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domingo, outubro 23, 2011

Anfitriões da Copa do Mundo bem diferentes no caminho da Fifa









A Fifa nunca deixou de ser a dona da festa, mas teve de lidar com anfitriões com níveis de exigência bem diferentes na organização das Copas do Mundo de 2006 e 2010.

Se na Alemanha encontrou um Estado forte, com quem se viu obrigada a discutir garantias governamentais e ceder contrapartidas, na África do Sul - que recebeu o evento graças a um capricho do presidente Joseph Blatter cultivado durante processo político iniciado na gestão de João Havelange -, teve facilidades como em nenhuma outra sede.

A permissão para entrada e saída do país, primeira das garantias do "Host Agreement" - o Acordo para Sediar - foi também o primeiro ponto de divergência entre os representantes da Fifa e o governo alemão. Apesar de a entidade exigir a concessão sem restrições de vistos de turista diante de qualquer prova de vinculação com a Copa, como a aquisição de um simples ingresso, a Alemanha não abriu mão de seu processo protocolar, como já havia acontecido nas Copas de 2002 (Coreia do Sul e Japão) e 1994 (EUA).

Imigração facilitada

Na África do Sul, onde um grupo de torcedores argentinos conhecidos como "Barra Bravas" foi deportado tão logo desembarcou no Aeroporto O.R.Tambo, em Johannesburgo, a baixa procura por ingressos fez com que as autoridades ignorassem as normas tradicionais e deixassem até mesmo de cobrar a taxa de US$ 60. Embora o governo tenha subsidiado ingressos para a população, repetindo o que havia feito na Copa das Confederações, em 2009, o afrouxamento das regras, segundo as autoridades, aumentou o interesse de estrangeiros pela Copa. No Brasil, o ítem não é motivo de estresse entre governo e organizadores, mas a Secretaria de Grandes Eventos do Ministério da Justiça estuda a criação de um banco de dados com Interpol, polícias estaduais e Polícia Federal para filtrar a entrada de estrangeiros.

O acordo da Fifa com os sul-africanos basicamente alijou os anfitriões de participação nos lucros de marketing, bilheteria e direitos de TV, enquanto os alemães lucraram cerca de 140 milhões. Ao mesmo tempo, a Fifa exigiu dos sul-africanos o empréstimo de seu Judiciário: foram criados 56 tribunais especiais, que trataram de casos como furtos até o famoso episódio em que modelos holandesas foram presas por algumas horas depois de fazerem propaganda de uma marca de cerveja - num tipo de ação chamado de "marketing de emboscada", ferindo os interesses da Anheuser-Busch, produtora da Budweiser, patrocinadora oficial da Fifa - durante a partida entre Holanda e Dinamarca.

A questão, sobre a qual a legislação brasileira é considerada frágil pelos dirigentes da Fifa, também teve desdobramentos na Alemanha. Na "terra da cerveja", a proibição da venda de marcas nacionais nos estádios causou polêmica, incendiada pela mídia. Os cerca de cinco mil produtores locais entraram em clima de guerra, iniciando um lobby com políticos em defesa da honra do "produto da casa". A pressão deu certo. Nos arredores dos estádios, em áreas normalmente exclusivas aos patrocinadores oficiais, foi permitida a venda da Bitburger, a maior marca alemã e patrocinadora da seleção desde 2002. No Westfalenstadion, em Dortmund, também foi autorizada a venda de uma marca local.

- A cerveja foi o assunto problemático, mas, no fim, todos lucraram com a Copa, que foi um grande sucesso - diz Jens Grittner, membro dos comitês organizadores do Mundial de 2006 e da Copa do Mundo feminina de 2011, realizada entre junho e julho.

Uso político da Copa

Grittner lembra que, como tinha como objetivo primordial passar para o mundo uma imagem mais leve do país e de seu povo, a Alemanha se dobrou a muitas exigências da Fifa. Pesquisas feitas por encomenda do governo após o evento comprovaram o sucesso da empreitada. Depois da Copa, segundo o ex-dirigente, a Alemanha passou a ser vista como um país "simpático" pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. As festas de rua em Berlim, as "Fan-Meile", junto ao telão do Portão de Brandemburgo, foram uma enorme publicidade. Desde então, o turismo na cidade cresceu mais de 400%.

- Passamos a ser vistos não mais como um país onde todo mundo é sério e vive para o trabalho, mas onde também há gente bem-humorada, que gosta de se divertir - lembra Grittner, que ficou em cima do muro ao ser indagado sobre até que ponto o Brasil deve endurecer com a Fifa: - Sei apenas que o país certamente vai lucrar com a Copa do Mundo.

FONTE: globo.com

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