Ladeado por
plantações de fumo e milho, um distrito rural no extremo sul do país mantém a
rara tradição de dividir os fiéis luteranos em duas igrejas, separadas por
apenas um quilômetro. Uma delas é "dos negros" e a outra, "dos
alemães".
A origem da
divisão está na proibição, no início do século 20, de ex-escravos e seus
descendentes frequentarem os cultos dos imigrantes que vieram da Europa.
Entrar em uma ou
em outra igreja não é mais proibido. O costume de rezar em templos separados,
porém, permanece em Canguçu, a 300 km de Porto Alegre.
A cidade tem o
maior percentual de habitantes na zona rural do país (63%). A maioria dos
agricultores é de descendentes de alemães ou de remanescentes de quilombos.
A Folha visitou,
em março, um culto da congregação Manoel do Rego, fundada em 1927. A maioria
dos 28 presentes eram negros quilombolas.
Perto dali,
andando por uma estrada de terra, chega-se à congregação Redentora, dos
alemães. O pastor de ambas igrejas é Edgar Quandt, 62, descendente de europeus.
Os principais
ramos luteranos no país, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e
a Igreja Evangélica Luterana do Brasil - à qual pertence a Manoel do Rego -,
não têm registros de outro grupo semelhante.
Segundo o
professor Ricardo Rieth, da Universidade Luterana do Brasil, o caso de Canguçu
é isolado, pois as igrejas luteranas não permitiam a entrada de negros.
Hoje, as duas
congregações realizam festas conjuntas. "Não há discriminação, como às
vezes parece de fora. Há uma integração muito boa em toda a nossa igreja",
afirma o pastor Quandt.
A ideia de
unificar as duas igrejas foi debatida, mas a decisão foi de manter "cada
um na sua", diz o presidente da associação quilombola do local, Marco
Antônio Matos, 40.
FONTE:IHU.Unisinos / A reportagem é de Daniel Cassol e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 21-04-2013.
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