Ganhador do Prêmio
Nobel, escritor morreu nesta quinta-feira (17), em sua casa na Cidade do México
O escritor Gabriel
García Marquez morreu aos 87 anos de idade nesta quinta-feira em sua casa na
Cidade do México, segundo membros da família disseram à imprensa colombiana.
Ganhador do prêmio
Nobel de Literatura, ele foi um dos escritores mais famosos da América Latina e
uma de suas principais obras, "Cem Anos de Solidão", o tornou famoso
mundialmente.
García Márquez
nasceu em Aracataca, na Colômbia, em 6 de março de 1928. Ele passou a infância
sob os cuidados dos avós maternos, o coronel Nicolás Ricardo Márquez Mejía,
veterano da guerra dos Mil Dias, da Colômbia, e Tranquilina Iguarán.
O escritor sempre
disse que a semente de seu estilo e de sua imaginação está nesta parte de sua
vida, no casarão onde sua avó contava histórias de fantasmas e presenças como
se fossem a coisa mais normal do mundo.
Anos depois, García
Marquéz diria que esta forma de contar histórias fantásticas é a mesma que ele
iria usar em livros como "Cem Anos de Solidão".
O avô Nicolás
Ricardo morreu quando "Gabito", como os amigos o chamavam, tinha 8
anos. O menino então voltou a morar com os pais, que eram praticamente
desconhecidos para a criança, na cidade de Sucre, ao lado dos outros irmãos.
Este fato marcou o
fim da infância do escritor que, em suas recordações, afirma que não prestou
atenção em mais nada a partir daí. "Desde então, nada interessante me
aconteceu", disse.
Estudos
Aos 12 anos, García
Márquez ganhou uma bolsa de estudos para um internato em Zipaquirá, cidade
perto de Bogotá que muitos reconhecem nas descrições do povoado lúgubre e
remoto onde o personagem Aureliano Segundo vai buscar Fernanda del Carpio no
livro "Cem Anos de Solidão".
Os anos no
internato foram decisivos para a formação do escritor, que passava as tardes de
sábado e domingo devorando obras de Julio Verne e Alexandre Dumas.
Em 1947 García
Márquez começou a estudar direito na Universidade Nacional de Bogotá, mas nunca
seguiu esta carreira. Neste mesmo ano, ele publicou no jornal "El
Espectador" seu primeiro conto, "La Tercera Resignación". No ano
seguinte ele começou a trabalhar como repórter no jornal "El
Universal", de Cartagena, continuou escrevendo contos para "El
Espectador".
Em 1950, García
Márquez conheceu em Barranquilla um grupo de jovens intelectuais formado por
Álvaro Cepeda Samudio, Alfonso Fuenmayor e Germán Vargas. Estes o apresentaram
a Ramón Vinyes, chamado na época de o "sábio catalão". Todos eles
apareceriam nos últimos capítulos de "Cem Anos de Solidão".
A influência deste
grupo seria grande. Eles foram os melhores amigos do escritor e conseguiram
para ele um emprego no jornal "El Heraldo" de Barranquilla e
introduziram em sua vida o melhor da literatura moderna com autores como
Faulkner, Hemingway, Joyce, Kafka e Virginia Woolf.
Em 1951 García
Márquez já havia escrito seu primeiro romance, "La Hojarasca", que só
foi publicado anos mais tarde.
Jornalista
Em 1954 García
Márquez volta a Bogotá para trabalhar em tempo integral no "El
Espectador", onde escreveu reportagens que o transformaram em um dos
jornalistas mais famosos da Colômbia. No ano seguinte, foi para Genebra, como
enviado do jornal para uma conferência. O que era para ser uma viagem curta,
durou quatro anos.
A ditatura de
Gustavo Rojas Pinilla fechou o jornal e García Márquez, que estava em Paris,
decidiu investir o dinheiro da passagem de volta em sua estadia na Europa e na
finalização do livro "Ninguém Escreve ao Coronel".
Neste período
também escreveu "Os Funerais da Mamãe Grande" e outros contos. Em uma
de suas visita à Colômbia, em 1958, se casou com Mercedes Barcha.
Em Havana e no México
As viagens de
García Márquez levaram o escritor a vários lugares da América Latina e Caribe,
entre eles, Havana, em Cuba onde, em 1960, trabalhou na agência de notícias
criada pelo governo cubano, Prensa Latina, depois da Revolução.
Nesta ocasião
começou seu interesse pela ilha e sua amizade com Fidel Castro. O escritor
também trabalhou em Caracas e Nova York até chegar à Cidade do México,
exatamente no dia em outro escritor e um de seus mestres, Ernest Hemingway,
morreu.
Na capital mexicana
trabalhou como roteirista de cinema, editor, publicitário e jornalista. E foi
na Cidade do México que ele escreveu "Cem Anos de Solidão".
A forma como García
Márquez escreveu seu livro mais famoso já entrou para a mitologia literária da
América Latina.
"Há muito
tempo me atormentava a ideia de um romance desmedido, não apenas diferente de
tudo que escrevi antes, mas também de tudo que havia lido. Era uma espécie de
terror sem origem."
"(...) No
começo de 1965, ia com Mercedes e meus dois filhos para um fim de semana em
Acapulco quando me senti fulminado por um cataclisma da alma (....).
"Não tive um
minuto de sossego na praia. Na terça-feira, quando voltamos ao México, me
sentei na máquina para escrever uma frase inicial que não podia suportar dentro
de mim: 'Muitos anos depois, em frente ao pelotão de fuzilamento, o coronel
Aureliano Buendía se lembraria daquela tarde remota em que seu pai o levou para
conhecer o gelo'."
"Desde então
não parei um dia, em uma espécie de sonho demolidor, até a linha final
(...)", acrescentou o escritor.
"Cem Anos de
Solidão" mudou a vida de García Márquez. O estilo avassalador e luminoso
do livro e suas histórias delirantes conquistaram leitores do mundo todo.
E o livro ainda faz
sucesso. A estimativa é que tenha vendido mais de 30 milhões de exemplares no
mundo todo desde sua publicação em junho de 1967.
O outono
Instalado em
Barcelona, na Espanha, García Márquez começou a escrever o romance "O
Outono do Patriarca", o relato sobre um ditador da América Latina, um livro
publicado em 1975 e que confirmou a força literária do escritor colombiano.
O livro, segundo o
escritor, mostra o homem em que Aureliano Buendía teria se transformado se
tivesse chegado ao poder.
Antes porém
publicou vários contos. Neste período também ocorreu a maior divisão política
entre os integrantes do "boom" da literatura da América Latina. Em
1971 ocorreu a detenção e depois a confissão pública de culpa em Cuba do poeta
Heberto Padilla, algo que lembrou a muitos os julgamentos stalinistas.
Enquanto
escritórios como Mario Vargas Llosa (de forma pública e furiosa) e Carlos
Fuentes (de forma mais discreta) se distanciaram do regime cubano, García
Márquez continuou apoiando o governo da ilha junto com Julio Cortázar.
A década de 1970
foi o período de maior atividade política do escritor, quando ele anunciou que
não voltaria a publicar obras de ficção até que Augusto Pinochet deixasse o poder
no Chile. Ele também se dedicou a escrever artigos jornalísticos.
Para sorte dos
leitores e fãs, García Márquez rompeu a promessa em 1981, quando publicou um
livro curto, denso e magnífico, "Crônica de uma Morte Anunciada".
No ano seguinte,
ele recebe o prêmio Nobel de literatura.
Etapa final
Depois do prêmio,
García Márquez escreveu outros três livros: "O Amor nos Tempos do
Cólera", "O General em Seu Labirinto" (sobre os últimos dias de
Simón Bolívar), "Do Amor e Outros Demônios" e "Memórias de
Minhas Putas Tristes", de 2004, sua última obra de ficção.
Também publicou o
livro de relatos "Doces Contos Peregrinos", uma grande reportagem,
"Notícia de um Sequestro", e suas memórias, "Viver para
Contar", em 2002.
Em 1999 foi diagnosticado
com câncer linfático. Apesar do tratamento bem-sucedido, o escritor diminuiu
suas aparições públicas, que ficaram ainda mais raras nos últimos anos de vida.
Além de sua
reclusão, outro assunto comentado foi sua perda de memória, algo confirmado por
um de seus irmãos. A cada dia 6 de março, dia de seu aniversário, García
Márquez ia até a porta de sua casa na Cidade do México para cumprimentar os
jornalistas que se acotovelavam no local.
Agora, Gabriel
García Márquez pertence à história. Ele mesmo costumava dizer, e seus amigos
confirmavam: no fundo da alma, ele nunca desejou ser o filho do telegrafista de
Aracataca.
Os que tiveram a
chance de conhecer o escritor pessoalmente perceberam que, atrás da pessoa
pública e do amigo de estadistas, se escondia um homem terno e quase tímido.
Por isso e também
por todos seus livros, ele era amado pelos amigos e por milhões de pessoas no
mundo todo. E, muitos anos depois de ter escrito seu último livro, García
Márquez continua sendo amado.
FONTE: Ultimo Segundo.ig
Gabo por José Saramago:
Os escritores dividem-se (imaginando que aceitem ser assim divididos…) em dois grupos: o mais reduzido, daqueles que foram capazes de rasgar à literatura novos caminhos, o mais numeroso, o dos que vão atrás e se servem desses caminhos para a sua própria viagem.
É assim desde o princípio do planeta e a (legítima?) vaidade dos autores nada pode contra as claridades da evidência.
Gabriel García Márquez usou o seu engenho para abrir e consolidar a estrada do depois mal chamado “realismo mágico” por onde logo avançaram multidões de seguidores e, como sempre acontece, os detractores de turno.
O primeiro livro seu que me veio às mãos foi Cem Anos de Solidão e o choque que me causou foi tal que tive de parar de ler ao fim de cinquenta páginas.
Necessitava pôr alguma ordem na cabeça, alguma disciplina no coração, e, sobretudo, aprender a manejar a bússola com que tinha a esperança de orientar-me nas veredas do mundo novo que se apresentava aos meus olhos.
Na minha vida de leitor foram pouquíssimas as ocasiões em que uma experiência como esta se produziu. Se a palavra traumatismo pudesse ter um significado positivo, de bom grado a aplicaria ao caso. Mas, já que foi escrita, aí a deixo ficar. Espero que se entenda.
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