Chico Anysio morre aos 80 anos
Comediante
estava internado em hospital no Rio de Janeiro.
Ele começou no rádio, fez sucesso na TV e atuou em filmes
Morreu nesta sexta-feira (23), aos
80 anos, o humorista Chico Anysio. Ele estava internado no Hospital Samaritano, na Zona Sul
do Rio, havia três meses. Ao longo de seus 65 anos de carreira, Chico Anysio
criou mais de 200 personagens e foi um dos maiores humoristas do Brasil com
destaque no rádio, na TV, no cinema e no teatro (abaixo, nesta reportagem,
relembre sua trajetória). Ele deixa oito filhos.
Anysio apresentou uma piora nas funções respiratórias e renal na quarta-feira
(21) e voltou a respirar com ajuda de aparelhos durante todo o dia. Ele estava
no CTI do hospital carioca desde 22 de dezembro do ano passado por conta de um
sangramento. O comediante chegou a ter o problema controlado, mas apresentou
uma infecção pulmonar e retornou à internação. Ele seguia em sessões de
fisioterapia respiratória e motora diariamente, somadas a antibióticos.
O ator também já foi submetido a uma laparotomia exploradora, procedimento
cirúrgico que serve para revelar um diagnóstico. Essa cirurgia fez com que
Chico Anysio tivesse um segmento de seu intestino delgado retirado.
No final de 2010, ele foi levado ao mesmo hospital com falta de ar. Após uma
obstrução da artéria coronariana ser encontrada, passou por uma angioplastia,
procedimento para desobstrução de artérias. Após 110 dias, teve alta em março
do ano passado.
Com fortes dores nas costas, o humorista foi novamente internado em novembro.
Ficou no hospital durante cinco dias, para receber medicação intravenosa devido
a problema antigo nas vértebras que provocava dor. No fim de novembro, teve
febre e os médicos descobriram uma contaminação por fungos, tratada com
antibióticos. No começo de dezembro, retornou ao hospital com infecção urinária
e ficou internado por 22 dias. Um dia depois, voltou ao Hospital Samaritano.
Nos momentos mais críticos, quando esteve no hospital entre dezembro de 2010 e
março de 2011, Chico necessitou da ajuda de aparelhos para respirar e se
comunicava com médicos e familiares por meio de mímica. Durante o período
pós-operatório, houve o diagnóstico de um tamponamento cardíaco, que acontece
quando o sangue se acumula entre as membranas que envolvem o coração
(pericárdio).
Durante o período de internação, que alternou momentos no CTI e em unidades
intermediárias, Chico Anysio apresentou quadros de pneumonia e passou por
sucessivas broncoscopias. As infecções foram tratadas com uso de antibióticos.
Antes, em agosto de 2010, o humorista precisou ser
internado para a retirada de parte do intestino grosso após ser constatado um
quadro de hemorragia no aparelho digestivo. Em maio de 2009, outra pneumonia o
levou ao hospital.
Rádio e TV
Foi no Rádio Guanabara, ainda nos anos 50, que os seus tipos cômicos começaram
a surgir. Até o “talento para imitar vozes”, como o proprio Chico descreveria
em seu site, evoluir para a televisão. A estreia aconteceu em 1957, na extinta
TV Rio, no programa “Aí vem dona Isaura”. Foi lá que o Professor Raimundo teve
sua primeira aparição no vídeo, como o tio da protagonista que vinha do
Nordeste — até então o programa só havia sido veiculado pelo rádio.
“Até tinha uma coisa de sentar para criar, mas uns
nasceram pela voz, outros pelo tipo, pela personalidade, pela caracterização.
Sempre fiz questão de que eles fossem encontrados sem que eu estivesse
presente. Que alguém dissesse: "'Na minha terra, tem um Pantaleão. No Rio
tem muito Azambuja’”, explicou o humorista ao “Estado de S. Paulo”, em 2009.
Num tempo em que ainda não existiam contratos de exclusividade, Chico pôde
fazer participações especiais em programas de outras emissoras e em chanchadas
da Atlântida.
O “Chico Anysio Show”, seu primeiro programa de humor, foi lançado no início da
década de 60. Foi ao ar pela TV Rio, depois pela Excelsior e em 1982 voltou a
ser exibido pela Rede Globo — onde o humorista já trabalhava desde 1969.
Mas foi na Globo que teve seus programas humorísticos de maior sucesso e onde
desenvolveu a maioria de seus personagens. Entre as atrações, destaque para
“Chico city” (1973-1980), “Chico total” (1981 e 1996) e “Chico Anysio show”
(1982-1990).
Alguns desses personagens quase que se misturam à história da televisão
brasileira, como o ator canastrão Alberto Roberto, o pão-duro Gastão Franco, o
coronel Pantaleão, o pai-de-santo Véio Zuza, o velhinho ranzinza Popó, o
alcoólatra Tavares e sua mulher Biscoito (Zezé Macedo) e o revoltado Jovem.
Com o passar dos anos, novos tipos eram criados e incorporados ao programa: o
funcionário da TV Globo Bozó, que tentava impressionar as mulheres por conta de
sua condição; o mulherengo e bonachão Nazareno, sempre de olho nas serviçais; o
político corrupto Justo Veríssimo; e o pai de santo baiano e preguiçoso Painho
são alguns dos mais populares.
Apresentada como quadro em outros programas desde a década de 1980, a
“Escolinha do Professor Raimundo” tornou-se uma atração independente em 1990.
No ar até 2002, o humorístico lançou toda uma geração de comediantes. Entre os
“alunos” revelados pelo “professor Chico” estão Claudia Rodrigues, Tom
Cavalcante e Claudia Gimenez.
Chico também atuou em novelas e especiais da Globo, como “Pé na jaca” (2007),
“Sinhá Moça” (2006), “Guerra e paz” (2008) e “A diarista” (2004). Chico Anysio
também teve um quadro fixo no Fantástico por 17 anos (de 1974 a 1991), e
supervisionou a criação no programa “Os Trapalhões” no início dos anos 90.
Cinema
A incursão mais recente de Chico Anysio no cinema foi como dublador. É dele a
voz do protagonista da animação “Up - Altas aventuras", animação do
estúdio Pixar. Antes disso, o humorista fez uma participação especial no
recordista de bilheteria “Se eu fosse você 2” (2008), de Daniel Filho. “Nos
créditos finais fiz questão de colocar ‘senhor Francisco Anysio’. Ele é um
astro, merece ser tratado com toda reverência”, explicou o diretor em
entrevista aoG1 durante o lançamento do longa.
Em 1996, o humorista interpretou o personagem Zé Esteves, pai da
personagem-título, em “Tieta”, de Cacá Diegues. O trabalho coincidiu com o
aniversário de 25 anos da estréia de Chicono cinema, na pornochanchada "O
doce esporte do sexo". Antes havia participado de comédias como "Mulheres
à vista" e "Cacareco vem aí".
Em 2011, em sua última aparição pública, recebeu o prêmio especial do Júri do
Festival do Rio pelo seu desempenho no longa “A hora e a vez de Augusto
Matraga”, do diretor Vinícius Coimbra.
"O filme é importantíssimo, a obra é linda. Vinícius realizou algo quase
inacreditável. É um filme que, tenho certeza, Sergio Leone assinaria com
alegria", destacou o bem humorado Chico, que fez questão de receber o
Troféu Redentor pessoalmente, mesmo de cadeira de rodas.
Literatura e artes plásticas
Além de se dedicar ao humor, Chico também foi artista plástico. Apaixonado pela
pintura, retratou paisagens ao redor do mundo a partir de fotografias que
tirava dos países que visitava. Realizou exposições de seus quadros em diversas
galerias do Brasil e chegou a afirmar que gostaria de ter dedicado mais tempo à
atividade.
“Porque teria tido mais tempo para aprender, para
melhorar. Teria mais tempo para me tornar conhecido e aceito, para vender meus
quadros por um preço melhor. Cheguei a admitir que a pintura seria meu emprego
da velhice, mas não vai ser, porque ninguém está comprando nada de obra de
arte, e pintar para guardar é terrível”, disse em entrevista à “Folha de S.
Paulo”, em 2007. Foi autor de 21 livros, tendo publicado vários best-sellers na
década de 70, como "O Batizado da vaca", "O telefone
amarelo" e "O enterro do anão". Sua última publicação foi “O
canalha”, lançada em 2000.
“É a história do cara que participou de todos os
governos, desde Eurico Gaspar Dutra até o primeiro mandato de Fernando
Henrique. Foi ele o responsável por todas as canalhices que ocorreram de lá
para cá, como dar um revólver de presente a Getúlio Vargas”, explicaria o
escritor Chico Anysio em entrevista à revista “Época”, no mesmo ano.
Outra de suas obras de destaque na literatura é o bem
humorado manual “Como segurar seu casamento”, também de 2000. Na época,
advertiu os leitores: “Não dou conselhos, transmito os erros que cometi e foram
cometidos em cinco casamentos. Conviver é a arte de conceder. Essa troca de
concessões gera a convivência harmônica”, comentou.
Carreira esportiva
Caçula de oito irmãos, Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho nasceu no dia
12 de abril de 1931, no município de Maranguape, no Ceará. A cidade
constantemente era citada de forma saudosa pelo humorista – seu personagem mais
popular, o Professor Raymundo, era de lá.
“Maranguape, cidade de que tanto falo, representa uma grande saudade. Foi um
pequeno paraíso, o Éden da minha infância durante gloriosos anos. Foi lá que
aprendi a ler sozinho”, escreveu o humorista em seu site oficial.
Aos 7 anos mudou-se para o Rio de Janeiro, após a falência da empresa de ônibus
da família. Morador do Catete, contrariou a vontade do pai e do irmão mais
velho — botafoguenses convictos — e se tornou vascaíno. Sonhava em ser jogador
de futebol.
Mas a carreira esportiva logo foi esquecida, quando Chico passou em testes para
ser locutor e ator da Rádio Guanabara. Ele ficou em segundo lugar, perdendo
apenas para Silvio Santos.
Nos anos 50, também trabalhou nas rádios Mayrink Veiga, Clube de Pernambuco e
Clube do Brasil. Foi na primeira que criou o programa que se tornaria um de
seus maiores sucessos, "Escolinha do Professor Raymundo",
inicialmente composta por três alunos: Afrânio Rodrigues (o que sabia tudo),
João Fernandes (o que não sabia nada) e Zé Trindade (o que embromava o
professor).
Apesar da tentativa de se tornar um galã de radionovelas, sua veia humorística
se destacava desde o início. “A rádio Guanabara descobriu meu jeito para imitar
vozes. Neste dia perdi minha chance de ser um Tarcísio Meira”, contou o
comediante em seu site. Foi assim que começou a compor os mais de 70 tipos
cômicos que marcariam sua carreira.
Casamentos e filhos
O primeiro de seus casamentos foi aos 22 anos, com a atriz Nancy Wanderley.
Depois foi a vez de Rose Rondelli. Sobre a união com a cantora e ex-frenética
Regina Chaves, dizia mal se lembrar. Já com Alcione Mazzeo, rompeu a relação
por conta de um ensaio nu. Mas foi seu matrimônio com a ex-ministra da Economia
do governo Collor, Zélia Cardoso de Mello — com quem teve dois filhos — que
provocou mais polêmica. "Passou a ser uma pessoa de meu desagrado total.
Fui um biombo para ela”, disse Chico à revista “Isto É”, em outubro de 2000.
Antes, porém, teve seis filhos, entre eles os atores Lug de Paula (famoso por
interpretar o Seu Boneco, da “Escolinha do Professor Raimundo”), Nizo Neto (o
Seu Ptolomeu, do mesmo programa, também dublador) Bruno Mazzeo (ator e
roteirista). Chico também era tio do ator Marcos Palmeira, filho do cineasta
Zelito Vianna, irmão do humorista; e da atriz Maria Maya, filha de Cininha de
Paula, sobrinha do humorista.
Em novembro de 2009 foi agraciado com a Ordem do Mérito Cultural, a mais alta
comenda do governo brasileiro na área. Da vida, dizia levar apenas um
arrependimento: “Me arrependo enormemente de ter fumado durante 40 anos.”
FONTE: Do G1 RJ
Relembre
personagens marcantes da carreira de Chico Anysio
Ao longo de seus mais de 60 anos de
carreira, Chico Anysio criou personagens que marcaram o humor brasileiro.
Confira abaixo alguns dos seus principais papéis:
ALBERTO ROBERTO
Galã e âncora de um talk show, se considera um símbolo sexual. Sua marca é uma touca de renda na cabeça. Bordão: "Não garavo"
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BENTO CARNEIRO
O "vampiro brasileiro", de sotaque interiorano; se apresenta como "aquele que vem do aquém do além, adonde que véve os mortos"
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BOZÓ
Diz que trabalha na TV Globo como "diretor gerente" e usa um crachá para tentar provar.
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NAZARENO
Funcionário público que trata mal a mulher por ela ser muito feia. Bordões: "Ca-la-da!"; "Isso não é mulher"
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COALHADA
Jogador de futebol estrábico, de bigode e cabelos encaracolados. Apesar de jogar mal, se considera um craque
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DIVINO
Guia espiritual, líder de uma "seita religiosa". Dá preferência às mulheres em suas consultas
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SALOMÉ
Senhora gaúcha íntima do ex-presidente Figueiredo. Em aparição recente no "Zorra Total", conversou com Dilma Rousseff
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JUSTO VERÍSSIMO
Político corrupto que não suporta pobres
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PAINHO
Pai-de-santo homossexual que lê os búzios para baianos ilustres
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