Apontado como o episódio que marcou de forma trágica o
sistema penitenciário brasileiro, há pelo menos 20 anos, o massacre do
Carandiru começa a ser julgado nesta segunda-feira (8), em São Paulo, com o
júri popular de 26 policiais militares acusados pela morte de 15 presos do
complexo, desativado em 2002. Ao todo, 79 PMs respondem pelo crime, no qual 111
presos foram assassinados, e outros 87 ficaram feridos em 2 de outubro de 1992.
Para o Ministério Público, a maior dificuldade no julgamento
não será de ordem pericial –recentemente, o IC (Instituto de Criminalística)
informou ao Judiciário ser impossível, por razões técnicas, o exame de
confronto balístico que prove a individualização na autoria dos disparos.
"A questão crucial desse julgamento, ou o ponto mais
complexo, nem é a questão das provas, mas a questão ideológica: muita gente na
sociedade ainda entende que bandido bom é bandido morto. De nada adianta vai
adiantar todo um conjunto probatório se os jurados julgarem com base nessa
linha", disse o promotor Márcio Friggi, um dos integrantes da acusação no
júri.
Friggi e o promotor titular do caso, Fernando Pereira da
Silva, participaram nesta sexta-feira (5) de uma entrevista coletiva no
Ministério Público na qual falaram sobre os preparativos para o julgamento e a
expectativa para essa primeira etapa.
Na entrevista de hoje, os promotores evitaram falar sobre as
provas que serão exploradas em plenário. Entretanto, sugeriram que devem
explorar perante os jurados a relação que disseram acreditar existir entre o
massacre de 1992 e o surgimento, no ano seguinte, da facção criminosa PCC
(Primeiro Comando da Capital) nos presídios paulistas.
"O PCC começou depois do massacre, sem dúvida",
afirmou Friggi. "No estatuto do PCC há esse apontamento [quanto ao
massacre do ano anterior]: para que casos como esses não voltassem a se
repetir", afirmou.
De acordo com os promotores, seriam 29 réus nesse primeiro
júri, mas três já morreram. Dos que serão julgados, apenas oito estão na ativa.
Como estão soltos, a lei garante a eles a possibilidade de se ausentarem do
julgamento a que foram convocados e que tem previsão de durar pelo menos dez
dias.
"O comparecimento do réu não é mais obrigatório, até
por se encontrar em liberdade", afirmou Silva. "De fato, mas me
causaria muita perplexidade a pessoa que se diz inocente não querer se
defender", disse Friggi.
Testemunhas
Ao todo, foram arroladas 13 testemunhas pela acusação e dez
pela defesa. No primeiro grupo, estão desde presos sobreviventes da ação da PM
ao perito do IC que entrou no presídio logo após a ação, Oswaldo Negrini.
Pela defesa, a advogada de todos os réus, Ieda Ribeiro de
Souza, arrolou o governador à época, Luiz Antônio Fleury Filho, desembargadores
que absolveram o comandante da operação policial, Ubiratan Rodrigues –condenado
pela ação, absolvido pelo Tribunal de Justiça e assassinado em 2006 – e o secretário
de Segurança Pública do Estado à época, Pedro de Campos.
"Ouvir essas testemunhas nossas será a oportunidade de
dar algumas explicações que a sociedade espera sobre esse caso. É interessante
que o ex-governador vá e fale, por exemplo, como foi dada a ordem para que os
policiais entrassem na prisão, onde ele [Fleury] estava naquela hora; por que a
informação só foi divulgada à imprensa em um dia de eleição [3 de outubro de
1992 foi eleição municipal] já perto do fim da votação... não foi uma ação desorganizada,
precipitada, os PMs estavam lá porque pessoas pediram", disse a advogada.
Julgamento em quatro etapas
Em entrevista ao UOL, o juiz que determinou a data do júri,
José Augusto Nardy Marzagão, afirmou que adotou a cisão do julgamento em quatro
etapas tendo em vista que, segundo a acusação, grupos distintos da Polícia
Militar foram responsáveis pela morte de presos em diferentes pavimentos do
pavilhão 9.
Três pavilhões do Complexo do Carandiru, em São Paulo, foram
implodidos em 2002. A implosão durou sete segundos e ocorreu dez anos após o
massacre no qual morreram 111 presos. O maior presídio da América Latina tinha
mais de 7 mil presos. Em seu lugar, foi construído o Parque da Juventude.
"Vamos respeitar a ordem colocada pela acusação,
delineando as condutas dos réus, até para não confundir os jurados", disse
o magistrado. Marzagão estima que até o final do ano todas as 111 mortes tenham
sido julgadas.
Os réus serão julgados pelo crime de homicídio qualificado,
cuja pena varia de 12 a 30 anos de prisão. O júri será realizado no plenário 10
do Fórum Criminal da Barra Funda, o maior da América Latina.
Apontado como o episódio que marcou de forma trágica o sistema penitenciário brasileiro, há pelo menos 20 anos, o massacre do Carandiru começa a ser julgado nesta segunda-feira (8), em São Paulo, com o júri popular de 26 policiais militares acusados pela morte de 15 presos do complexo, desativado em 2002. Ao todo, 79 PMs respondem pelo crime, no qual 111 presos foram assassinados, e outros 87 ficaram feridos em 2 de outubro de 1992.
Para o Ministério Público, a maior dificuldade no julgamento não será de ordem pericial –recentemente, o IC (Instituto de Criminalística) informou ao Judiciário ser impossível, por razões técnicas, o exame de confronto balístico que prove a individualização na autoria dos disparos.
"A questão crucial desse julgamento, ou o ponto mais complexo, nem é a questão das provas, mas a questão ideológica: muita gente na sociedade ainda entende que bandido bom é bandido morto. De nada adianta vai adiantar todo um conjunto probatório se os jurados julgarem com base nessa linha", disse o promotor Márcio Friggi, um dos integrantes da acusação no júri.
Friggi e o promotor titular do caso, Fernando Pereira da Silva, participaram nesta sexta-feira (5) de uma entrevista coletiva no Ministério Público na qual falaram sobre os preparativos para o julgamento e a expectativa para essa primeira etapa.
Na entrevista de hoje, os promotores evitaram falar sobre as provas que serão exploradas em plenário. Entretanto, sugeriram que devem explorar perante os jurados a relação que disseram acreditar existir entre o massacre de 1992 e o surgimento, no ano seguinte, da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) nos presídios paulistas.
"O PCC começou depois do massacre, sem dúvida", afirmou Friggi. "No estatuto do PCC há esse apontamento [quanto ao massacre do ano anterior]: para que casos como esses não voltassem a se repetir", afirmou.
De acordo com os promotores, seriam 29 réus nesse primeiro júri, mas três já morreram. Dos que serão julgados, apenas oito estão na ativa. Como estão soltos, a lei garante a eles a possibilidade de se ausentarem do julgamento a que foram convocados e que tem previsão de durar pelo menos dez dias.
"O comparecimento do réu não é mais obrigatório, até por se encontrar em liberdade", afirmou Silva. "De fato, mas me causaria muita perplexidade a pessoa que se diz inocente não querer se defender", disse Friggi.
Testemunhas
Ao todo, foram arroladas 13 testemunhas pela acusação e dez pela defesa. No primeiro grupo, estão desde presos sobreviventes da ação da PM ao perito do IC que entrou no presídio logo após a ação, Oswaldo Negrini.
Pela defesa, a advogada de todos os réus, Ieda Ribeiro de Souza, arrolou o governador à época, Luiz Antônio Fleury Filho, desembargadores que absolveram o comandante da operação policial, Ubiratan Rodrigues –condenado pela ação, absolvido pelo Tribunal de Justiça e assassinado em 2006 – e o secretário de Segurança Pública do Estado à época, Pedro de Campos.
"Ouvir essas testemunhas nossas será a oportunidade de dar algumas explicações que a sociedade espera sobre esse caso. É interessante que o ex-governador vá e fale, por exemplo, como foi dada a ordem para que os policiais entrassem na prisão, onde ele [Fleury] estava naquela hora; por que a informação só foi divulgada à imprensa em um dia de eleição [3 de outubro de 1992 foi eleição municipal] já perto do fim da votação... não foi uma ação desorganizada, precipitada, os PMs estavam lá porque pessoas pediram", disse a advogada.
Julgamento em quatro etapas
Em entrevista ao UOL, o juiz que determinou a data do júri, José Augusto Nardy Marzagão, afirmou que adotou a cisão do julgamento em quatro etapas tendo em vista que, segundo a acusação, grupos distintos da Polícia Militar foram responsáveis pela morte de presos em diferentes pavimentos do pavilhão 9.
Três pavilhões do Complexo do Carandiru, em São Paulo, foram implodidos em 2002. A implosão durou sete segundos e ocorreu dez anos após o massacre no qual morreram 111 presos. O maior presídio da América Latina tinha mais de 7 mil presos. Em seu lugar, foi construído o Parque da Juventude.
"Vamos respeitar a ordem colocada pela acusação, delineando as condutas dos réus, até para não confundir os jurados", disse o magistrado. Marzagão estima que até o final do ano todas as 111 mortes tenham sido julgadas.
Os réus serão julgados pelo crime de homicídio qualificado, cuja pena varia de 12 a 30 anos de prisão. O júri será realizado no plenário 10 do Fórum Criminal da Barra Funda, o maior da América Latina.
Números da operação da PM na rebelião
Ao todo, 330 PMs agiram para conter uma rebelião iniciada por detentos do pavilhão 9 do complexo, no qual, naquele dia, havia 2.070 internos –quase o dobro da capacidade.
Segundo os autos, a rebelião teve início às 14h20 do dia 2 de outubro e terminou na madrugada do dia 3, às 4h15. Além do efetivo, a PM ainda usou 25 cavalos e 13 cães na operação, da qual, além dos 111 presos mortos, resultaram também 87 presos e 22 policiais militares feridos.
Ao todo, 330 PMs agiram para conter uma rebelião iniciada
por detentos do pavilhão 9 do complexo, no qual, naquele dia, havia 2.070
internos –quase o dobro da capacidade.
Segundo os autos, a rebelião teve início às 14h20 do dia 2
de outubro e terminou na madrugada do dia 3, às 4h15. Além do efetivo, a PM
ainda usou 25 cavalos e 13 cães na operação, da qual, além dos 111 presos
mortos, resultaram também 87 presos e 22 policiais militares feridos.
FONTE:NOTICIAS UOL
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