Vinte e um de março, é o Dia Internacional de Combate ao Racismo.
Nessa data, diversos movimentos contra a opressão, entre eles, o
Quilombo Raça e Classe, vão tomar as ruas e denunciar o racismo ainda vigente
no Brasil e no mundo. Estão previstas mobilizações de norte a sul do
país.
Agenda de mobilizações
No Rio
Grande do Sul, será realizada uma vigília e um ato público no
INCRA /RS a partir das 8h. Os manifestantes vão exigir o
prosseguimento do processo de demarcação, com a notificação dos
invasores não quilombolas no território do Quilombo de Morro Alto. Vão
reivindicar também a titulação de seus territórios e condições para produzirem,
não só no em seu estado, mas em todo país. Vão também fazer
a denuncia do contingenciamento de recursos para a
garantia de seus territórios, os assassinatos e ameaças de morte como vem ocorrendo
em todo Brasil bem como o racismo institucional, com ato às 12h. No
final da tarde, às 17h, haverá um ato, concentração no Largo Zumbi dos
Palmares, e logo após, caminhada conjunta com os setores que estão denunciando
o aumento das passagens de ônibus.
No Rio
de Janeiro, haverá um debate sobre os movimentos
sociais e Pinheirinho, e panfletagem na UERJ – CA Geografia.
Em São
Paulo, haverá ato e panfletagem, na Praça Ramos, centro.
Em Maranhão, atividades na capital de São Luís, no
INCRA.
Em Minas Gerais, atividades sindicais nos hospitais;
panfletagem e ato na Ocupação Irmã Dorothy que está ameaçada de remoção.
Veja o manifesto do Quilombo
Raça e Classe sobre o tema
21 de
Março: Dia Internacional de Eliminação do Racismo no mundo!
A data de 21 de
março foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o “Dia
Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial” em memória do
Massacre de Shaperville, ocorrido em 1960, em Johanesburgo, na África do Sul, e
que resultou na morte de 89 pessoas, além de ter deixado 186 pessoas gravemente
feridas.
Naquele dia,
cerca de 20 mil negros e negras protestavam contra a “lei do passe”, que os
obrigava a portar cartões de identificação, especificando os locais por onde
eles podiam circular.
O crime
praticado pelo regime do apartheid repercutiu no mundo inteiro e praticamente
obrigou a aprovar uma convenção (da qual o Brasil é signatário) na qual se
afirma que a “discriminação Racial significa qualquer distinção, exclusão,
restrição ou preferência baseada na raça, cor, ascendência, origem étnica ou
nacional com a finalidade ou o efeito de impedir ou dificultar o reconhecimento
e/ou exercício, em bases de igualdade, aos direitos humanos e liberdades
fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou qualquer outra
área da vida.”
Um marco na luta contra o
racismo
Evidentemente,
sabemos que a ONU e os países que assinaram a convenção jamais tiveram sequer a
intenção de realmente eliminar o racismo. Contudo, o estabelecimento da data
teve sua importância principalmente porque foi um reflexo das vigorosas lutas
que explodiram em protesto ao Massacre de Shaperville e alimentaram os
“corações e mentes” dos milhões que, mundo afora, se levantaram contra as
opressões nos anos 1960.
Transformado em
exemplo mundial da face mais asquerosa do racismo, o Massacre, por exemplo,
impulsionou o ascenso das lutas pelos direitos de negros e negras pelos
direitos civis e ações afirmativas, nos EUA, tendo inspirado a militância de
ícones do movimento negro como Malcolm X, Martin Luther King e os Panteras.
Todos eles referências, até hoje, para nossas lutas.
Novos tempos, novos massacres
A reação mundial ao massacre obrigou alguns países a adotarem medidas efetivas
para diminuir o abismo racial. Contudo, como tudo mais na sociedade
capitalista, as poucas conquistas que foram obtidas foram sendo retiradas no
decorrer das décadas seguintes, uma processo que, lamentavelmente, se acentuou
a partir do final dos anos 1980, quando os planos econômicos e a ideologia
neoliberais resultaram em profundos ataques às populações historicamente marginalizadas,
negros e negras em particular.
Nas últimas
décadas, na América Latina, em países como Brasil, Bolívia, Equador e Uruguai,
o neoliberalismo combinou-se com a política de conciliação de classes promovida
pelas chamadas “frentes populares” ampliando ainda mais os ataques às
populações historicamente marginalizadas, incluindo seus povos nativos
(indígenas).
O resultado não
poderia ser outro: mundo afora, a opressão racial voltou a se intensificar,
sendo cada vez mais colocada a serviço da superexploração de milhões de
trabalhadores, sejam eles negros ou negras, indígenas, migrantes e imigrantes,
“chichanos” (latinos nos EUA) ou simplesmente “desterrados”, que vagam de país
em país em busca de empregos e melhores condições de vida. Todos eles submetidos
aos piores empregos e condições de trabalho, à precarização e à
vulnerabilidade.
É isto que faz
com que os setores realmente comprometidos com o combate ao racismo falem,
hoje, em um processo de “genocídio” contra a população negra, particularmente
seus jovens. Genocídio praticado com as armas na nuca nos bairros pobres e
periféricos das principais cidades do mundo. Mas, também, um “massacre”
cometido cotidianamente ao impedir o acesso dessa mesma população ao trabalho,
à saúde de qualidade, à educação e tudo mais que possa lhes garantir uma vida
digna.
Uma situação que
se agravado ainda mais com a explosão da crise econômica mundial. Exemplo disto
é a onda de ataques neonazistas que está ocorrendo neste exato momento em
Toulouse, na França, onde (como a imprensa tem noticiado), um esquadrão de
ex-militares já promoveu três ataques contra representantes da população árabe,
judia e latina (de Guadalupe, no Caribe).
Como também,
certamente, é o racismo que está por trás da morte do jovem brasileiro na
Austrália, também esta semana, e a infinidade de outros casos semelhantes que
têm pipocado por Europa e Estados Unidos.
No Brasil, higienização
étnico-social e criminalização da pobreza
Cinquenta e dois anos depois do Massacre de Shaperville, no Brasil, o racismo
também tem assumido formas cada vez mais perversas. Além das práticas
neoliberais, a aproximação dos chamados “grandes eventos” (Copa e Olimpíadas)
tem alimentado políticas de higienização social e criminalização da pobreza
que, sem margem de dúvidas, atingem mais intensamente a população negra.
E é lamentável
que estas políticas estejam sendo levadas a cabo pelo “lulismo” (PT e PCdoB à
frente) que, no discurso, sempre se disse comprometido com a luta anti-racista
e a defesa do povo negro. Um discurso que, hoje, não resiste à própria
realidade. E os exemplos, infelizmente, são muitos.
Afinal, foi o
governo Lula (e, agora, o de Dilma) que promoveu a vergonhosa invasão do Haiti,
um dos maiores símbolos da luta e da resistência negra. Como também, foi este
mesmo governo que mutilou o Estatuto da Igualdade Racial (retirando dele pontos
fundamentais como as cotas e a defesa das terras quilombolas, isso pra não
falar na simples menção ao termo “raça”).
Se isto não
bastasse, os governos do PT e do PCdoB tem se caracterizado pela cooptação da
lideranças e grupos do movimento negro (com entidades como a CONEN e Unegro, à
frente), levando a um imobilismo ou à negociação de nossas bandeiras
históricas, em trocas de favores (cargos gabinetes, mandatos parlamentares e
secretarias institucionais).
Estimulados por
este imobilismo e, principalmente, acobertados e protegidos pelo próprio
governo (em troca de favores espúrios e da aprovação de projetos no congresso),
a “direita” e os setores mais conversadores do país têm, literalmente,
promovido um verdadeiro festival de atrocidades racistas.
Comandados por
sujeitos asquerosos como Bolsonaro, Malafaia, Garotinho ou a chamada “bancada
cristã” estes setores têm se aproveitado da situação para promover todo e
qualquer tipo de ataque contra negros e negras e demais setores oprimidos,
principalmente gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros (LGBT) e
mulheres.
Os lamentáveis
reflexos disto na sociedade lamentavelmente podem ser encontrados todos os dias
nas páginas dos jornais. Somente em São Paulo, por exemplo, a lista parece não
ter fim.
No início de
dezembro, uma estagiária perdeu o emprego no Colégio Anhembi Morumbi porque se
recusou a alisar o cabelo; dias depois, um garoto etíope foi jogado para fora
de uma pizzaria por ser “confundido” com um garoto de rua; enquanto isso, na
USP, um estudante “rasta” foi brutalmente agredido por um policial e um jovem
trabalhador mofava na cadeia acusado de um crime que não cometeu (como ficava
evidente em vídeo gravado no seu local de trabalho).
E as histórias
não param. No último fim de semana, todos viram a brutalidade de um ataque
contra um jovem negro, em Embu das Artes, também em S. Paulo, e, há meses,
também temos denunciado a política elitista e racista da maior universidade do
país, a USP, que tem feito uma verdadeira campanha para desabrigar o Núcleo de
Consciência Negra, fundado em 1988.
Para além das
fronteiras de S. Paulo, a situação não é diferente. No Paraná, um jovem negro
foi torturado por 48 horas; no Maranhão, há alguns dias, outra estudante, Ana
Carolina, foi impedida de entrar na escola por ter uma cabelo “black” e, no
Pará, jovens negras foram “oferecidas” como objetos sexuais para os detentos de
uma prisão.
Junte-se a isto
a onda de ataques homofóbicos e as constantes denúncias de agressões machistas
e tem-se um quadro bastante desagradável da situação dos oprimidos. Uma
situação em muito agravada por outro aspecto do projeto de “higienização” em
curso: a contra-reforma urbana. Afinal, não é preciso muito esforço para se
identificar a cor da maioria daqueles que residiam no Pinheirinho, na Favela do
Moinho, na “cracolândia” ou nas áreas, em todo os países, das quais as
populações estão sendo removidas em função das obras da Copa e do PAC.
No que se refere
à população negra, este projeto tem assumido um caráter particularmente
criminoso através da intensificação dos ataques aos povos quilombolas ou as
comunidades tradicionais, como foram os casos recentes do Rio dos Macacos, na
Bahia, e da Matinha, no Maranhão.
Retomar as lutas, para honrar
os mortos de Shaperville
Diante desta
inegável onda racista, a primeira presidente-mulher do país tem dado as costas
aos oprimidos e intensificado suas alianças com os reacionário e,
consequentemente, potencializado o aumento da violência, das ameaças, do
genocídio e mortes dos negros, jovens e mulheres das comunidades ocupadas pela
“polícia pacificadora”(UPPs), dos lideres quilombolas e indígenas, que estão em
luta por seu direito a terra.
Contudo, isto,
felizmente, não tem acontecido sem a resposta dos movimentos que lutam contra a
opressão e exploração. Podemos dizer que há um processo de reorganização dos
movimentos negro, de mulheres, LGBT, sindical e popular, no mundo e no Brasil.
Um processo ainda incipiente, mas que tem cumprido um papel fundamental na
organização da resistência e na luta contra a opressão, a exploração e a
discriminação da sociedade capitalista.
É isto que
podemos ver no atos promovidos, desde o ano passado, pelo “Comitê de Luta
contra o Genocídio da Juventude Negra” (constituído em São Paulo, como mais de
25 entidades, dentre as quais o “Quilombo Raça e Classe”, filiado a
CSP-Conlutas); na resistência quilombola e popular no Maranhão e no Rio dos
Macacos; na continuidade da luta e solidariedade ao Pinheirinho; em campanhas
como “meu cabelo é bom, ruim é o seu racismo”, que começam a se popularizar
país afora ou nas muitas atividades que estão sendo programadas para este dia
21.
Esse é o único
caminho possível para impedir a continuidade dos “massacres” (físicos, psicológicos,
sociais e políticos) que continuam sendo promovidos pelos representantes do
Capital contra a população negra. Só a luta sem tréguas, em alianças com os
demais oprimidos e explorados, pode nos fazer honrar a memória de todos aqueles
e aquelas que tombaram lutando pela verdadeira liberdade. Este é o nosso
compromisso. E é para isto que convidamos a todos a se juntarem à luta, neste
21 de março e até a vitória.
FONTE: CSP-CONLUTAS - Julio Condaque e Maristela Farias
LEIA TAMBÉM: “Dia Internacional Contra a Discriminação Racial” http://guebala.blogspot.com.br/2010/03/dia-internacional-contra-discriminacao.html
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