço mais rápido de passageiros e bagagens no aeroporto mais congestionado do país, tem valor simbólico e pedagógico. Explicita a necessidade de projetos bem feitos, cuja execução deve ser acompanhada por gerenciamento e fiscalização independente e de qualidade, a fim de evitar problemas derivados de má execução. Mesmo para fazer um “puxadinho” é preciso respeitar as boas práticas da Engenharia!
Em relação às obras de mobilidade urbana, há situações diferenciadas em cada capital sede de chave da Copa 2014, que estão em etapas e ritmos diversos. Das 49 obras previstas pelo governo na nova matriz de responsabilidades e no chamado PAC da Copa, apenas dez estão em andamento. As intervenções ocorrem somente em cinco cidades-sede: Belo Horizonte (cinco obras), Cuiabá (uma), Porto Alegre (duas), Recife (uma) e Rio de Janeiro (uma). Mais 24 obras serão iniciadas nos primeiros meses de 2012. Em Fortaleza e Curitiba, a previsão era de que duas adequações começariam em dezembro último. Salvador e Recife têm obras atrasadas; a capital baiana vem postergando há mais de uma década a conclusão das obras do metrô local.
Uma das capitais mais bem situadas nessa área, em relação à Copa, é São Paulo, fruto dos investimentos em transportes públicos de massa feitos pelos governos estadual e municipal na última década e que permitem o transporte hoje de até 100 mil pessoas/hora por sentido até a futura arena corintiana. Isto porque a região de Itaquera, ao lado do estádio, já possui uma linha do metrô e outra de trens urbanos, da CPTM, além de melhorias no sistema viário. Esses fatores, que permitem o transporte de massa, fazem enorme diferença, comparados aos pouco expressivos investimentos em mobilidade urbana de outras capitais.
Na região Sul, Porto Alegre e Curitiba, esta por já possuir sistema de transporte de boa qualidade e com capacidade expressiva, também não deverão ter maiores problemas relacionados ao deslocamento de pessoas na Copa. Em escalão intermediário, situa-se o Rio de Janeiro, que desenvolve obras de metrô (expansão até a Barra da Tijuca) e BRTs, em três troncos interligando suas principais regiões.
Em São Paulo, há ainda diversos outros projetos e ações públicas, estaduais e municipais, nas áreas de promoção e gestão de eventos, serviços ao turista, segurança, acessibilidade, saúde e entretenimento que deverão ser colocados em prática a partir de 2012 pelo governo do Estado/prefeitura paulistana.
Esses fatores pesaram inevitavelmente na balança e certamente influenciaram a decisão da Fifa de escalar para São Paulo o jogo de abertura, Congresso e Seminário de Árbitros da entidade. Além desses diferenciais, há algumas evidências de que a capital paulista enfim começa a desenvolver o planejamento de longo prazo, para um horizonte de três décadas adiante, com o projeto batizado de SP2040, Visão e Plano de Longo Prazo para a Cidade de São Paulo. Desenvolvido pela prefeitura paulistana, através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU), a meta desse projeto é traçar hoje os rumos da cidade com base em cinco eixos fundamentais: promoção do equilíbrio social, desenvolvimento urbano e sustentável, mobilidade e acessibilidade, melhoria ambiental e oportunidade de negócios. A meta é certamente louvável. Resta saber se esse planejamento terá continuidade nas futuras administrações, com as inevitáveis e necessárias adaptações com o passar do tempo, rompendo com outro flagelo brasileiro: a descontinuidade de projetos de governo, quase sempre tomados como projetos de uma administração e abandonados pelo novo governante.
A constituição, pela prefeitura de São Paulo, de um Conselho Consultivo, recém-instalado, composto por representantes da sociedade civil paulistana, pretende ser um instrumento útil para a continuidade do plano, visando a garantir a sua eficácia, promover as correções de rota necessárias e a sua continuidade pelo prazo proposto. Assim como São Paulo conquistou a credibilidade da Fifa com um trabalho paciente e persistente, as futuras administrações precisarão privilegiar o planejamento e a continuidade de projetos que ultrapassem o horizonte de uma administração, ou seja, projetos com visão de longo prazo. Esse é um exemplo que deveria ser seguido pelos administradores públicos, de todas as esferas de governo. Afinal, o futuro virá inexoravelmente, e ele será tanto mais próximo do que idealizamos, e tanto mais distante do que NÃO queremos, quanto melhor o definirmos hoje, através de planos e projetos, seguidos de ações coerentes e continuadas.
*José Roberto Bernasconi é presidente do Sinaenco/SP e coordenador para Assuntos da Copa da entidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário