Por ironia, nossos antepassados lutaram para o sambista conquistar seu direito de liberdade, de expressar sua arte que era tão marginalizada e discriminada; eles venceram, e das batucadas na casa de Tia Ciata e de muitas outras tias antigas baianas surgiu o samba.
Desta vitória da luta de diversos ilustres negros é que se originou o Carnaval, que atualmente remunera alguns sambistas e virou fonte de trabalho para muitos. Alguns conseguiram notoriedade e respeito na sociedade, atingindo as mais altas classes sociais. Dos escravos, aos grandes artistas negros da Praça Onze e de diversas casas humildes onde haviam reuniões de dança e batucada, criando lendárias composições, que são referência para a cultura popular brasileira em todo mundo. Por isso tudo é que hoje devemos agradecer a esses negros pioneiros, pelo Carnaval ser o que ele é hoje, por todos os benefícios sócio-culturais que fazem desta manifestação popular ser hoje a maior festa do mundo e arrecadar tantos milhões para governos e escolas de samba.
Mas como toda grande festa, existem seus pontos positivos e negativos. Quando o samba cresceu, comercializou-se a cultura, os negros começaram a ver sua arte divina obter remuneração, arrecadar lucros... A batucada da "linda crioulada" aumentou até de ritmo (rs).
Todos felizes com reconhecimento de tanta luta e trabalho. Os ilustres "doutores, patrões", pessoas importantes das classes sociais mais altas, foram sendo seduzidas pela arte desses grandes negros, por sua batucada, dança, beleza, alegria e arte… Lindamente o samba foi se misturando.
A Arte por ser dom de Deus é capaz de quebrar qualquer barreira, até a do preconceito, fazer o impossível se tornar possível; e o samba é prova disso. Quando a comercialização entra na arte pode morar o perigo e o inimigo do artista mora ao seu lado. Na empolgação do desenvolvimento do samba, desta transição de arte para arte-empresa, alguns passaram a crescer muito os olhos, ceder muito espaço para lucrar mais, mudar de vida, sobreviver... Muitas vezes pela falta de informação, de não ter visão do novo mundo de negócios que se abriu. Infelizmente a grande maioria caiu em tentação, o famos "din din" falou mais alto. Não recrimino quem fez esse tipo de coisa, mas faltou e ainda falta descobrirmos o "Ponto de Equilibrio".
Mas devemos somente analisar e refletir para saber onde perdeu o fio da meada, como continuar a arte sem se perder mais, como reingressar o artista sambista em sua festa; sem oprimi-lo, não colocando-o mais como figurante da festa que ele criou, como se fosse um escravo que na época seus senhores os diferenciavam da sociedade de forma opressora com o intuito de colocá-los em seu devido lugar, para não se misturar a eles.
Não devemos retroceder, mas resgatar nossas origens da arte que fez o samba se tornar tão atrativo, tentando adaptar a arte, e o artista nesta modernização do samba, evitando descaracterizar mais nossa arte, para o espetáculo não perder sua essência, consecutivamente pode perder um pouco o interesse e ficar repetitivo demasiadamente. Os louros e lucros financeiros atuais podem nem sempre ser bem vindos a longo prazo e até diminuirem, porque o atrativo que faz do espetáculo Carnaval ser a menina dos olhos, financeiramente falando, o que atrai o público, a mídia, consecutivamente investidores nesta festa, são os artistas que fazem o espetáculo acontecer desde o ferreiro, carnavalesco, ao desfilante. Todos possuem extrema importância.
Só que quando falamos de carnaval, a primeira coisa que atrai toda essa comercialização é o samba, o som da batucada, bateria, músicos, compositores, cantores, a dança, o bailado, riscado dos passistas, mestre-salas, porta-bandeiras, baianas, comissão, carnavalescos... e porque não, Rainhas de bateria?
As Rainhas que hoje em dia possuem todos holofotes, na realidade por causa da mídia e do grande público que se interessa e consome o produto "Rainha de Bateria", que foi criado pelas próprias escolas de samba para aumentar a visibilidade de suas escolas em mídias, que o samba/carnaval poucas vezes aparecia, além de obter retorno financeiro com a troca de ceder espaço para as "madames" do samba em troca da midia e/ou muitas vezes patrocinio. Por isso, as escolas de samba somente convidam, em sua maioria, pessoas famosas, e os artistas do samba ficam fora um dos maiores espaços de visibilidade do carnaval que divulga a arte e o artista.
A imprensa, através do público, transformou as Rainhas em uma grande vitrine do carnaval. Sendo justo ou não, devemos ser sinceros. Uma das coisas que se fala mais no carnaval, que vende jornal, revista e passa exaustivamente na TV ao longo do ano, não somente no carnaval, quem mais divulgam a "marca-escola de samba". Essa divulgação maciça de qualquer tipo de informação sobre as Rainha de bateria e em conjunto, divulga-se a "marca-escola de samba", são elas, as Rainhas, que fazem isso, divulgam as escolas extremamente e automaticamente se divulgam, nessa troca de visibilidade e dependência mutua, esse retorno agrada as escolas, porque a mídia atrai investidores. Se ela não tivessem sua importância não existiriam no carnaval.
Apesar que além da parte comercial e de projeção das escolas e das artistas-Rainhas, existem algumas poucas Rainhas que realmente se envolvem, se identificam com suas agremiações, tornam-se participativas, mesmo não nascendo nas comunidades quase se tornam comunidade e brigam pela causa de suas agremiações e da arte do samba.
Pelo retorno de midia e/ou financeiro, as escolas optam cada vez mais em colocar pessoas famosas como Rainhas, e quando é desconhecida é porque entrou com patrocinio pesado, se não colocariam de comunidade. As celebridades para as "Super Escolas de Samba S.A" foram inseridas no carnaval porque facilita para as "empresas-escola de samba" obterem maiores lucros. Porém as administrações das escolas não devem ficar somente atreladas a isso. Muitos se acomodam, aceitam as ofertas financeiras e de patrocínio das "oportunistas do samba", as "alpinistas sociais" que veem a nossa festa, nossa cultura, como trampolim para a fama; sem nenhum objetivo artístico de agregar nada a arte, usando as escolas, os sambistas, nossa arte, nossa cultura, consecutivamente oprimindo e humilhando os sambistas. As pessoas que sorriem, aplaudem, ou favorecem este tipo de coisa estão apoiando o sistema, anulando o sambista e frustrando os futuros sambistas.
Algumas escolas se aproveitam disso porque se ganha mais fácil e rápido. Às vezes a futura Rainha nem é famosa, mas entrou "uma coisa qualquer". Alguns dirigentes com pouca inteligência e visão comercial se acomodam com estes "vícios do carnaval", no lugar de criarem jogadas financeiras ,administrativas e socio-culturais inovadoras, inteligentes para desenvolver lucros da escola e não anular seus artistas, e ao mesmo tempo agregando a todos da alta sociedade à comunidade batalhadora que originou tudo isso.
Desde que, no início, o samba atingiu altas classes, as "madames", que não tinham intimidade com a arte do riscado, do bailado, começaram a se interessar pela grande festa e as escolas, os sambistas aos poucos começaram abrir espaço, criando posições diferentes no espetáculo, para lucrar às custas do desejo das "madames". Assim, elas foram sendo introduzidas na festa, foram diversas vezes chamaris para atrair a alta sociedade, consecutivamente investidores e lucros para desenvolver o carnaval, virando empresa. Elas compravam suas fantasias, aos poucos espaços no espetáculo, seus homens e amigos começaram a gostar da festa, investir um pouco ali, aqui... e atualmente compram quase qualquer coisa.
Não satisfeitos de tirarem o lugar das verdadeiras Rainhas que são as passistas, que frequentam as escolas, porque não teriam páreo para competir no pé por igual com as passistas, e nem precisam, porque a grana falou mais alto, a grana que foi a única forma de tirar , ofuscar as sambistas e fazer das gringas as estrelas do espetáculo. Ainda não satisfeitos, pagam as passistas a ensinarem as gringas do samba a serem Rainhas, não sou contra aos profissionais que ensinam, porém quando da maioria das escolas de samba você só tem uma escola do grupo especial que é Beija-Flor com a Raíssa que é única rainha de comunidade do especial, poucas sambam, e a maioria de comunidade só conseguem sacrificadamente exibir sua arte do bailado com honra e glória devida somente no grupo de acesso, e no grupo A, o financeiro já está entrando, antigamente ninguém disputava coroa no acesso; é de se repensar em que rumo o samba está? A ponto de humilhar, rebaixar e oprimir os artistas que os criou, que infelizmente se submetem a ensinar sua arte pra ganhar um qualquer da gringa do samba pra pelo menos sobreviver.
Ridículo ver oprimirem quem não tem acesso à mídia para se expressar, aniquilar esses artistas que na festa não tem voz, e cada vez que passa perde mais espaço. É raro ver como destaque de chão porque os passistas não tem a grana que as escolas exigem pra comprar sua fantasia e se tornar destaque de chão, por isso as passistas de comunidade só ficam na Ala das passistas, porque é único espaço que elas ganham suas fantasias, tendo a função de tapar buraco que a bateria faz entre a ala e bateria quando entra no recuo, elas e eles salvam as escolas de tirarem alguns pontos baixos dos jurados, correm, mal conseguem levantar a bandeira da sua arte e mostrar na avenida seu bailado, a grande arte do samba no pé que em conjunto com a musicalidade do samba é a essência do carnaval.
Os raros passistas que conseguem aos troncos e barrancos subirem de posição digamos assim, nesta "hierarquia no espetáculo", e conseguem subir para posto de Destaque de Chão ou Rainha, tão sonhado pelos passistas, terem um espaço somente pra ele exercer sua arte, e não ser somente mais um na multidão, e poucos possuem o dom do bailado, porém deviam ser mais respeitados, valorizados pelos próprios sambistas, que muitas vezes menosprezam a ala de passistas que atualmente salva as escolas para tapar buraco da bateria, sem eles e a harmonia para organizar, muitas escolas perderiam seus tão disputados décimos.
Passistas, esta classe de sambistas que foram um dos criadores do samba, fazem grandioso trabalho por amor a arte, agremiação, não faltam ensaios, muitos mal conseguem sobreviver por não serem remunerados ou terem qualquer tipo de apoio, ajuda alimentar pelo exaustivo esforço, transporte, e os melhores artistas no riscado vão ganhar a vida no exterior, muitos até somem do espetáculo carnaval por não terem apoio e nem serem valorizados por sua arte. Por isso, cada vez mais existem poucos passistas, poucos sambam a arte do malandro. Cada um da velha guarda, quando falece, leva a arte do riscado junto, poucas agremiações dão continuidade e valor ao bailar, poucas dão apoio aos seus artistas.
Algumas escolas gostariam de banir a Ala dos passista, porque alguns dirigentes pensam que é mais um custo, sem retorno financeiro. Alguns dizem que são povo de comunidade, bando de macaco que pula, que as mulheres são bando de oferecidas, gente que só quer aparecer... Essas coisas ridículas e pesadas demais de ouvir ou digerir pra quem exercer a arte. Mas quando chega a gringa no samba com seus "vinténs", eles na maioria se vendem fácil, fácil, esquecem seus antepassados, até dos seus filhos e filhas, netos que um dia queriam ser Rainhas, destaque de chão, e estendem tapete vermelho pra gringa. Ela pode ser Rainha, destaque, o preto, pobre de comunidade só pode ser de Ala. Não desmerecendo as Alas, mas na visão de alguns dirigentes eles usam o termo para menosprezar, porque esses que pensam pequeno e são limitados em suas administrações fazem isso para diminuir e afastar o sambista verdadeiro da luz, da possível ascensão profissional, porque em uma Ala, o artista profissional raramente vai se destacar. No inicio todo mundo sai em Ala, é primeira experiência importante, mas depois, as próprias agremiações vão dificultando o artista de expor mais ao grande público seu talento seu potencial em postos de destaque, exercendo seu lado profissional como artista.
Carlinhos coreógrafo está a muitos anos no carnaval e há pouco tempo ele conseguiu exercer um trabalho coreografando uma Ala, belíssimamente com sua equipe de bailarinos sambistas onde todos se divulgaram e ele em conjunto com os outros puderam mostrar que existem pessoas da comunidade que possuem extremo talento, podem divulgar suas agremiações tanto quanto uma rainha, mas poucos conseguem oportunidade, poucos são os dirigentes com visão para proporcionar oportunidade para estes artistas. Dirigentes e escolas poderiam também lucrar muito com seus artistas, com sua comunidade, esta é a função de dirigentes inteligentes e não se acomodar com o dinheiro fácil de algumas gringas do samba.
Dirigente que sabe administrar, dirigente inteligente, faz de seus artistas e da comunidade sua fonte de lucros e atrativo, proporcionando oportunidade aos seus; e ao mesmo tempo permite que as gringas do samba desfrutem da festa, em soma a agremiação se beneficia e todos ficam felizes.
Em poucas escolas podemos ver um ou outro guerreiro na luta da resistência da arte do samba no pé; e ainda existem invejosos que os criticam. Infelizmente não vemos mais os malabaristas de pandeiro, malandros riscando a avenida. Em São Paulo aparece um ou outro tentando resgatar esta arte que está se perdendo, pelo menos registra e exibe para nova geração saber que existe. Essas coisas ficaram muito nos documentários de grandes sambistas antigos e na memória da velha guarda, um ou outro passista consegue realizar esta arte divinamente, por pura intuição, pelo Dom que Deus lhes proporciona, já que na arte do bailado, seu desenvolver, proteção da arte, preservar patrimônio, museu, nada disso érealizado pelos próprios sambistas e suas agremiações.
Existe sim o descaso, preconceito e discriminação da arte do samba no pé no próprio meio do samba. Se fossem bailarinos clássicos seriam mais respeitados, mas o passista é bailarino da arte afro... Espero que este pensamento um dia possa mudar não somente na sociedade, mas nos próprios sambistas.As pessoas ainda se assustam quando um passista diz que fez balé, que é formado em algum curso, se graduou, ou é médico. As próprias pessoas muitas vezes do samba menosprezam, acham impossível, ironizam, às vezes ridicularizam a negra que samba diferente porque fez balé e seu corpo moldou os movimentos do samba de forma diferente, falam mal do garoto que quer sambar como mulher, porque a única referência de poder de quem dança em uma escola de samba é no cargo de Rainha, e ele sonha em ser estrela. Concordo que falta malandro, mas o garoto feminino também deve ter seu espaço. Istó é acrescentar na arte. O artista, transforma, agrega...
Na arte sempre surgirão pessoas que trazem nova intenção para movimento artístico, novos debates para buscarmos a melhora no espetáculo, sendo compreendidas ou não pelo público, agradando ou não, mas menosprezar, fazer comentários pejorativos a quem faz arte deveria ser um crime, porque qualquer expressão de arte é divino, só quem as exerce sabe o real valor de quem faz arte.Os gringos estão muito mais se vendo no samba através das gringas no samba que assumem a posição, que é de direito dos artistas do samba expressarem sua arte, conquistarem notoriedade em um espaço de maior visibilidade como da Rainha de Bateria, destaque de Chão, ou até mesmo tendo liberdade de criação como lindamente Carlinhos coreógrafo fez no Salgueiro interpretando com seu Balé Madame Satã em uma Ala somente deles, resgatando na Ala vários malandros envolta de Madame Satã.
Carlinhos engrandeceu e valorizou os passistas com este grande espetáculo chamando atenção da mídia e do grande público não somente para ele, mas para aquele grupo de malandros, interpretando, acrescentando samba no pé à arte cênica, a interpretação de personagens no espetáculo carnaval. Carlinhos e equipe engrandeceram o espetáculo, inovaram.
Se as mulheres negras possuem dificuldade de espaço, imagina o passista masculino... É muito pior porque não existe um Rei de Bateria, mas para Carlinhos nem precisou, ele e seu balé ofuscaram muita Rainha de bateria, seu trabalho foi reconhecido perante público e nas grandes midias, obteve notoriedade, divulgou sua escola como se fosse uma Rainha, a escola indiretamente ganha com a mídia positiva. Inteligente a escola que consegue dar um pouco mais de espaço para seus artistas desenvolverem a arte com liberdade e ainda a escola se beneficiar comercialmente com isso.
Bailarinos do samba, muitos nasceram em suas agremiações, não perdem nenhum ensaio, dão sangue, se sacrificam, são atletas do samba, sambam e exercem sua arte exaustivamente abrilhantando e sendo grande chamariz do espetáculo, bailam exaustivamente, ferem seus pés e corpo por exaustão, fazem tudo por amor e prazer da arte, por sua escola, gastam até o que não tem em passagens pra chegar em suas quadras, mal conseguem se alimentar, não possuem nenhuma ajuda de custo, de prevenir sua saúde contra lesões, preparação física, incentivo. Esses guerreiros, verdadeiros atletas e profissionais do samba, não devem ser tratados como escória da sociedade do samba só porque não valem quesito ou porque não dão dinheiro, eles e elas são a arte, a base do samba que originou tudo.
Quando não damos valor a estes artistas, aos adultos, automaticamente desvalorizamos os futuros sambistas, anulamos os sonhos desses pequenos que sonham em crescer na vida com sua arte, obterem notoriedade. Pode ser o seu filho, neto, filho do ritmista, parente do compositor, neto do cantor, filha do mestre de bateria que sonha em ser Rainha, e muitos continuarão somente no sonho, se desde agora, cada um não procurar agir, ter atitude, sem brigar, mas impor, comentando na web, vaiando ou aplaudindo quando for preciso. Em eleições para presidente exigir mais, reivindicar, afinal de contas, os dirigentes e presidentes é que dependem da comunidade para continuarem no poder e não a comunidade que depende deles. Não tenham medo de se expressar, a comunidade tem mais poder do que pensa, mas não sabe usar, usem para o bem de vocês e dos seus filhos, netos... Mobilizem-se.
Mobilizem-se não somente pelos passistas, mas pelas baianas, por todas as classes de sambistas, cada um com uma causa diferente, as classes de sambistas que são remunerados e conseguiram um patamar um pouco melhor, não ignorem a luta dos outros, e ajude-os; se não daqui a pouco estaremos discutindo sobre "cota de sambista no carnaval"... Deus que me livre, daqui algun anos, termos que somente recordar imagens de arquivo de passistas, baianas... porque se extinguirão, se as comunidades, publico e imprensa não se mobilizarem, questionando, analisando, exigindo maciçamente.
A sorte do samba não ter se descaracterizado ainda mais, foi de terem colocado como quesito casais de mestre-sala e porta bandeira, comissão de frente, bateria... Enfim, o que preservou ainda um pouco mais as funções, setores básicos do samba foi algumas delas se tornarem quesitos, se não, muitos já teriam vendido espaço pra outros ou transformado em outra coisa. Esses profissionais deram sorte, se salvaram pelo quesito, ainda bem que pelo menos esses conseguem ganhar na maioria alguma remuneração de suas escolas para exercerem seus trabalho, como Mestre de bateria, cantor, mestre-sala, porta bandeira....
Bem ou mal, o quesito ajudou a preservar alguns artistas do samba, mas não é por isso que nós devemos nos calar e parar de lutar, porque como ficam os outros artistas, e também nada na vida está garantido, a luta é eterna, e unirmos seria o ideal. Não sou a dona da verdade, nem tenho esta pretenção, analiso os fatos e divido com vocês, para abrir debate, analisarmos, trocar opiniões e tentarmos juntos mudar este quadro. A resposta vocês darão na avenida, nas quadras, ensaios, e nas eleições... Aplausos, vaias e comentários são termômetro para escolas e dirigentes saberem onde estão certos ou errados e onde devem mudar, porque eles dependem de agradar vocês que são público e comunidade, são vocês que fazem o carnaval movimentar tanta grana para eles. Por isso parem de pensar de forma pessimista que não tem mais jeito, basta querer, que tudo tem jeito; talvez não mudemos o mundo, seria bastante pretenção nossa, mas pelo menos amenizaremos nosso mundo.
A questão é aumentar a porcentagem e a quantidade de sambistas em diversos cargos do samba, passistas, rainhas, destaque... As escolas precisam do financeiro para fazer carnaval, mas vamos combinar que nós já pagamos isso com nossos impostos já que todos recebem alguns milhões de verbas públicas + patrocínio, e ainda criam formas diferentes de capitar ainda mais. Então não podem ter a desculpa que colocam a rainha ou destaque gringa no samba porque precisa de dinheiro, a verba que elas investem nem é tão grande em comparação com a governamental recebida, e com a grandiosidade do espetáculo. Necessitamos é que alguns dirigentes, estudem, se qualifiquem mais para suas funções e aprendam capitar ainda mais agregando seus artistas; pensando também na futura geração de sambistas.
Por toda essa reflexão, mesmo tendo condições atuais pelo meu novo padrão de vida, me recuso e sempre recusei patrocinar para ser Rainha. Poderia aproveitar a fama e arrumar patrocínio, poderia tudo... Mas entrei no samba com um propósito, cada artista segue um caminho, foi a comunidade que exigiu para me tornar Rainha, a presidente na época a falecida Neide Coimbra e sua diretoria ouviram e concordaram de forma inteligente o apelo da sua comunidade, na época já era famosa pelos trabalhos na TV, somou a midia com o samba no pé, mas neste caso o pé falou mais alto, se entrei assim e permaneci assim por eles, durante 5 anos, mesmo com um e outro diretor querendo que entrasse algum "agrado" de uma gringa no samba, mesmo com a cara feia de alguns mercenários, mesmo com as pressões pessoais que sofri a comunidade obteve mais força e os presidentes concordavam, quando um não concordou, e eu me recusei a entrar no sistema financeiro... Saí do posto com honra e orgulho, tirando a causa dos bastidores para o público saber a verdade, e de alguma maneira as pessoas procurarem mudanças em suas manifestações, promovendo mudanças.
Poderia ter cedido ao sistema, ter ficado calada... Mas por que? Acrescentaria o que? Somente alimentaria algo que oprime os atuais sambistas e os afastam, desiludem e oprimem os jovens sambistas. Não quis fazer parte deste circulo vicioso e nem alimentá-lo; não preciso disso, e sim estes alguns dirigentes que estão viciados ao "sistema mais fácil para administrar" e as novas aspirantes a fama. Mas as comunidades e os sambistas possuem poder de mudar, usem este poder nas quadras, avenida e parem de abaixar a cabeça e aplaudir qualquer um e tudo que dizem, não se rebaixem ao sistema que prejudicam vocês e os seus futuros sambistas.
O sambista, as comunidades, escolas e dirigentes devem mudar um pouco sua forma de pensar; é o momento de não nos excluirmos e virarmos figurantes da festa, mas também brilhar nela, deixar nossos artistas terem sua liberdade de expressão também nos espaços disputados que tem maior visibilidade e são pagos pelas não sambistas.
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