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domingo, outubro 23, 2011

Enquanto 48% dos cinemas do mundo já são digitais, o Brasil só modernizou 14% de suas salas














Em até quatro anos, a sala de cinema sem projeção digital deve se juntar a um grupo de excluídos que já inclui o disco de vinil, o telefone discado, o videocassete e a máquina de escrever. Será, portanto, um item relegado a nichos de colecionadores e saudosistas em todo o mundo, talvez exceto em um país, o Brasil.


Hoje, apenas 14% das salas nacionais têm projetores digitais, num patamar bem abaixo dos 48% da média mundial. As outras 86%, por sua vez, ainda exibem os filmes em 35 milímetros, um formato que deve sumir do mercado até 2015, o que acende um alerta no setor audiovisual brasileiro sobre como digitalizar suas salas.


O processo de modernização foi debatido durante o Festival do Rio e será tema do ShowEast, uma conferência global de empresas exibidoras e distribuidoras, que começa amanhã, em Miami. Os estúdios e os distribuidores são os maiores interessados na mudança por causa da redução de custos - enquanto o sistema em 35 milímetros exige gastos de impressão das cópias em película e de transporte, o digital funciona com o simples envio de um arquivo para uma sala de cinema pela internet.


Atualmente, as salas digitais do Brasil colocam o país no mesmo patamar da África. Nos EUA, por exemplo, o percentual deve chegar a 66% no fim do ano e mais de 90% em 2013, prazo dado pelos estúdios americanos para cancelar o lançamento de cópias em película. No processo de digitalização, o Brasil está atrás ainda da média da América Latina (20%), da Europa Ocidental (51%), da Europa Oriental (33%) e da Ásia (38%). A preocupação do mercado é que, no ritmo brasileiro, será impossível converter todas as mais de 2.300 salas do país até 2015, ano previsto pelos estúdios para a substituição completa da película no mundo.


- O planeta está usando computadores, enquanto o Brasil insiste em manter suas máquinas de escrever. É essa a comparação - afirma Howard Kiedaisch, CEO da empresa europeia Arts Alliance. - Todos os estúdios vão deixar de lançar cópias físicas rapidamente, e os fabricantes de películas vão fechar suas fábricas. Não haverá filmes para quem não passar logo da película para o digital.


Kiedaisch esteve no Brasil durante o Festival do Rio para tratar da digitalização das salas. Mas seu interesse no tema tem motivações econômicas: baseada em Londres, a Arts Alliance é uma das empresas que têm como atribuição mediar os contratos entre as distribuidoras e os exibidores para financiar a digitalização. Essas empresas são chamadas de integradoras. Nos EUA e na Europa, o modelo de financiamento é o Virtual Print Fee (VPF). Trata-se de uma taxa paga pelos estúdios e distribuidoras para que os exibidores possam migrar do analógico para o digital. Há casos, como o da Holanda, em que o governo também colabora com o processo, financiando a transição. A Arts Alliance, portanto, espera uma definição de qual modelo o Brasil pretende seguir para atuar no país.


- O Brasil precisa ter um plano que abranja todos os exibidores, inclusive os pequenos. Ninguém pode ficar de fora para que nenhuma sala seja fechada - afirma Luiz Severiano Ribeiro, presidente do Grupo Severiano Ribeiro, que vai participar do ShowEast. - Não podemos ficar para trás, com o risco de nos tornarmos obsoletos. Temos que correr. Considerando o momento em que estamos hoje, não acredito que consigamos chegar a 100% de digitalização em menos de cinco anos.


O assunto também vem sendo debatido com força no governo brasileiro. A Agência Nacional de Cinema (Ancine), órgão federal que regula e fomenta a atividade audiovisual, estuda lançar uma linha de crédito para agilizar o processo junto aos exibidores.

Uma ação em prol da digitalização ocorreu em setembro, quando a presidente Dilma Rousseff assinou a Medida Provisória 545, instituindo o programa Cinema Perto de Você. Entre outras atribuições, o programa corta os impostos para a importação de equipamentos audiovisuais, a partir de 1de janeiro de 2012. Atualmente, na compra de um projetor, paga-se 65% de impostos federais, mais cerca de 18% de ICMS - com exceção do estado do Rio, onde o setor está isento de ICMS. Com isso, enquanto nos EUA a digitalização de uma sala custa cerca de US$ 70 mil, no Brasil ela fica entre R$ 300 mil e R$ 450 mil.


- Como os maiores interessados nisso são os distribuidores, pela redução dos gastos com cópias e transporte, nosso entendimento é que são eles que devem pagar a conta num modelo próximo ao do $- afirma Manoel Rangel, diretor-presidente da Ancine. - Só que o governo vai colaborar. Não podemos nos dar ao luxo de deixar alguma sala de cinema para trás. Além da MP 545, que desonera o setor, vamos criar uma linha de crédito facilitado para os exibidores. Há uma decisão na Ancine para se instaurar uma linha específica para digitalização no Fundo Setorial do Audiovisual. Estamos trabalhando nisso.


MP ainda precisa ser votada

Em reuniões com os exibidores, os distribuidores brasileiros têm dito que topam pagar o VPF, mas insistem que os preços dos projetores no país podem atrasar demais o processo. O corte dos impostos proposto pela MP 545, portanto, seria fundamental. O problema é que a Medida Provisória faz jus ao nome e ainda precisa ser votada no Congresso para se manter em vigor. O mesmo texto já havia sido publicado como MP em 2010 pelo governo Lula, mas $prazo de 120 dias para sua votação expirou, e o programa Cinema Perto de Você não foi adiante. Agora, o novo prazo é até o fim de janeiro de 2012.


- Se a MP não for votada desta vez, a gente retorna para a década de 1980. Não entramos no jogo da digitalização no primeiro tempo, então não podemos deixar de entrar no segundo - diz Fábio Lima, sócio e diretor da Mobz, distribuidora que tem acordos com a Arts Alliance e trabalha para a sua entrada no país. - Ou se resolve logo qual plano de digitalização vamos seguir, ou o Brasil será o único mercado do mundo com filmes em 35 milímetros. Não se trata de uma posição política. É uma questão tecnológica.


Além de baratear os gastos com a distribuição dos filmes, a modernização das salas traz outras vantagens para o setor. Um arquivo digital não sofre arranhão como ocorre com as cópias em película. Com ele, é possível, ainda, que o distribuidor tenha o controle exato de quantas vezes um filme foi projetado e evite, assim, que algum exibidor faça sessões sem repartir corretamente os lucros de bilheteria com o restante da cadeia.


- O tema é estratégico para o Brasil, e vamos adotar ações de fomento e providências regulatórias - promete Manoel Rangel. - Só não vejo razão para alarmismo. O mercado brasileiro é importante para os estúdios e não será deixado para trás. Se demorarmos mais para modernizar as salas, ainda haverá cópias físicas para o Brasil.


Acontece que, mesmo no caso das 14% de salas já modernizadas, a migração ocorreu apenas por causa da chegada de filmes em 3D, que exigem um projetor digital: de olho no lucro maior de ingressos do 3D, os grandes exibidores acabaram bancando a digitalização de parte dos cinemas. É pouco para um país que tem se consolidado como um dos principais mercados de cinema do mundo.


FONTE: globo.com

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