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sábado, outubro 01, 2011

'Incidentes mostram quem é o verdadeiro Morales', diz dirigente sobre repressão a marcha indígena
















Ernesto Sánchez é secretário de economia da Confederação Indígena do Oriente Boliviano (Cidob) e domingo passado foi vítima da violenta repressão exercida contra os cerca de 1.500 indígenas que há quase 50 dias estão lutando para impedir a construção de uma estrada que cruzaria o Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (TIPNIS).


Quase uma semana depois, Sánchez assegurou que "os incidentes mostraram quem é o verdadeiro Evo Morales, um capitalista que defende as transnacionais, como todos seus antecessores". Na sexta-feira, a Cidob divulgou um documento pedindo ao presidente que "tome a decisão histórica" de modificar o projeto através de uma lei que estabeleça expressamente que a rodovia não passará pelo parque nacional.


O GLOBO: O movimento indígena acha que existem chances de um recuo do governo?


ERNESTO SÁNCHEZ: Existem alternativas e se houver vontade política poderemos solucionar esta crise. Morales sente-se condicionado pelo Brasil (o projeto está nas mãos da empresa brasileira OAS) e pela Venezuela, que, segundo informações divulgadas pela imprensa local, ficaria com 250 mil hectares do TIPNIS para construir um gasoduto. Que fique bem claro para os brasileiros: nós não somos contra a construção da estrada, queremos apenas a suspensão do trecho que passaria pelo TIPNIS.


O GLOBO: O senhor esteve na marcha no dia da repressão?


SÁNCHEZ: Nem em épocas de ditadura fomos reprimidos dessa maneira. Nos atacaram com gases lacrimogêneos e espingardas, machucaram homens e mulheres, muitos dos quais ainda não se recuperaram. Foi um atropelo à comunidade indígena imperdoável.


O GLOBO: O presidente se distanciou dos indígenas?


SÁNCHEZ: Domingo passado ficou claro quem é Evo Morales. Um presidente que diz uma coisa e faz outra. Estávamos caminhando e fomos atacados de uma maneira que nem presidentes ditatoriais se atreveram a fazer. Os incidentes mostraram quem é o verdadeiro Evo Morales, um capitalista que defende as transnacionais, como todos seus antecessores


O GLOBO: O governo diz que a ordem não foi política e sim policial.


SÁNCHEZ: Mentira! Não acreditamos mais nesse governo. Existe um documento assinado pelo ex-ministro de Governo, Sacha Llorenti (que renunciou após a repressão), autorizando o ataque.


O GLOBO: A marcha vai continuar até chegar à La Paz?


SÁNCHEZ: Sim, continuaremos marchando. Se o presidente quiser dialogar, aqui estaremos. E se não quiser, chegaremos à La Paz.


O GLOBO: O movimento poderia pedir a renúncia de Morales?


SÁNCHEZ: Não estamos pedindo a renúncia do presidente. Mas se Morales insistir em sua posição (a de convocar um referendo sobre o projeto) e voltarem a nos reprimir, não sabemos o que poderá acontecer. O presidente perdeu muito apoio popular, hoje desconhecemos nosso presidente. Não sabemos mais quem ele é.

FONTE: GLOBO.COM

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