Após intervenção do
Comitê brasileiro, gastos do Rio de Janeiro com 27 projetos são divulgados:
36,7 bilhões de reais
Não há mais
novidades, as Olimpíadas do Rio 2016 custarão 36,7 bilhões de reais, 30% a mais
do estipulado inicialmente. As administrações brasileiras responsáveis pela
primeira Olimpíada realizada na América Latina publicaram ontem finalmente os
custos dos 27 projetos de mobilidade urbana, meio ambiente e urbanização que
faltam terminar (e, em alguns casos, começar), cinco dias depois de que a
paciência do Comitê Olímpico Internacional (COI) se esgotasse e decidisse
intervir na preparação dos Jogos Olímpicos. Depois de semanas de notícias
preocupantes (greves dos trabalhadores do Parque Olímpico, demissão da
presidenta da Empresa Olímpica Municipal e discussões entre as autoridades
brasileiras - prefeitura, Estado do Rio de Janeiro e Governo Federal – para
definir as verbas do orçamento), todos os atores nacionais implicados na
organização dos Jogos compareceram no Forte de Copacabana para apresentar o
‘Plano de Obras Públicas’ que, como destacou repetidamente o prefeito da
cidade, Eduardo Paes, “será o legado das olimpíadas para todos os cariocas”.
O valor anunciado
destas infraestruturas será de 24,1 bilhões de reais, que junto ao resto dos
investimentos previstos (organização das competições e construção de
instalações puramente esportivas) elevam o orçamento global do Rio 2016 em 30%
a mais dos 28 bilhões de reais acordados com o COI em 2008. Depois de não
descartar novos aumentos quando as licitações de alguns projetos sejam
definidas, e um pouco irritado pelas perguntas dos jornalistas diante do
incremento do gasto, Paes o justificou devido à “inflação acumulada” desde que
os orçamentos foram feitos e se aventurou em dizer, inclusive, que poderia ter
alcançado 40 bilhões de reais. O prefeito tentou diferenciar as Olimpíadas dos
Jogos Panamericanos, realizados no Rio em 2007, dos quais alguns estádios estão
fechados para reforma, e cujo orçamento final continua sendo esclarecido.
Na semana passada,
o presidente do COI, o alemão Thomas Bach, afirmou que “chegou o momento de
agir”, depois de uma chuva de críticas procedentes de federações internacionais
sobre o estancamento das obras no Rio de Janeiro; uma delas, a Federação de
Handebol, perguntou expressamente se havia um “plano B” para as Olimpíadas, caso
a ‘cidade maravilhosa' não chegasse a tempo. As dúvidas sobre os prazos são
agravadas pela greve indefinida que o Sindicato dos Trabalhadores da Construção
Civil do Rio protagoniza desde o começo do mês, pedindo melhores salários e um
seguro de saúde. O caso mais preocupante, reconhecido pelas autoridades, é o
Complexo Deodoro, ao oeste da cidade, que será sede das competições de hipismo,
arco, rugby e hóquei em campo, entre outros, e cuja licitação não se publicou
ainda. Francesco Ricci Bitti, dirigente da Associação de Federações Olímpicas
de Verão, afirmou há alguns dias que o Rio "representa a situação mais
grave que surgiu nos pelo menos últimos vinte anos". O prefeito Paes, que
recebeu com diplomacia na sexta-feira passada o anúncio da chegada dos gestores
do COI e assegurou sua plena disposição para colaborar, voltou a dizer ontem
que se trata de uma "boa" notícia, "inclusive para que os
presidentes das federações não fiquem histéricos".
Gilbert Felli,
diretor executivo do COI, será inicialmente o assistente permanente do Comitê
Local Organizador para resolver a "paralise política" a partir da
próxima semana. Em plena pré-campanha das eleições presidenciais de outubro e
em meio a fortes críticas pelo atraso da construção dos estádios para a Copa
que começa dentro de 56 dias, as autoridades tentam amortizar as incipientes
suspeitas de que o caminho até as Olimpíadas será outro parto extenuante para a
sociedade brasileira. "O fator tempo é fundamental", recalcou ontem o
general Fernando Azevedo, presidente da Autoridade Pública Olímpica. "É
uma tarefa dificílima, [...] mas vamos fazer as melhores Olimpíadas da
história", prometeu por sua parte Paes.
Outras vozes
discreparam deste otimismo. "A intervenção chega tarde, o COI deveria ter
visto estes problemas muito antes", declarou à Deutsche Welle Antônio
Eulálio Pedrosa Araújo, membro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia
do Rio de Janeiro (Crea-RJ). "Foi uma temeridade do Governo assumir ao
mesmo tempo a organização do Mundial e das Olimpíadas", disse José Cruz a
este jornal, um jornalista especializado em política esportiva e blogueiro da
UOL. "O principal problema não é a organização, mas sim a falta de
experiência, de gestão... E a corrupção. Olimpíadas são 28 campeonatos do mundo
em apenas duas semanas: requer uma infraestrutura enorme, não há experiência
nem capacidade. Sem contar que estão em jogo bilhões em compromissos
televisivos... Em agosto, depois da Copa, o COI poderia tentar uma mudança.
Seria pavoroso para nossa reputação".
FONTE: EL PAÍS - BRASIL
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