Tradicionalmente
especializada na área médica, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) foi
uma das que mais cresceram no projeto de expansão do ensino superior dos
governos Lula e Dilma Rousseff, cujo balanço oficial contabiliza 173 novos
campi universitários e 18 novas instituições.
De
2006 até hoje, a Unifesp extrapolou as fronteiras de seu único campus na Vila
Mariana, zona sul de São Paulo, para uma nova unidade no extremo sul da capital
paulista, em Santo Amaro, e campi em outras cinco cidades - Santos, Diadema,
São José dos Campos, Guarulhos, Osasco e Embu das Artes. Em oito anos, o número
de alunos quase multiplicou por oito, saltando de 1,5 mil para 11,4 mil. O
quadro de professores subiu de 500 para 1.373 docentes. A grade curricular
passou de cinco cursos relacionados à saúde para oferecer 64 programas
acadêmicos, de medicina a serviço social, de engenharia química a direito.
Com
a rápida expansão, somada a um planejamento precário, contudo, a Unifesp
contraiu as dores do crescimento. As obras de infraestrutura das novas unidades
atrasaram, e até hoje os alunos dos novos campi assistem a aulas em locais
provisórios. Além disso, a provisão de funcionários administrativos e
professores não casou com a nova demanda. As afirmações são da reitora Soraya
Smaili, primeira mulher e não médica a comandar a Unifesp.
Com
um ano de gestão recém-completado, Soraya diz ao Valor que está engajada na
continuidade do crescimento da Unifesp, mas prioriza planejamento pormenorizado
e relação afinada com o Ministério da Educação (MEC), responsável pela
liberação dos recursos para a expansão universitária, uma vez que as
instituições federais não gozam de autonomia orçamentária como as universidades
estaduais paulistas, por exemplo.
"Tudo
[os problemas com atrasos de obras e falta de professores] o que aconteceu foi
devido à falta de planejamento. Estou engajada em continuar a expansão, mas
temos um passivo de quatro, cinco anos de um crescimento enorme mal
planejado", afirma Soraya.
No
momento, a reitora coordena dezenas de projetos de obras viárias e construções
de prédios de salas de aulas, bibliotecas e laboratórios nos vários campi da
Unifesp. Ela também é responsável pela criação dos campi da Unifesp na zona
leste de São Paulo e em Embu das Artes, na região metropolitana, além de
conduzir a abertura de novos cursos e fazer a costura por mais recursos do MEC
para garantir ações de assistência estudantil e contratação de professores e
funcionários.
Somente
as obras de infraestrutura nos campi de São Paulo, da região metropolitana, de
Santos e São José dos Campos - a maior parte delas em fase de projeto executivo
prontas para terem editais lançados - estão orçadas em cerca de R$ 300 milhões.
O montante representa quase o triplo do orçamento de R$ 120 milhões que a
Unifesp reservou para custeio e investimentos em 2014.
"Nosso
orçamento não é suficiente, mas o MEC tem afirmado que quando nossos recursos
acabarem teremos os complementos para as obras. O que estiver licitado e
contratado não vai parar", garante Soraya. "Ratificamos a
manifestação da reitora quanto aos recursos complementares que por ventura se
farão necessários para a infraestrutura da Unifesp", confirmou em nota o
ministério.
Segundo
a reitora, as unidades mais afetadas durante o processo de expansão da Unifesp
foram Diadema e Guarulhos, ambas na Grande São Paulo. "O campus da Baixada
Santista se ressentiu menos porque tem mais cursos da área da saúde, no qual tínhamos
acúmulo intelectual maior. Já o projeto pedagógico de Guarulhos e Diadema foi
feito de forma rápida na área de humanas e engenharia. Esses problemas vieram
acoplados a uma pactuação insuficiente com o MEC", acrescenta.
Pactuação
é um termo usado por reitores federais na negociação com o MEC para liberação
de recursos para obras de expansão e para a autorização de contratação de
professores e funcionários. Segundo ela, a gestão da Unifesp à época solicitou
30 funcionários e 40 professores ao MEC para dar conta, em poucos anos, de mais
de 3 mil alunos. "Houve erro na pactuação", observa a atual reitora.
Procurados por meio do setor de comunicação da Unifesp, os antigos reitores não
quiseram falar.
Para
Marinalva Silva Oliveira, presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das
Instituições de Ensino Superior (Andes), os problemas da expansão não são
exclusivos da Unifesp e têm efeito negativo sobre a qualidade acadêmica.
"Atrasos nas obras e contratação insuficiente de docentes e pessoal afetam
gravemente o tripé que defendemos de ensino, pesquisa e extensão. Com esses
problemas, a universidade não cumpre seu papel, os professores não conseguem
fazer pesquisa. A universidade vira um 'escolão', não produz conhecimento.
Somos favoráveis à expansão mais harmônica", critica a sindicalista.
Diógenes
Sousa, que se formou em História neste ano pela Unifesp Guarulhos, lembra que
estudar em meio a obras foi uma "dor de cabeça", mas aprova o padrão
acadêmico da nova federal. "Fiquei satisfeito com os professores. Mas o
problema mesmo era o acesso ao campus, cheguei a pegar umas DPs [teve que
refazer as disciplinas] por chegar atrasado em aulas e provas. Também era
complicado estudar em prédio em obra, a biblioteca tinha pouco espaço e o
restaurante universitário vivia cheio", relata.
FONTE: VALOR ECONOMICO / Por
Luciano Máximo - De São Paulo
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