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sábado, março 10, 2012

Centenário do Fla-Flu: O clássico no sangue


Netos de participantes do primeiro Fla-Flu se encontram onde houve a reunião que marcou o início do futebol do Flamengo

Nelson Rodrigues, encantado pela magia do Fla-Flu, escreveu certa vez que o clássico havia começado 40 minutos antes do nada. Faltou revelar o local do nascimento. Rua do Catete, 186, onde funciona hoje o Imperial Hotel, era a Pensão Almeida, local no qual ocorreu a reunião, no fim de 1911, que marcou a dissidência do jogadores do Fluminense e a decisão se formar o futebol do Flamengo.

Alberto Borgerth remava no Flamengo e jogava futebol no Fluminense, o que incomodava os cartolas tricolores. Cortado do time por este motivo, reuniu-se com oito jogadores e decidiram pela ruptura. O time campeão de 1911 estava esfacelado. Foi então que os dirigentes do Tricolor começaram convocar os atletas de outras modalidades do clube. José Bello, então tenista do Tricolor, foi chamado às pressas para entrar no time.

Para homenagear o centenário, o LANCENET! reuniu os netos desses dois participantes do primeiro Fla-Flu no local onde, indiretamente, ocorreu o nascimento do clássico mais charmoso do Brasil.

- Queriam tirar o meu avô do time (Borgerth). Como ele tinha uma liderança, os colegas tomaram as dores e fundaram o futebol do Flamengo. Ele passou a ser flamenguista, mas uma vez falou: "Meu coração é Fla-Flu" - disse Luiz Soares Brandão Filho, neto de Borgerth.

- Ninguém esperava. O time teve de juntar os cacos. E meu avô foi um dos escolhidos. Mesmo assim ganharam (o primeiro jogo) do time campeão (Carioca de 1911). Acho que contribuiu para formar a mística do clássico - acrescentou José Luiz Bello, neto de José Bello, zagueiro do Fluminense.

- É, mas o Flamengo ganhou o segundo jogo por 4 a 0 - rebateu de forma bem-humorada Luiz Soares, referindo-se ao segundo encontro do Estadual de 2012, no qual o Flamengo foi vice-campeão. O Paysandu, principal rival do Flu na época, foi o campeão.

Duas gerações depois, o orgulho não diminui. A julgar pela tradição do Fla-Flu, ele só aumentará.

PAIXÕES DE FORMAS DISTINTAS NAS FAMÍLIAS

As marcas da tradição deo Fla-Flu estão enraizadas nas duas famílias, mas de forma diferente. Curiosamente, José Luiz Bello, 34 anos, gestor esportivo, tem um perfil mais de torcedor que frequenta os estádios e leva a paixão tricolor até as últimas consequências. No seu casamento, por exemplo, a esposa entrou na igreja ao som do hino do Fluminense.

- Meu genro é fundador de uma das torcidas organizadas e a minha esposa é tricolor. Eu brinco com ela que só deu certo por isso. O sentimento pelo Fluminense está presente na família. Meu avô, onde ele estiver, deve estar satisfeito por isso - disse José Luiz.

Luiz Soares Brandão Filho, 68 anos, é um torcedor do Flamengo mais contido. O consultor de informática prefere acompanhar o time de coração de longe, mas já chegou a ocupar cargo na diretoria do Flamengo. Ele já nasceu num ambiente flamenguista, mas prefere assistir aos jogos e avaliar o time pela televisão.

- Não vou a estádio faz muito tempo. Mesmo de longe, gosto de acompanhar os jogos. O Ronaldinho precisa melhorar, e todos os torcedores sabem disso. Mas a rivalidade sempre esteve presente na minha família. Muitos também eram tricolores. Um tio meio me mandava carta quando o Fluminense vencia - explicou Luiz Soares.

TURFE E REMO: ESPORTES MAIS POPULARES DO RIO NO SEC. XX

No início do século XX, os esportes mais praticados pelos cariocas era o Turfe, A Corrida de Cavalo, e o Remo. Toda cobertura esportiva daquela época era dada para esses dois esportes, mas logo o futebol começou a se popularizar no país e o futebol começou a ganhar espaço.

Para se ter uma ideia, os registros da primeira partida, 7 de julho de 1912, foram bem reduzidos. Os principais jornais escreveram mais um breve relato pela forma surpreendente do time novo do Fluminense conseguiu vencer o "quadro" do Flamengo, formado por nove jogadores campeões cariocas no ano anterior.

- Era outro tempo. Era um esporte de elite, uma elite social. O racha acabou que fez um outro clube muito forte. Ao longa da história, o Fluminense  se reconstruiu algumas vezes. Matando os cacos. O meu pai sempre acompanhou muito isso. A rivalidade em si não tinha muito, era o natural de qualquer esporte - disse José Luiz, neto de José Bello.

- Ninguém poderia imaginar que o futebol iria ganhar tanta expressão. Era uma coisa que era tipo golf. Muito isolado e afastado do público. Os familiares que iriam nos jogos, o amigo da rua - explicou Luiz Soares Brandão Filho.

A REUNIÃO QUE SELOU A SAÍDA DOS JOGADORES DO FLU

> Insatisfação
Um desentendimento por causa da escalação do Flu que enfrentaria o Rio Cricket no Carioca de 1911 acabou sendo o pontapé inicial para haver futebol no Fla. Atacante e integrante da comissão técnica, Borgerth pediu para o time ser consultado e Afonso de Castro, outro integrante da comissão, disse não.


> A dissidência
No dia 21 de setembro do mesmo ano, nove jogadores insatisfeitos com a atitude de Afonso de Castro se reuniram na Pensão Almeida, na Rua do Catete, 186. Eles fizeram um pacto para ganhar do Rio Cricket e do América, serem campeões pelo Flu e abandonarem o clube em seguida. O que foi cumprido à risca.


> Ida para o Flamengo
Em 8 de novembro, Borgerth propôs, em assembleia no Flamengo, a criação de um time para disputar o Carioca de 1912 - oferta aceita pelos companheiros que saíram do Flu. Os associados, de primeira, não aceitaram. Após outro encontro em 25 de Novembro, na véspera de Natal ficou decidido que o Fla teria um time.


COM A PALAVRA
Luiz Soares Brandão Filho
Neto de Alberto Borgerth


Obviamente ele não fez isso imaginando o que aconteceria depois (voz embargada). Se ele estiver em algum lugar ouvindo, eu acho que ele estaria contente. O Flamengo não tem feito um mau papel, não. Ele, é evidente, está de parabéns, e estaria contente se tivesse vendo os dois aqui (cai lágrimas).

Porque o coração dele era Fla-Flu. Pessoas do clube me ligam dizendo que vão homenagear, mas ouço há tanto tempo. A minha mãe sempre teve uma grande mágoa porque não chegou a ver isso. Hoje é política,muitos têm de ser homenageados... Nunca falaram que iriam comemorar. É uma ideia. Acho que ele merecia.

FONTE:Bruno Braga e Rodrigo Lois / lancenet.com

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