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segunda-feira, agosto 13, 2012

Duas novas brasileiras se unem ao grupo feminista internacional Femen


G1 acompanhou 'ritual de iniciação' de paulistana candidata a ativista.
Movimento criado na Ucrânia, em 2008, faz fama com protestos seminus.

Depois da recente estreia da paulista Sara Winter, de 20 anos, no Femen – grupo internacional de feministas que começou na Ucrânia, em 2008, e ficou famoso por suas integrantes lutarem seminuas pelos direitos das mulheres –, agora é a vez de outras duas jovens brasileiras se juntarem ao movimento.
A estudante de direito paulistana Bruna Themis, de 21 anos, entrou para o Femen há três semanas e já fez seu protesto inaugural, no dia 29 de julho, em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), a favor da descriminalização do aborto e de melhorias na saúde pública."Na hora, não fiquei nervosa, foi de boa. De manhã, eu estava mais tensa. Só não sabia o que fazer quando os caras passaram. Tive vontade de retrucar, mas me segurei", disse Lari, apelido de Larissa. 
Ao contrário de Bruna, que não passou por nenhuma "prova de fogo" antes de expor os seios pela primeira vez, a nova candidata a militante do Femen Brazil, a estudante de gastronomia paulistana Lari Bärin, de 22 anos, foi testada na noite deste sábado (11) em uma pequena e sossegada rua do bairro Bela Vista, região central de São Paulo.
A tranquilidade do "ritual de iniciação" foi quebrada por duas vezes, quando o mesmo carro cheio de homens, ouvindo funk no volume máximo, passou e depois voltou para ofender Lari.Ela, que estudou em colégio alemão e adotou o nome Bärin ("urso", no idioma), acabou escolhendo a Rua dos Alemães por acaso, por estar vazia naquele horário – algo totalmente oposto ao que deve encontrar pela frente nas manifestações. Entre os temas já levantados nos mais de 30 países onde o Femen está presente estão o turismo e a exploração sexuais, a sociedade patriarcal, o machismo, a prostituição, a homofobia e o preconceito racial.

"A gente não pode reagir, para não perder a razão. Quando a polícia chega e parte para cima, aí tentamos nos livrar", explicou Sara. O sobrenome de batismo, italiano, ela trocou pelo inglês Winter, para se parecer com a cantora e vionilista americana Emilie Autumn, de quem é fã. Já Bruna escolheu Themis por causa da deusa grega da Justiça.
Com a presença e o apoio das amigas – a quem conheceu pessoalmente há apenas três semanas –, Lari se sentiu mais calma para fazer topless. Antes de fazer pose, ficar séria e com a cabeça levantada, as colegas escreveram "Go Femen BR" no corpo da iniciante, elogiaram os seios dela e lhe deram uma tiara de flores.
"A gente que faz. Mas as flores estão tão caras, fui lá na 25 de Março comprar. Tem menina já ligando para saber onde tem. Acho que no começo do Femen na Ucrânia também era assim, mas agora elas têm um fornecedor", disse Bruna.Esse arco ao redor da cabeça, como explica Sara, é usado também pelas ativistas ucranianas, por ter sido no passado um símbolo de pureza e virgindade. Hoje, virou "arma de combate".


"O porteiro deve ter visto tudo", disse Sara. As três riram e foram embora. Passados apenas alguns minutos de "intervenção" seminua, Lari se vestiu e as três comemoraram o "batismo" da novata. Logo perceberam que havia uma câmera de segurança na entrada do prédio onde pararam, posicionada diretamente para a menina seminua.
Novas integrantes 
Desde 1º de abril, Sara Winter se dedica exclusivamente à militância feminista. Na última Virada Cultural de São Paulo, tentou invadir o palco da cantora Gretchen, mas foi barrada pelos seguranças. Após o show, ela subiu no palco e falou por três minutos, segurando um cartaz com a frase: "A cada cinco minutos, uma mulher é espancada no Brasil".

"Queremos o Brasil inteiro, não vamos parar de fazer essas avaliações. Quanto mais, melhor. Quero que as meninas do Nordeste se manifestem mais, porque lá é o berço do turismo sexual de crianças e adolescentes", destacou.Sara também criou uma página no Facebook e agora recruta jovens como ela e as duas amigas que queiram levantar essa bandeira. A paulista contou que já há "processos seletivos" em andamento em vários estados do Brasil, com interessadas em Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Maranhão.
Para participar do Femen, Sara disse que a mulher precisa ser corajosa, ter disponibilidade e vontade de lutar. Também deve estar preparada para enfrentar a família e os amigos. Este último item foi, por exemplo, o que mais pesou para a primeira menina que passou pela iniciação antes de Lari. Por receio da reação do pai, ela acabou desistindo. "Meus pais já sabem e foi muito ruim. Não apoiaram, não curtiram", revelou a estudante de gastronomia, que é filha única.
"Minha ideia é concentrar a coordenação do grupo aqui em São Paulo. Mas pretendo ir uma vez para cada um desses núcleos para ensinar tudo o que as ucranianas me passaram. Isso inclui como se organizar, escolher tópicos de protesto e se preparar para enfrentar a polícia", enumerou Sara.

As jovens que se entusiasmarem com a ideia não precisam ficar preocupadas em serem bonitas ou terem um corpo atraente, segundo Sara. Essa é uma característica que tem sido o padrão das ativistas do Femen pelo mundo, mas a paulista disse que não é um critério fundamental para ser admitida.


"Isso serve para a menina ver como se comporta com todo mundo vendo, ter um feedback do próprio corpo. É um protesto individual, ou 'monoprotest', como a gente chama", disse Sara. O ideal é que a iniciante segure um cartaz com algum tema, mas Lari fez sem, porque as outras duas meninas esqueceram. A primeira fase da escolha é mandar uma foto de topless para ela e passar por uma espécie de entrevista virtual, pelo Facebook ou Skype. Assim que a candidata for aprovada, é marcado um dia para a estreia.
Perfil das ativistas brasileiras
Nesta terça-feira (14), mais uma interessada em entrar para o grupo, Luma Oliveira, de 20 anos, deve passar por sua "prova de fogo".
As três primeiras jovens brasileiras que se dispõem a fazer parte do Femen têm características físicas e psicológicas muito diferentes, apesar da causa em comum. Bruna mora em Moema, Zona Sul de São Paulo, e gosta de Chico Buarque. Sara vive em São Carlos, no interior, e diz que curte músicas que fazem seu coração bater, como rockabilly. Já Lari é da Zona Oeste da capital e ouve punk rock e heavy metal.
Bruna e Sara gostam de se maquiar; Lari, não – mas abriu uma exceção para sua estreia e apareceu com sombra, base e blush. "Muitos grupos a quem contatamos têm preconceito conosco, porque acham que só somos mulheres bonitas que apóiam o sexismo. Mas nos arrumamos para nós mesmas também, não para atrair homens", destacou Sara.
Outra coisa que varia entre as ativistas é a opção sexual. Segundo Sara, pelo fato de muitas militantes na Ucrânia, por exemplo, serem contra o que os homens fazem com as mulheres, acabam virando bissexuais ou lésbicas.
Logo Femen Brazil (Foto: Femen Brazil/Divulgação)
Femen Brazil já tem seu próprio logo, que deve ser
pintado nos seios (Foto: Femen Brazil/Divulgação)
Futuras ações

As jovens querem criticar o julgamento de três cantoras russas da banda punk Pussy  Riot acusadas de vandalismo por causa de uma música intitulada "Maria, mãe de Deus, tire Putin", contra o presidente Vladimir Putin. O veredito sobre a prisão ou não delas deve sair na sexta-feira (17).
"Estamos fazendo contato com grupos punks, skinheads antifascistas, anarcofeministas, afrofeministas e outros coletivos para se juntarem a nós", disse Sara.
Elas já estão ensaiando o que dizer nessa data, em russo. Cada uma deve representar uma das cantoras julgadas, Nadejda Tolokonnikova, Maria Alyokhina e Yekaterina Samutsevish. Elas querem falar: "Eu sou Nadejda, eu sou Maria, eu sou Yekaterina. Liberdade à Pussy Riot!".
"Particularmente, nem gosto do som da banda, acho as meninas ruins, mas vamos protestar contra essa atitude do governo russo. As ucranianas não se envolveram nisso, porque estão focadas nas Olimpíadas", explicou Sara.
O jeito, então, foi arriscar uma carona de carro até Kiev, com dois jovens desconhecidos que estavam indo acompanhar a Eurocopa. O veículo acabou quebrando duas vezes na estrada, e o percurso de 12 horas levou quase o dobro.
Viagem à Ucrânia

"Não queriam me dar o visto para eu cruzar a fronteira, porque não entendiam o que uma brasileira estava fazendo lá. Aí falei Ronaldo, Ronaldinho, Kaká, Cafu, Pelé. A hora em que eu disse Pelé, pronto, o cara pensou: 'É lógico'. Preciso agradecer a cada um desses jogadores", brincou Sara, que ficou duas semanas no país e acabou sendo detida por quatro horas durante um protesto na Eurocopa.
"A Ucrânia e a Polônia estavam incentivando abertamente o turismo sexual. Em um mapa que vi em Varsóvia, havia vários endereços de bordéis", lembrou Sara, cuja ida foi coberta em parte pelo Femen (que doou US$ 1 mil), por contribuições no Facebook e por ela mesma.
Além das ativistas, o grupo internacional tem o apoio de cerca de 500 voluntários, entre designers, jornalistas, fotógrafos, assessores de imprensa e advogados, segundo a paulista, que compara os ucranianos com os brasileiros. "Eles são tão acomodados quanto nós. Mas também são receptivos, só não tanto quanto a gente", ressaltou.
FONTE: G1 / Luna D'Alama
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