Em pronunciamento nesta quinta-feira (16), o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) saudou o lançamento de programa oficial para recuperação da infraestrutura física do país, mas lamentou que a presidente Dilma Rousseff não tenha convocado “todas as forças nacionais” para debater a crise na “infraestrutura intelectual” e a educação brasileira, que ele classificou de “depredada, podre, reprovada e falida para as exigências dos tempos atuais”.
- O Brasil vive um apagão intelectual – disse Cristovam.
Ele se referiu ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado pelo governo no último dia 14. O índice atribuiu as notas 3,8 e 3,9 às escolas públicas, em relação ao ensino médio e fundamental, e média 6 às escolas particulares.
- Abaixo de quatro, isso se chama reprovação. Abaixo de cinco já é reprovação, e as próprias escolas particulares têm média seis, que é uma nota medíocre, sofrível, permite passar, mas passa ali, arrastando. Não se constrói um grande profissional com média seis. Não se constrói um país com media seis nas escolas particulares, que são consideradas as melhores – afirmou.
Cristovam observou que a “tragédia’ na educação repete-se há muitos anos, tanto quando se divulga o Ideb quanto o 88º lugar que o Brasil ocupa no ranking da educação da Organização das Nações Unidas (ONU), além do resultado do exame Pisa, que avalia a educação em 56 países “e o Brasil é o penúltimo e não se convoca o Conselho da República”, lamentou.
O senador pelo Distrito Federal disse ainda que “o pior” foi ele ter visto, “chocado”, o resultado do Ideb ter sido apresentado pelo Ministério da Educação como uma “grande vitória”.
- A tragédia não é culpa dele [o ministro da Educação, Aloizio Mercadante], que tem menos tempo no ministério do que eu fiquei. [Mas] ele não ajuda a educação ao comemorar com euforia um resultado trágico. O Brasil não pode se transformar em grande economia tirando nota seis, na escola particular, e média 3,8 nas escolas de pobres – afirmou.
Cristovam observou que “é muito preocupante ver que o governo comemorou a tragédia, comemorou a vergonha, em vez de assumir perante a opinião pública que em cinco séculos não se conseguiu resolver os problemas e construir uma economia baseada em mão de obra qualificada, não se conseguiu fazer a educação igual para todos, única forma possível de acabar com o atraso no país”.
- Avançamos ficando para trás. Coréia do Sul, Índia, China e Irlanda, que há trinta anos atrás estavam em situação pior que o Brasil, hoje estão melhor, pois fizeram o dever de casa. O nosso dever de casa é fazer com que as 300 melhores escolas do Ideb sejam transformadas em duzentas mil – afirmou.
Cristovam também defendeu a federalização da educação e disse que “deixar a responsabilidade da educação sob os ombros das prefeituras municipais, que são desiguais, é manter a desigualdade, e a igualdade só viria com a União assumindo a responsabilidade”.
O senador também cobrou a criação de uma carreira nacional do magistério público, “pagando muito bem, identificando vocações, quebrando a idéia de estabilidade plena”, e oferecendo escola de qualidade para ali os professores exercerem suas aptidões.
- Isso é possível, absolutamente necessário, extremamente urgente de ser iniciado, mesmo que [o resultado] leve 20 anos – afirmou.
Cristovam disse ainda que o que faz uma economia é a capacidade de inovar e de oferecer novos bens e serviços ao mercado, e esses só virão se o Brasil tiver alta base educacional, incorporada ao setor privado.
- Ninguém vai construir uma economia com ótimas estradas, portos, ferrovias e aeroportos se não tiver uma boa educação. Todas essas obras são necessárias, mas serão poucas diante das exigências crescentes de ciência e tecnologia na economia - afirmou.
Cristovam avaliou ainda que o programa de apoio à infraestrutura física lançado pelo governo “traz o carimbo da própria Dilma e do PT”, ao defender a idéia de que “a infraestrutura não deve ser uma questão estatal, mas do setor privado, com incentivos obviamente estatais”.
Ele observou que o anúncio do programa “demorou muito”, tendo em vista que a lei das parceiras com o setor privado tem quase 10 anos. Avaliou ainda que o lançamento do programa ocorre em um “momento lamentável, não por culpa do governo, mas da recessão mundial, que vai dificultar a vinda de capital e o aporte de recursos dos empresários brasileiros”.
FONTE: Agência Senado
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