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terça-feira, outubro 18, 2011

Eles querem ser professores









Paixão por conhecimento atrai profissionais para carreira. Remuneração baixa e falta da valorização são principais críticas

Renovar o conhecimento diariamente e a vocação para ensinar são os principais motivos que levam jovens a escolher dar aula. Do outro lado da balança, estão a baixa remuneração e a falta de valorização do professor. A equação da profissão carregada de responsabilidade e de contradições não é fácil de resolver, e tem ainda mais desafios para quem está chegando às salas de aula, com vontade de inovar e pouca experiência.

A aprendizagem das crianças é o que motiva Cintia Andrade e Silva, de 26 anos, a cursar pedagogia e a ser professora da educação infantil. “É muito gratificante ver o desenvolvimento do aluno, a superação das dificuldades e os resultados acontecendo”, afirma a estudante do último ano da Uniban, na capital paulista.


“O professor está sempre aprendendo. Trabalha com diferentes ideais, classes sociais, é muito enriquecedor. Cada aula é diferente, porque as turmas são diferentes e os processos de aprendizagem também”, resume Marcel Pires, 21 anos, estudante de Licenciatura em Letras na PUC-SP e professor auxiliar do 8º e 9º ano do ensino fundamental na Escola Nossa Senhora das Graças.

A colega Joice Pereira Silva, de 25 anos, aluna de Pedagogia da Unip destaca que o profissional de educação básica está sendo mais valorizado. “Antes as pessoas achavam que a gente só brincava com os alunos, mas hoje sabem que ensinamos todos os princípios básicos para o desenvolvimento de uma criança”, aponta a professora do colégio Augusto Laranja.

Remuneração

Em contraste com a necessidade de renovar o conhecimento dando continuidade aos estudos e aumentando a bagagem cultural, estão a baixa remuneração e a falta de um plano de carreira atraente. Eduardo Akio Shoji, 24 anos, estudou a vida escolar inteira na rede pública, mas não pretende trabalhar lá. “Fiz estágio na mesma escola onde estudei. Como professor, reparei que faltam condições mínimas para exercer o meu trabalho, tanto salariais, quanto de infraestrutura básica – faltam cadeiras, uma lousa decente, portas nas salas e o barulho exterior impossibilita uma aula de Literatura com a análise de um poema”, conta o estudante do último ano de Licenciatura em Letras na Universidade de São Paulo (USP).

Polyana Maria Costa Martins, de 24 anos, faz duas graduações na área de educação. Letras, pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e pedagogia, pela Universidade Estadual do Maranhão (Uema). Hoje, sonda escolas mas afirma que pretende montar um negócio próprio em educação e não viver a vida inteira como professora. “Na área privada, você tem um salário razoável, mas não tem estabilidade. No setor público, você não tem um bom salário. Eu quero fazer meu nome e viver como educadora. Mas não como empregada”, declara.

Inovar é desafio

A escola pública é a opção menos atraente para o estudante de Licenciatura. As bolsas de estudo para a pós-graduação, outras atividades profissionais e a escola particular apresentam possibilidades de renda mais elevada. “Muitos alunos das licenciaturas são gradativamente levados para iniciação científica, para o mestrado e para o doutorado. Não conseguimos atrair os profissionais para a educação básica, porque falta um plano de carreira estimulante e desafiador para esses jovens”, aponta Mozart Neves Ramos, especialista em educação e professor de Licenciatura em Química e Física da Universidade Federal de Pernambuco.

Como ensinar diferente? Como fazer o conteúdo ter “sentido” para os alunos? Como provocá-los e estimulá-los? Com essas perguntas e munidos de conceitos inovadores os jovens professores chegam à sala de aula. Se na faculdade eles aprendem a inovar, a entender o contexto do aluno, usar a interdisciplinaridade, transformar o estudante em um pesquisador autônomo, na prática, sentem dificuldade em transpor os conceitos.

“É desafiador lidar com o modelo da escola. Ele é ultrapassado, temos que inventar algo diferente e ao mesmo tempo temos que nos adequar ao padrão da escola, ao que o MEC exige, ao que o livro didático propõe. Você sai da faculdade com uma visão inovadora, mas às vezes recorre ao modelo que teve na escola e acaba reproduzindo as aulas que teve”, aponta Caroline Theml Pinto, 27 anos, professora de Redação formada em Letras pela Universidade de São Paulo (USP).

Apesar das restrições impostas ao trabalho do professor – pelo currículo escolar e pela própria escola –, Eduardo avalia que há espaço para o docente criar e driblar as barreiras. “A posição do professor me incomoda e ao mesmo tempo me instiga”, afirma.

Faculdade longe da escola

Estudantes e recém-formados destacam que os docentes das licenciaturas são pesquisadores, cientistas, especialistas, mas não tem experiência na educação básica – ou a tiveram há décadas. Esse distanciamento cria uma visão utópica e científica do ensino, baseada nos relatórios dos estágios.

Mozart acredita que a faculdade está distante da realidade escolar e aposta na criação de uma “residência docente” para evitar que os profissionais cheguem às salas de aula despreparados. “O currículo das licenciaturas é quase que exclusivamente voltado para bacharéis. Nossa cultura é formar pesquisadores e não profissionais da educação básica”, destaca o conselheiro do movimento Todos Pela Educação.

Como auxiliares na Escola Nossa Senhora das Graças, Caroline e Marcel viram projetos serem desenvolvidos na prática. Para melhorar o desempenho de uma turma do 2º ano do ensino médio que não se envolvia com a produção de texto, Caroline e o professor titular da escola apresentaram dois filmes para os alunos “Tempos Modernos”, de Charles Chaplin, e “Nós que aqui estamos por vós esperamos”, de Marcelo Mazagão. “Eles se sentiam reprimidos e se identificaram com as obras. Depois disso a produção de texto melhorou muito”, lembra.

Já Marcel trabalhou por mais de dois meses em um projeto no qual os alunos do 9º ano do ensino fundamental tinham que escrever um conto de amor, inspirados na canção “Eu sei que vou te amar”, de Vinícius de Moraes. Vendo os primeiros textos, Marcel achou que o projeto não daria certo, que os alunos não iam se envolver, mas o resultado mostrou um amadurecimento deles como escritores. “A professora que eu auxilio faz esse projeto há anos e sabia que iria dar certo. Para mim era a primeira vez e parecia muito difícil que o resultado final ficasse tão bom. Foi um aprendizado.”

FONTE: ÚLTIMO SEGUNDO IG / *Colaborou Wilson Lima, iG Maranhão

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