Érico Corrêa: estatização
do transporte público
é bandeira histórica do PSTU
A linha mestra da candidatura de Érico Corrêa (PSTU) à Prefeitura de
Porto Alegre parece ser a presença maior do Estado. Na saúde e na educação, o
servidor público de 52 anos defende o fim dos convênios que o município mantém.
No transporte público, é a favor da estatização. “É uma bandeira histórica do
partido a estatização das empresas de ônibus. Transporte público é um direito
do trabalhador. Portanto, é um dever do Estado. O transporte tem que servir
para beneficiar a população, não para enriquecer meia dúzia de empresários”,
disse, durante entrevista que concedeu ao Sul21 na sede do
comitê de sua campanha.
Com o serviço de ônibus manejado pelo próprio município, Corrêa acredita
que é possível oferecer linhas que passem de cinco em cinco minutos, mais qualidade
nos veículos e tarifas mais baratas. Ele acredita que esta seria uma solução
para a mobilidade urbana (aliado ao metrô, ciclovias e hidrovias), estimulando
as pessoas a usarem menos o automóvel.
O candidato do PSTU defende a atuação 100% pública do município até
mesmo na realização de obras. “Nós eliminaríamos a maior fonte de corrupção
deste país, que são as empreiteiras e as construtoras. A Prefeitura iria
contratar os funcionários e fazer a obra”, explicou. Na entrevista, Corrêa
também externa suas propostas nas áreas de cultura (com ênfase à questão da
Cidade Baixa), meio ambiente, habitação e segurança pública.
“No jogo das eleições, os capitalistas
são donos da
bola e do juiz também.
Nós não aceitamos este tipo de jogo”
Sul21 – Sendo um partido pequeno, qual foi a principal motivação do PSTU
para colocar na rua uma candidatura própria?
Érico Corrêa – O PSTU é um partido pequeno do ponto de vista
eleitoral e financeiro. Mas, do ponto de vista da militância, é um partido
grande, que faz luta o ano inteiro. A diferença entre a frente política que a
gente construiu, PSTU e Construção Socialista, e os demais partidos é que não
temos a eleição como objetivo direto. A eleição é um momento rico. Nós não
abrimos mão de participar, porque nas eleições as pessoas estão mais abertas a
discutir política. Quando temos a oportunidade de conversar com as pessoas e
mostrar o que a gente pensa, elas entendem. A regra do jogo na eleição é a
regra do capital, em que os partidos são financiados pelas grandes empresas. Os
capitalistas são os donos da bola e do juiz também. Nós não aceitamos este tipo
de jogo e, neste ponto, levamos desvantagem, mas no ano inteiro estamos fazendo
as lutas da classe. Isto é o mais importante.
Sul21 – Quais são as propostas da sua candidatura para a saúde em Porto
Alegre?
Érico Corrêa – Entendemos que a saúde é o principal ponto, porque vivemos numa
situação de calamidade, não só no município, como no estado e no país. As
pessoas estão morrendo de gripe. Para resolver a questão da saúde, em primeiro
lugar, é preciso investimento. Precisa que os governos cumpram, no mínimo, o
que determina a lei. Tem que fazer uma parceria forte com os servidores da área
da saúde, precisa de valorização, respeito e carga horária digna. Um segundo
ponto é a questão do modelo de gestão. Nosso município se utiliza de um sistema
de convênios, onde o Poder Público compra vagas, faz convênios com
laboratórios. São mais de 200 laboratórios conveniados com a Prefeitura, que
cobram mais caro, demoram mais tempo para fazer a entrega dos diagnósticos. E
há a falta de respeito dos governos, que dizem que têm que cumprir seus
contratos com os bancos, com as grandes empresas, que concedem isenções
fiscais, e, por outro lado, deixam as pessoas morrendo, sem atendimento nas
emergências.
Sul21 – Na área da educação, o município tem mais responsabilidade na
educação infantil, mas também possui escolas de ensino fundamental. Quais são
as propostas do senhor para esta área?
Érico Corrêa – Nós temos 16 mil crianças fora da escola infantil. O município não
cumpre aquilo que é elementar. Existe uma série de outras dificuldades. Por
exemplo, os alunos com necessidades especiais são incluídos em sala de aula,
mas não existem as condições para que eles sejam bem atendidos. O modelo que o
município utiliza de creches também é de convênio. Tem 189 creches conveniadas
na nossa cidade. São creches que não têm compromisso como teriam creches
públicas. Não têm uma responsabilidade, em última instância, do prefeito. Ele
faz um convênio, compra as vagas. Funciona como um depósito de crianças, infelizmente,
sem ter uma integração pedagógica. Este modelo de convênios também leva aos
escândalos, como o do Instituto Ronaldinho Gaúcho e o do Projovem, que envolvem
a relação não muito salutar do Poder Público com institutos e ONGs.
“A Lei de Responsabilidade Fiscal
foi criada para
beneficiar os ricos,
para que o dinheiro público
não seja utilizado no que é
necessário para a população”
Sul21 – O PSTU vem propondo, desde eleições anteriores, um plano de
obras públicas. O que difere este plano do PSTU do ciclo de obras que o país
está vivendo com o PAC e obras da Copa do Mundo?
Érico Corrêa – Nós eliminaríamos a maior fonte de corrupção deste país, que são
as empreiteiras e as construtoras.
Sul21 – Seriam obras tocadas, então, pela própria Prefeitura?
Érico Corrêa – Pela Prefeitura. A Prefeitura iria contratar os funcionários e
fazer a obra. A Andrade Gutierrez e a OAS não pagam um centavo de imposto para
esta cidade. Estão fazendo duas grandes obras, financiadas com dinheiro público
e estão totalmente isentas de pagamento de impostos. Operários em condições
subumanas. Na Arena já teve greve, já teve morte de operário pela falta de
condições, com os alojamentos deles colocados do outro lado da estrada. Tem
obras tocadas por este tipo de empresa no país, como Belo Monte e Jirau, em que
tem um banheiro para cada oitenta homens. Cobram muito caro e depois financiam
as campanhas políticas. É uma troca constante entre o Poder Público e estas
empresas. Nós achamos que este tipo de obra tem que ser tocada pelo Município,
pelo Estado e pela União diretamente.
Sul21 – Por que seu programa de governo é contra o cumprimento da Lei de
Responsabilidade Fiscal?
Érico Corrêa – A LRF foi criada para beneficiar os ricos, para que o dinheiro
público não seja utilizado para aquilo que é necessário para a população:
saúde, educação, pagamento de salários. O dinheiro público tem que ser usado
para o pagamento de dívida com o sistema financeiro. Uma dívida que não existe.
É uma dívida que se paga para o sistema financeiro, enquanto a dívida social
cresce a cada dia. Aí quando a gente diz que a gente tem um número de
funcionários públicos muito inferior ao dos países mais desenvolvidos… As
pessoas reclamam da falta de atendimento na saúde, da falta de professores. A
LRF limita esses gastos para que o dinheiro sobre para pagamento de juros da
dívida.
Sul21 – Quais são suas propostas para a área da cultura?
Érico Corrêa – Nós achamos que a cidade precisa se desenvolver na área da cultura
a partir do atendimento à população nos bairros. Somos contra a política dos
grandes espetáculos, que beneficia uma pequena parcela da população, aqueles
20%. Para os 80% que estão fora, o Poder Público tem que levar cultura, lazer,
arte para as periferias, para as escolas, para as praças. Um aspecto da cultura
que precisa ser muito discutido e que tentaremos levar aos debates é a questão
da Cidade Baixa. Para nós é uma discussão muito séria, porque a Cidade Baixa é
um polo cultural, da vida noturna e da vida artística, e o que a gente tem
visto é um cerceamento dos direitos dos artistas atuarem, por razões racistas e
homofóbicas. Os movimentos que existem na Cidade Baixa contra os bares e contra
os artistas são reacionários. Nós procuraremos de toda forma denunciar isto.
Sul21 – Porto Alegre tem sofrido com engarrafamentos. Que alternativas o
senhor pensa para isto?
Érico Corrêa – O atendimento imediato, para que se resolva, tem que se dar pelo
transporte coletivo público de qualidade: construção do metrô, expansão dos
corredores de ônibus e a elevação dos corredores para o padrão BRT. São coisas
que têm que ser feitas de forma imediata, não só em período eleitoral em que os
políticos aparecem com este assunto, assinam convênio, se abraçam, choram,
depois o metrô e os corredores não saem. Investimento no transporte coletivo
significa também qualidade nos ônibus, acessibilidade, ar-condicionado,
intervalos mais curtos entre um ônibus e outro. O que a gente vê nas ruas é uma
pessoa dentro de cada carro. O serviço oferecido é péssimo. Temos que partir
depois para as alternativas que complementam isto: ciclovias, hidrovias. São
investimentos que têm que ser feitos.
“Quando a gente questiona que as
empresas de ônibus
de Porto Alegre estejam
atuando há mais de
dez anos sem licitação,
ninguém nos
responde”
Sul21 – O PSTU é uma das organizações que mais encampa as lutas pela
redução das tarifas de ônibus. É possível melhorar a qualidade e, ao mesmo
tempo, baixar as tarifas? Como fazer isto?
Érico Corrêa – É uma bandeira histórica do partido a estatização das empresas de
ônibus. Transporte público é um direito do trabalhador. Portanto, é um dever do
Estado. O transporte tem que servir para beneficiar a população, não para enriquecer
meia dúzia de empresários. Quando a gente questiona que as empresas de ônibus
de Porto Alegre estejam atuando há mais de dez anos sem licitação, ninguém
responde. O preço da passagem aumentou 630% de 1994 até hoje. A inflação do
mesmo período foi de 270%. Pela inflação, a passagem teria que ser R$ 1,40 e
ela é R$ 2,85. Quem responde isto?
Sul21 – A proposta, então…
Érico Corrêa – A proposta é, sim, a estatização. Nós vamos instituir a tarifa
social a R$ 1,00 já que o preço tinha que ser R$ 1,40 e o passe livre para
idosos, estudantes e para quem está procurando emprego. Você sabe o que
acontece, via de regra, nas vilas, nas periferias? As pessoas pedem dinheiro
para o vizinho para poder procurar emprego. Isto é desumano, é vergonhoso. Isto
o Poder Público tem que olhar. Professores e funcionários de escola têm que ter
direito a meia-passagem. Temos que fazer esta discussão para que o transporte
público seja, efetivamente, um direito. E tem propostas aí… Peguem o material
da Manuela, que é coisa impressionante. É uma proposta espetacular, nem na
Disneilândia.
Sul21 – Quais são suas críticas?
Érico Corrêa – Ela disse que as paradas de ônibus vão ter wi-fi,
minibiblioteca e telão. Começa pelo seguinte: pela miséria que tem aí, daqui
uns dias vão ter quatro, cinco famílias morando ali. Em segundo lugar, ela diz
isto, porque não pode dizer o que as pessoas querem ouvir, que é “vamos forçar
as empresas para que os ônibus passem de cinco em cinco minutos, não de hora em
hora”. Por isto tem que botar televisão e biblioteca, porque as pessoas passam
horas esperando o ônibus. Isto eles têm que explicar, mas eles não podem atacar
estas empresas, porque elas financiam as campanhas deles.
Sul21 – Que papel o senhor acha que o município pode desempenhar na
segurança pública, tendo em vista que é uma atribuição estadual?
Érico Corrêa – Nós entendemos a segurança pública não como um fato social por si
só. O crime é consequência de outros fatos. Então, achamos, em primeiro lugar,
que para fazer o combate ao crime as pessoas têm que ter emprego, moradia
digna, acesso à saúde. Não adianta o combate puro e simples ao crime, como dizem
que vão fazer, construindo penitenciárias, baixando a idade penal. Se não
atacar os fatores sociais, não vai mudar. Por outro lado, enquanto a gente não
consegue, tem que ter certo atendimento e aí nós temos que discutir o papel da
Guarda Municipal, ter uma Guarda que apoie as pessoas, cuidando das praças e
dos parques, das escolas municipais. Tu vais nas escolas municipais e não há
guardas por perto. Outra coisa é a relação que existe entre os governos e
partidos. O prefeito teria que ter autonomia política para cobrar do Governo do
Estado com a veemência necessária. O Tarso Genro não investe os 12% que deveria
na saúde, investe 6%. Por que o Fortunati não cobra isto, até mesmo na Justiça?
Porque o secretário de Saúde do Estado é do partido dele. A última coisa no
item de segurança que temos discutido é o Território da Paz, lá no Rubem Berta.
Tem um ônibus na Praça México com dois soldados. É uma lata como as escolas da
Yeda (Crusius), não tem ar-condicionado, não tem água, eles têm que usar
banheiro químico. Além deles, tem mais seis policiais que andam em três
viaturas em toda aquela região. Eles disseram que nunca viram um guarda
municipal, que nunca fizeram contato com associações de moradores. A única
coisa que melhorou foi a segurança naquela praça. Na região, os indicadores
mostram que não resolveu nada.
“Os recursos públicos não podem ser
usados para
financiar estádios
de futebol. A cidade tem
que ser construída
para a
população, não para turistas”
Sul21 – Qual é a proposta do PSTU para resolver o déficit habitacional
em Porto Alegre?
Érico Corrêa – Fim das terceirizações, fim das isenções fiscais, não pagamento de
R$ 200 milhões por ano de dívida pública que Porto Alegre paga e não existe.
Somente estes recursos dariam não só para fazer um plano de obras públicas para
construir moradia digna, mas também para a regularização dos domicílios em
condições inadequadas na nossa cidade. Não adianta só a construção da moradia,
tem que ter saneamento básico e estrutura onde as pessoas vão morar para que elas
vivam bem. Recurso tem, a questão é o grau de prioridade dos governos.
Sul21 – Antes, havíamos falado sobre a diferença do plano de obras
públicas do PSTU para obras da Copa do Mundo ou do PAC. Agora, o senhor
explicou que a habitação seria parte do plano de obras. Que outras obras
haveria, além da construção de moradias, no plano de obras públicas do PSTU?
Érico Corrêa – Apesar de a Copa do Mundo ser um evento importante, não
concordamos, sob hipótese alguma, que os recursos públicos sejam utilizados
para esta política de grandes eventos, para financiar estádios de futebol e
etc. Achamos que recursos públicos têm que ser destinados para o atendimento
das necessidades da população. Em primeiro lugar, saúde; em segundo, habitação.
Temos que combater as remoções que estão sendo feitas por conta da Copa. As
pessoas estão sendo retiradas dos locais onde vivem e jogadas para os fundões
da cidade, sem nenhuma estrutura. Na Avenida Tronco, estão comprando as casas
das pessoas, mas as pessoas não conseguem comprar outras casas. O Governo está
fazendo uma espécie de higienização, tirando as pessoas para fazer obras, para
que os turistas vejam. Nós não achamos que a cidade tem que ser construída para
turistas. A cidade tem que ser construída para os trabalhadores e suas famílias
viverem bem. Aí é a prioridade do recurso público. O dinheiro tem que ser usado
para isto.
Sul21 – Quais são as ideias do PSTU para o meio ambiente?
Érico Corrêa – Olha, óbvio que nós temos uma visão de que o capitalismo não
combina com o meio ambiente. O capitalismo é a destruição do meio-ambiente. Na
nossa visão política a questão ambiental é fundamental, ela está dentro de
todas as nossas pautas. É fundamental uma discussão sobre a questão do lixo,
que, na nossa cidade, está sempre envolvido em escândalos de corrupção. Temos
que discutir as reciclagens em que as pessoas sofrem catando lixo e quem ganha
o dinheiro são aqueles que atravessam. Tem que ser feitas usinas de reciclagem
em toda a cidade. A coleta seletiva tem que ser ampliada. Além disto, há a
questão de despoluição dos arroios e do Rio Guaíba. Quanto à orla do Guaíba,
somos totalmente contrários ao que querem fazer na orla, shoppings,
arranha-céus, grandes condomínios. Eleitos ou não, faremos luta contra isto. A
orla do Guaíba tem que ser usada pela população, para as pessoas levarem seus
filhos para brincar, passear. É o local mais bonito da cidade. Ali tem que ser
feitos parques, não arranha-céus e shoppings.
FONTE: Sul21 / Felipe Prestes
Nenhum comentário:
Postar um comentário