“Eu não estou fazendo nada, você também…”, é um pedacinho da
canção Deixa Isso Pra Lá, sucesso dos anos 60, criado por Jair Rodrigues. A
canção e seu compositor são conhecidos como percussores do rap no Brasil, e já
teve algumas regravações…
Jair
Rodrigues de Oliveira, 74 anos, paulista de Igarapava, nasceu em 6 de fevereiro
de 1939. Já foi engraxate, alfaiate, servente de pedreiro, faxineiro em cinema.
Começou a cantar, profissionalmente, em 1957. É casado com Claudine Rodrigues
há 39 anos, com quem tem dois filhos também músicos, Jair de Oliveira e Luciana
Mello. Já gravou suas canções ao lado dos filhos ainda pequenos, além de
dividir o palco em shows com Alcione, Chitãozinho e Xororó, Daniel, a saudosa
Elis Regina, entre outros grandes nomes.
Em
conversa com O Fuxico, o ‘Cachorrão’, apelido de Jair, disse que foi sua mãe
quem deu a dica de que cantar seria o grande caminho de sua vida. Aliás, ele
diz que foi dona Conceição quem lhe deu seu primeiro violão.
O
cantor ainda mostrou-se contrário a imitações de cantores e dá um puxãozinho de
orelha em Maria Rita, filha de sua grande amiga e parceira musical, Elis Regina:
“A
Maria Rita canta muito. Mas entrou na onda de que a voz dela é igual a da mãe.
A voz é igual po*** nenhuma. Ela tem que se achar”, orienta.
Confira!
O
Fuxico: Como você vê a música brasileira hoje em dia?
Jair
Rodrigues: Como sempre. Desde quando comecei, sempre vi a MPB como uma das
maiores do mundo e não tem quem me tira isso da ideia. Comigo não tem essa de
problema musical. Sempre procurei fazer do modo que sei fazer, sem crise.
Aliás, não existe crise nem musical nem de lado nenhum, na minha opinião.
OF:
Na época dos festivais a qualidade das músicas era melhor?
JR:
Olha o que acontece é que antes dos festivais, quando comecei, ligado em
Francisco Alves, o rei da voz, uma das vozes mais lindas que já teve Orlando
Silva, Nelson Gonçalves, Gonzagão, enfim, como exemplos cito estes, era uma
coisa bonita de se ver e ouvir, porque todas emissoras de rádio, os clubes e os
canais de TV exibiam. De repente, me vi dentro do cenário musical como profissional
muitos jovens de 15, 16, 20 anos não conheceram esses nomes que falei. Talvez
nem o meu (risos). Onde quero chegar? É que a culpa é do próprio radio que não
divulga as músicas boas. Dia desses, cheguei de um show em Natal e um rapaz
sentou do meu lado, tinha uns 15 anos, pediu autógrafo e disse: ‘Adoro os três
discos de seresta que você fez. Meu pai comprou e estou ouvindo, ele te ama,
morre de paixão’. Pena que isso a gente não ouve mais radio tocar. Só toca
outras coisas. A época de Festivais foi maravilhosa. Meu primeiro foi em 1965,
na extinta TV Excelsior. Participei e naquela vez, quem ganhou foi a saudosa
Elis Regina com Arrastão, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes. Cantei samba muito
bonito. Em 1966, no Festival da Record, aí sim venci com Geraldo Vandré e Téo
de Barros, com Disparada, empatando com a banda do Chico Buarque e com Nara
Leão. Depois, nos outros que vieram, comecei a não querer participar.
OF:
Por quê?
JR:
Porque estava virando palhaçada. Virou ‘festivaia’, festival de clack, não sei
quem teve ideia de colocar público pra torcer um cantor e vaiar outros. Sempre
tem um espirito de porco pra estragar o que é bonito. O último festival
aconteceu em São Paulo, e ninguém queria mais ir participar por causa dessas
vaias. Até Roberto Carlos foi vaiado em 1967 quando participou. Eu tive um
comecinho de vaia também. Em 1970 acabou, começaram os festivais da canção, mas
não vingou, pois fizeram a mesma coisa. Ninguém gosta de ser vaiado, gostamos
de aplauso. Todo mundo procurava fazer tudo direitinho, mas havia isso por
parte de plateia. É sempre assim, no meio dos carneiros sempre tem um lobo.
OF:
Quando você descobriu que queria ser músico?
JR:
Isso quem descobriu foi minha falecida mãe, dona Conceição, que me deu o
primeiro violão que tive nessa vida. Quando eu tinha meus 8 anos de idade,
comecei a me ligar. Minha mãe me disse um dia: ‘você canta bonito, se continuar
assim vai dar para um bom cantor (risos). Se liga, pois acho que Deus te deu o
dom da música, e você sabe que se a pessoa não tiver dom, não vai pra frente.
Pode fazer sucesso esporádico, mas não sobe. Chega aos píncaros da glória e
depois cai e some de vez, porque não nasceram pra coisa. E olha, tem que se
cuidar, ver repertório, coisas bonitas, seguir exemplo de gente que faz coisas boa,
ela me dizia. Dos 14 anos em diante, eu me liguei nisso, Antes, queria mesmo
era jogar bola. Dos 14 diante cantava, era crooner. Dos meus 6 aos 14 anos vivi
em Nova Europa, interior de São Paulo. Depois fui para São Carlos, com 16 anos,
me profissionalizei, cantei na noite, organizei meu repertorio.
OF:
Daí, sua mãe ficou satisfeita?
JR:
Minha mãe ficou feliz da vida. Ela disse ‘uma hora você acontece… ’. No final
de 1959, meu irmão mais velho, Jairo, tinha se casado e vim tentar sorte por
aqui. Em 1962, tive a oportunidade de gravar meu primeiro disco.
OF:
Se você não fosse músico, qual seria sua segunda opção?
JR:
Eu ia torcer pra ser músico (gargalhadas). Quando percebi que Deus tinha me
dado realmente esse dom, abracei. E se existe um ser que agradeço a todo
momento, hora, segundo, da minha vida, é Deus, minha mãe e meu irmão, por toda
força e torcida que fizeram.
OF:
Quem foram seus padrinhos, quem te deu aquela força pra começar a trilhar o
sucesso?
JR:
Quem investiu primeiro… Tive meu primeiro empresário, que tocou minha vida. Foi
a dupla Venâncio & Corumbá. Eles faziam exatamente o que Caju &
Castanha fazem hoje. Eram dois pernambucanos considerados, nos anos 50/60, como
os maiores repentistas do Brasil. Cantavam de tudo e, na época, isso se chamava
repente. Com a Venâncio & Corumbá Promoções (VEMBA) cantei em quase todos
lugares da noite em São Paulo, boates que tinham música ao vivo, eu era um dos
grandes da noite na época. Fiz muito sucesso numa boate chamada Asteca, na
Praça República (SP), na Rua Araújo. Quando eles fizeram show lá e iam receber,
me observavam cantando.
OF:
E…?
JR:
E daí, numa noite me convidaram para fazer parte do escritório que eles estavam
montando. Me deram um cartão do escritório, caso eu quisesse trabalhar com
eles. Fui lá e cantava noite em 1962 e tinha um esquema deles. Me levaram para
gravar meu primeiro disco pela gravadora Philips, que na época era a melhor.
Hoje, temos a Universal como a mais importante. Aliás, todas as gravadoras são
importantes. Bom, na Philips tinha Jorge Benjor, Maria Bethânia, Nara Leão e
tantos outros. Comecei a fazer parte e ali fui obtendo meus louros, gravando coisas
bonitas.
OF:
E qual foi o primeiro sucesso?
JR:
A primeira música que fez sucesso foi Deixa Isso Pra Lá. Foi o primeiro rap
lançado no mundo. Graças Deus, eu sempre fui preocupado em gravar sempre o
melhor. Graças a Deus sempre tive um belo repertório. Posso fazer duas horas de
show sem cantar música porcaria. Brinco com o público e me divirto cantando e
divertindo as pessoas.
OF:
O que seria música porcaria?
JR:
Músicas fazendo apologia a drogas, ao palavrão, sem pé nem cabeça, sem letra.
Esse batidão, besteirão; quando o cara entra e fala palavrão, isso não gosto.
Mas como tem quem gosta, não vou falar mal. Eu não gosto, mas não vou meter o
pau, tem lugar pra todo mundo. Mas pessoas devem fazer com que não permaneça
esse estilo, essa música descartável, isso dura um curto tempo. Conheço
artistas de sucesso no mundo todo, mas com esse tipo de música não caminham
muito não. Muitos se desesperam e partem para o besteirol, tem noitadas com
bebidas, mulherada, tudo pra aparecer. É fácil gravar coisas de qualidade
quando se tem o dom da música. Muita gente canta um estilo que dura pouco
tempo.
OF:
Isso vale também para as imitações?
JR:
Detesto que a pessoa venha imitando a outra, eu também já imitei muito cantor,
tipo o Agostinho dos Santos. Daí, um cara me chamou e disse: ´menino você canta
muito bem, mas se continuar imitando será sempre o outro. Você deve cantar
repertório de todo mundo, Frank Sinatra, Johnny Mathis, todos que você cantar,
vai se dar bem, mas faça com seu estilo que você vai longe´. Agradeço essa
pessoa, que era militante do rádio Tamoio, do Rio de Janeiro, e não me recordo
o nome. Mas foi ele que me deu a dica e segui. Deu certo. Por exemplo, a Maria
Rita canta muito. Mas entrou na onda de que a voz dela é igual a da mãe. A voz
é igual po*** nenhuma. Ela tem que se achar. Imitação não dá certo. Cante de
tudo, mas do seu jeito, seja música americana, brasileira enfim, qualquer
coisa, mas com seu jeito.
OF:
Passou esse ensinamento para seus filhos?
JR:
Sim. Sou o maior fã da Luciana. Outro dia ela disse: “Pai escolhe umas músicas
pra mim”. Daí peguei os discos da Carmem Miranda, Maysa, Elisete Cardoso, Nara
Leão, Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Agostinho dos Santos, Dalva de Oliveira,
tudo em vinil. Escolhi um repertorio dessas cantoras, emprestei minha vitrola
pra ela e mandei ouvir.
OF:
É fácil criar uma canção?
JR:
Olha, já peguei Chico Buarque, Martinho da Vila, Djavan, Paulinho da Viola,
todos que não aparecem mais e, quando a gente liga e pede uma música eles
calam, não tem nada novo, não sei o que acontece com eles. Isso faz parte da
decadência musical, se se tocassem mais esses nomes nas rádios e se eles
criassem coisas novas teriam uma ênfase maior na carreira, seria legal. Não sou
compositor, sou interprete, não tenho necessidade de correr atrás de música
nova aos 54 anos de carreira.
OF:
E como segue com tanto sucesso:
JR:
Hoje só permaneço assim, faço cerca de 4 a 5 shows por semana. Graças Deus tudo
dá certo e com meus 74 anos de idade, agora sei que é só permanecer assim, que
não há problema. A moçada que começa e não é compositor devia se ligar para
aparecer mais cantores da nova geração. Um cantor novo gravar Chico Buarque? Caetano?
Não vejo isso.
OF:
Na época que começou, era bem mais difícil entrar no ramo não era?
JR:
Olha, digo que hoje em dia, realmente, é mais difícil. Naquela época o artista
era contratado por uma gravadora durante 3 anos. Meus primeiros discos,
lançados em 1962, 1963, não tiveram sucesso. Em 1964 sim, veio o sucesso.
Também porque a gravadora fazia uma grande divulgação. Hoje não é mais assim,
como todas gravadoras estão praticamente falidas, elas não divulgam muito. Os
que gravam independente tem que ele mesmo prensar, pagar, ir atrás, levar na
rádio, na TV, divulgar. Poucas emissoras tem um quadro musical de qualidade.
Nem de péssima nem má qualidade, simplesmente não tem. Os dias de hoje são bem
mais difíceis que antigamente. Na época que comecei, o artista tinha a força da
gravadora, apresentações em clubes. O artista ganhava dinheiro em show e
vendagem de discos. Hoje não tem mais isso. Se o artista não pegar um Eike
Batista da vida pra cacifar a carreira, não vai.
OF:
E essa história de baixar músicas pela internet, atrapalha?
JR:
Atrapalha um pouco, porque ele baixa a música e a gente não recebe nada. Se o
artista não fizer show não vai. Antigamente, por telefone ou na própria
emissora, o artista recebia cachê ao dar uma entrevista. Até pra divulgar disco
em lojas, radio, a própria loja te dava um cachê. Hoje não tem mais isso.
Antes, o cantor ganhava de todos os lados. E ainda temos aí a pirataria, que
lança o disco todo de um artista e vende a R$ 3 ou R$ 4. Não dá para competir
com isso.
OF:
O que acha dos atuais reality shows musicais exibidos na TV em busca de novos
talentos?
JR:
Acho que acaba logo, porque não é uma coisa bem feita. De repente, as emissoras
colocam uns caras pra comentar um artista, essas coisas não rolam. Veja, em um
show que fiz em Natal, no mês passado, fui convidado pelo Isaac Galvão, que
ganhou o segundo lugar no Ídolos Brasil. Ele canta que é uma maravilha, fizemos
um baita show em Natal, levei músicos meu, cantei com a banda dele. Ele é bom,
venceu o programa. E? Foi só. Depois, apareceu um novo, jogaram esse pra
escanteio. O cara, enquanto participa da atração, tá tudo bem, cheio de trabalho.
Depois não acontece nada.
OF:
Por que acha que isso acontece?
JR:
Porque não tem seriedade. Deviam pegar o cara no ar, na TV, pra dar sequência
na carreira, não deixar pra lá quando o programa acaba. O próprio artista fica
feliz. O próprio Programa Raul Gil (SBT), depois que as pessoas vencem os
concursos por lá, ninguém faz nada por estes artistas. Falta isso, o interesse
musical verdadeiro. A nossa música é querida fora do País. Eu fui para a Europa
e Argentina, já andei por esse mundo de meu Deus e sei quanto é divulgada e
querida nossa música lá fora. Precisa é o brasileiro gostar da música
brasileira. Aqui, tocam mais músicas estrangeiras. Vamos tocar coisas da nossa
música brasileira, fazer nova geração gostar de tudo que é nosso.
OF:
Como é ser chamado de pai do rap?
JR:
Vi uma parte da imprensa, na época que lancei Deixa Isso Pra lá, que afirmava
em todos cantos que eu seria mais um cantor de uma música só. Eu fiz esse povo
engolir todas as palavras quando ganhei o festival de 1966 com Disparada. Não
tive só prazer na vida, com Deixa isso Pra Lá. Também ouvi que não faria grande
sucesso e seria gente passageira. Mas, era um rap que não falava mal de
ninguém. Era simples vai, vai, por mim Balanço de amor, é assim mãozinha com
mãozinha pra lá beijinhos e beijinhos pra cá… ´, muito bacana, e caiu na boca
do povo. E não tem nenhum palavrão nessa música. Esperei o tempo passar e vi a
retratação de quem falou mal.
OF:
Quem disse que você foi o percussor do rap?
JR:
O primeiro a dizer que fui percussor foi Herbert Viana, em 1987, quando
participei do Festival de Montreaux, na Suíça. No ônibus, as pessoas começaram
a cantar e diziam que era uma música com palavras faladas (risos). O Herbert
disse alto, pra todo mundo ouvir: ‘olha, gente, tá sentado aqui do meu lado o
sambista, primeiro versador pai do rap, do Jairzinho e da Luciana’. Ele me
contou que o rap vem de versar as palavras, não do ritmo. Eu tive a felicidade
de criar isso.
OF:
Quais os ritmos que gosta? O que gosta de ouvir?
JR:
Depende hora. Gosto de tudo! Só não escuto coisas que falam palavrão, ou, às
vezes, até escuto para opinar pra mim mesmo. Outro dia fiquei indignado quando
vi o que ocorreu com a Rita Lee. Ela sempre cantou coisas boas e, de repente, a
vi brigando e xingando policial. Eu disse: ‘Pra quê isso, gente?’. Se gosta de beber
ou usar drogas problema teu não passe a ninguém. Infelizmente, a gente vê
artistas irem embora por causa disso. Lembrando a voz maravilhosa, que até
minha filha e eu comentamos um dia, que era o que estava faltando na música, a
Ammy Winehouse, perdeu a vida para as drogas. Isso é triste.
OF:
No que você já trabalhou antes do sucesso?
JR:
Vixe, minha filha (risos), quando eu era menino, com meus 5, 6 anos, ajudava
minha mãe e meu padrasto. Ela casou de novo e meu padrasto me criou. Meu pai
era amansador de burro brabo e trabalhava também na roça. Minha mãe era
empregada de donos de fazenda e eu ajudava. Também fui engraxate de final de
semana. Depois, com 8 pra 9 anos, minha mãe me colocou para ser aprendiz de
alfaiate. Quando não costurava nada, trabalhava como servente de pedreiro
lavava peças de oficina mecânica e também lavei muito cinema. O dono que apresentava
os filmes no cinema me deu o emprego de limpar o cinema. Ganhava cinco mil
réis, sendo que minha mãe ficava com três mil e eu com dois mil, para gastar
como eu quisesse. Não era como os dias de hoje, que os garotos reclamam de
tudo. Deviam levar peteleco na orelha para respeitar o trabalho, desde pequeno.
Vejo em novela essa meninada mal criada e penso que não é bom exemplo.
OF:
Como foi encarar o trabalho como ator em Super Nada [filme lançado este ano, na
mostra Novos Rumos do Festival do Rio].
JR:
Olha, em 1968 fiz um filme chamado Jovens pra Frente, último trabalho do
saudoso Oscarito, com a cantora Rosemary, eu, Clara Nunes. Depois, nos anos 80
pra 90, fiz papel de pai Jairzinho num filme. Ai, um produtor e diretor do
Super Nada me mostrou script, queria que eu fizesse, pois achava que o
personagem tinha a minha cara. Participei e recebi, no Festival de Cinema de
Gramado, a placa como Melhor Ator Coadjuvante. Agora, no Festival de Cinema do
Rio de Janeiro, também falaram muito desse trabalho.
OF:
Com isso, você pensa em coordenar uma carreira de ator junto com a de cantor?
JR:
Já fui convidado pra fazer outros. Tudo bem, gostei muito, mas meu negócio
mesmo é música. Se fosse um musica,l eu faria.
A não ser que fosse também, por exemplo, um filme musical, com muitos
artistas, como Gil, Caetano, Gal, esse pessoal que convivi, que começamos
juntos, além de artistas de outras áreas e diferentes ritmos, aí sim
F:
Agora você prepara o lançamento do Sambão Mesmo, produzido por seu filho, Jair
Oliveira. O que podemos esperar deste trabalho?
JR:
O Jairzinho me falou, há 5, 6 meses, que eu fui o único artista que, embora
cante samba, já gravou de tudo, bossa nova, tango, bolero, música italiana. A
coisa mais extraordinária que fiz foram três discos de serestas. Daí, ele
queria pegar uma música do Roberto carlos, outra do Gilberto Gil, outra de
seresteiros, separar tudo que eu mais gosto para fazer um disco duplo, cantando
tudo isso em ritmo de samba, gravar um bolero, um samba canção, tudo em ritmo
de samba mais regional, romântico. Escolhemos coisas de Chico Cesar que tem um
repertório bacana. Jairzinho entra com flauta, cavaquinho, viola, violão, sopro
e com varias coisas de percussão, surdo, pandeiro, reco-reco. Vamos botar pra
quebrar (risos). Já entrou com pedido da Lei Rouanet e foi liberado tudo já, só
estamos aguardando o Jairzinho terminar de fazer o disco Grandes Pequeninos
Vol. 2, para crianças, e daí vamos tocar o projeto.
OF:
Você fala outras línguas, como Japonês, Inglês, italiano?
JR:
Nada (risos). Falava 100% de Inglês, Espanhol eu falo e entendo, japa não falo,
mas entendo. Inglês já esqueci tudo. Nos anos 60, eu tinha um professor de
inglês britânico. Agora, não sei falar. Estou até retomando os estudos, caso
faça uma viagem para fora, tenho de me ligar.
OF:
Como é trabalhar com a família?
JR:
É legal pois Jairzinho, quando tinha 5/6 anos, gravou comigo a música Deus
Salvador. Eu esquecia a letra e ele me lembrava (risos). A Luciana, com 4 anos,
também já tinha voz afinada. O Rildo Hora produziu um disco meu e fomos
escolher o repertorio. Ela entrou na segunda estrofe e ele gostou muito da voz
grossa e firme dela. Ele fez os arranjos e no dia de gravar ela foi junto.
Hoje, todos com voz diferente, mas sempre gostaram músicas, tipo, Emilio
Santiago, Jorge Benjor, minhas musicas também. Gravaram minhas músicas já, cada
um com seu estilo de voz. Jairzinho foi estudar em Boston, na Berkeley.
Aprendeu de tudo, agora fazemos shows juntos, interativos, sempre a Família
Rodrigues. É maravilhoso estar no palco com meus filhos. Agora temos vários
shows juntos agendados.
OF:
Como é o Jair avô?
JR:
Por enquanto não curto de perto, pois continuo com muito show. Sei bem que a
filha da Luciana, a Nina, de 4 anos, tem o dom como cantora. Já pedi para o
Jairzinho ensinar as crianças da família e montar uma banda para as meninas
cantarem (risos). Já a Laura, filha do Jairzinho com a Tania Khalil, ainda é
pequenininha, não sabe cantar. bote as
duas. Laura ainda não sabe. Nina e Isabella (6 anos, filha de Jairzinho) sabem
ler e cantar afinadíssimas. Outra que vai dar o que falar no mundo da música
com seu talento é a Rafaela, de 6 anos, filha do Pedro Mariano.
OF:
Você e Claudine estão juntos há quantos anos? Como é que se mantém um casamento
por tantos anos assim?
JR:
Temos 39 anos de amor, respeito, conversação. Brigas sempre ocorrem, mas nunca
bate boca, sempre uma discussão dentro do respeito, o que se fala demais, pede
desculpa depois. Respeito é tudo.
OF:
É verdade que você sabe cozinhar? Onde aprendeu e o que agrada mais a Clo?
JR:
Sei cozinhar sim. Aprendi ainda menino, quando ia trabalhar na roça e ia pra
escola. Minha mãe dizia: “Vocês vão para a escola e depois aprende fazer arroz,
feijão, salada, um ovo, pra levar lá na roça”. Eu só não como chumbo derretido
porque desce queimando (risos). Faço rabada, mocotó, tudo. Gosto de inventar,
por exemplo, na minha rabada ponho coisas que não tem nada a ver, mas sempre o que não tem nada a ver mas gosto: pé
de frango e moela. Já a Claudine não come carne vermelha, só frango e peixe.
Gosta de comida japonesa, mas essa não sei fazer. Então preparo para ela arroz
feijão, peixe. Tem nossa Irene lá em casa que faz tudo e muito bem. Agora, uma
coisa é certa: a pessoa pode fazer de tudo, mas se não acertar no tempero,
estraga tudo.
OF:
Você acha que o Brasil tem jeito ainda?
JR:
Claro que tem, não são esses vagabundos, ladrões da vida que vão estragar. Tem
jeito e tem muita gente torcendo e fazendo para que esse jeito aconteça. Tomara
que a bandidagem, que não cuida da educação, da saúde tome vergonha. Tenho certeza que isso vai
acontecer. Nosso País não pode ficar atrás, um País que se tornou o maior do
mundo. Só vou embora daqui quando Deus me levar. Vou pegar no pé de quem quer
um Brasil podre. O Brasil tem mais coisas boas que ruins.
OF:
Como é seu público fora do Brasil? Como te recebem?
JR:
Na França tem francês, brasileiro, americano, no Japão também. Mas o país que
mais tem pessoas de outras partes do mundo é o Brasil. Sempre sou chamado e sei
que sou muito querido em todo lugar que vou, porque sempre levei minha carreira
a serio, dou atenção a todos. Se pedem uma música que nem está no repertório
daquela apresentação, mesmo assim, atendo e canto. O artista tem que ser assim
e assim tenho o respeito de todo mundo. Eu respeito pra ser respeitado. Roupa
suja se lava em casa (ri).
OF:
O que tira você do sério?
JR:
Ah, quando jogo bola, xingo, mando tudo quanto é palavrão (risos). Não gosto de
perder, e se o cabra não quer tocar a bola pra mim, solto o palavreado lá.
Outra coisa que me irrita é falta de respeito com os outros. As pessoas ficam
no trânsito e buzinam para quem passa na frente. Tem ainda os mal educados que
ligam o rádio num volume que você é obrigado a ouvir a 2 quilômetros. Falta de
respeito!
OF:
Alguma coisa te deixa triste?
JR:
Coisas que me deixam triste é quando quero comer algo que não dá certo. Daí
fico muito tristeu. Tenho uma imagem de Jesus Cristo,que me faz ter um sexto
sentido danado. É uma coisa extraordinária!
Se eu penso em ir num lugar e, de repente bate algo estranho, na hora
olho para Ele. Se Ele sorrir, eu vou, do contrário, sei que nem tenho de sair
de casa.
Fonte: Ará Rocha-O Fuxico
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