Os pontos de maior conflito estão nas relações entre Brasil e África do Sul. Sul-africanos reclamam de entraves burocráticos no acesso dos seus vinhos ao mercado consumidor brasileiro.
Além disso, o órgão oficial que regula o comércio na África do Sul também está avaliando um pedido feito em julho por empresários da iniciativa privada para sobretaxar o frango brasileiro, seguindo leis anti-dumping do país. A decisão deve sair até o final do ano.
Já o Brasil reivindica o fim de barreiras sanitárias adotadas pela África do Sul contra a carne suína em 2005, por conta de um surto de febre aftosa no Maranhão.
Diplomatas e empresários dos dois países discutiram a questão da carne suína e do vinho na segunda-feira em Pretória, na véspera da quinta cúpula do Fórum do Ibas, que foi concebido há sete anos para fortalecer as relações Sul-Sul - uma política de aumentar laços políticos e econômicos entre países emergentes do hemisfério Sul.
O Fórum do Ibas contará nesta terça-feira com a participação dos três chefes de Estado - a presidente Dilma Rousseff, o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, e o presidente sul-africano, Jacob Zuma.
Carne e vinho
Entre 2003 e 2010, a corrente de comércio entre os países do Ibas saltou de US$ 4 bilhões para US$ 16 bilhões. A secretária de Comércio Exterior do governo brasileiro,
Tatiana Prazeres, atribui esse salto tanto às iniciativas políticas dos governos - como a aproximação promovida pelo Fórum do Ibas - como ao crescimento econômico das potências, que ampliaram suas relações com novos parceiros comerciais.
Entre janeiro e setembro deste ano, o comércio entre Brasil e África do Sul já superou todo o valor de 2010. Apesar do incremento nas relações, ainda há contenciosos bilaterais.
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, esteve em Pretória na segunda-feira para discutir a barreira sanitária à carne suína brasileira. Desde o embargo adotado em 2006, o governo brasileiro estima que deixou de exportar US$ 30 milhões ao ano em carne suína para a África do Sul.
"O problema é que a Rússia também adotou restrições à carne suína brasileira nos últimos anos. Como a Rússia representava 45% das compras de carne suína brasileira, a busca por novos mercados, como a África do Sul, se tornou estratégica para o Brasil", disse à BBC Brasil o adido agrícola brasileiro em Pretória, Gilmar Paulo Henz.
A função de adido agrícola foi criada em 2009 especialmente para atuar em negociações de contenciosos deste tipo.
O Brasil reclama que a África do Sul é um dos poucos países do mundo que ainda não abandonaram a barreira sanitária, já que o problema da febre aftosa já foi superado há seis anos.
Em contrapartida, os sul-africanos querem que o Brasil facilite o acesso do vinho aos consumidores brasileiros.
Eles pedem que três pontos sejam facilitados: o fim da exigência de um teste que avalia a qualidade das uvas do vinho - considerado desnecessário para produtos sul-africanos, que têm qualidade reconhecida - a agilização do desembaraço nos portos e mais informações sobre os selos adotados pela Receita Federal.
Nas negociações bilaterais, o fim da barreira à carne suína está atrelado ao maior acesso dos vinhos africanos ao mercado brasileiro. As negociações estão em andamento desde o ano passado. Henz disse acreditar que um acordo pode ser firmado até o final do ano.
Frango brasileiro
Um ponto mais delicado nas relações comerciais é o pedido feito por empresários do setor privado sul-africano para sobretaxar alguns cortes de frango brasileiro, que é o principal produto de exportação para o país.
Entre janeiro e agosto deste ano, o frango congelado representou 12% das exportações brasileiras para a África do Sul - ou R$ 134 milhões.
Segundo o adido agrícola, 70% do frango consumido no África do Sul é de origem brasileira. O pedido anti-dumping foi feito ao Itac, o equivalente ao Cade brasileiro, e é uma disputa entre os setores privados dos dois países.
O governo brasileiro tem argumentado que o Brasil não pode evitar os baixos preços dos seus frangos exportados, atribuídos à alta competitividade do setor. Alguns cortes de frango brasileiro já pagam uma tarifa de 28% - muito acima dos 8% cobrados de frango importado da União Europeia, que se beneficia de um acordo bilateral com a África do Sul.
"Ainda assim, o frango brasileiro ganha em preço na África do Sul", disse o adido agrícola.
Missões empresariais já foram feitas entre os dois países apenas para tratar do tema.
Uma fonte diplomática disse à BBC Brasil que o problema do frango causa uma certa perplexidade entre negociadores, já que vai contra o espírito de aproximação dos últimos anos promovido dentro do âmbito do Ibas.
O órgão regulador sul-africano deve decidir no próximo mês se adotará a sobretaxa contra o frango brasileiros.
Índia
Com a Índia, o Brasil tem relações comerciais menos conflituosas. Os dois países fizeram um acordo no ano passado dentro do Sistema Geral de Preferências Comerciais.
O acordo precisa ser aprovado pelos Congressos dos dois países. Quando isso acontecer, haverá redução nas tarifas cobradas de diversos produtos comercializados entre as duas nações.
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