No primeiro dia de 2010, as salas de cinemas serão invadidas por uma superprodução que ambiciona ser um marco no número de espectadores da sétima arte no país, superando o recorde atual, o filme Dona Flor e seus Dois Maridos, visto por 12 milhões de pessoas em 1979.
Lula, o Filho do Brasil, foi orçado inicialmente em nada menos que R$ 18 milhões. Os produtores, a fim de evitar polêmica, se abstiveram de procurar subsídios ou isenções fiscais. Nem precisaram, já que todos os custos foram bancados por grandes empresas e empreiteiras. O que não impediu a acusação de que se trata, na verdade, de uma espécie de propaganda eleitoral, já que todos sabem que 2010 será marcado pela disputa da sucessão presidencial.
O que estaria por trás do épico que promete revelar a vida de Lula? Seria de fato uma forma de beneficiar a candidata eleita pelo presidente para substituí-lo nos próximos quatro anos ou, como juram seus realizadores, apenas um filme sem qualquer pretensão política?
A construção de um mito
De acordo com informações fornecidas à imprensa pelos próprios produtores, a ideia do filme surgiu quando Luiz Carlos Barreto (produtor de, entre outros, Dona Flor e O que é isso Companheiro?) conversava com o chefe do gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. O assessor de Lula teria lhe apresentado um livro sobre a biografia do presidente.
Trata-se de Lula, o Filho do Brasil, tese de doutorado em História de Denise Paraná, ex-assessora do atual presidente da República. A tese se resumia a um conjunto de entrevistas com amigos e familiares de Lula. “Barretão”, segundo ele próprio, logo viu a oportunidade de transpor a história para a telona. Para isso, mandou roteirizar o livro de Paraná, realizando alguns retoques na história, omitindo alguns fatos e enaltecendo outros.
De acordo com informações fornecidas à imprensa pelos próprios produtores, a ideia do filme surgiu quando Luiz Carlos Barreto (produtor de, entre outros, Dona Flor e O que é isso Companheiro?) conversava com o chefe do gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. O assessor de Lula teria lhe apresentado um livro sobre a biografia do presidente.
Trata-se de Lula, o Filho do Brasil, tese de doutorado em História de Denise Paraná, ex-assessora do atual presidente da República. A tese se resumia a um conjunto de entrevistas com amigos e familiares de Lula. “Barretão”, segundo ele próprio, logo viu a oportunidade de transpor a história para a telona. Para isso, mandou roteirizar o livro de Paraná, realizando alguns retoques na história, omitindo alguns fatos e enaltecendo outros.
O filme, dirigido pelo filho do produtor, Fábio Barreto (O Quatrilho), narra a trajetória de Lula desde o nascimento, em 1948, até sua ascensão como líder político e sindical. Os primeiros anos de Lula ganham destaque, assim como as duras condições de vida no sertão pernambucano e a pobreza da família, que sofrem ainda com a violência do pai do protagonista. A migração para o Sudeste e o início da carreira de operário são mostrados como exemplos de superação e força de vontade.
O personagem, Lula, é moldado através de uma série de provações, da infância miserável, passando pela morte da esposa grávida até o falecimento da mãe, representada por Glória Pires e colocada como referência moral ao protagonista. Essa última tragédia teria impulsionado a vocação sindicalista do personagem. O filme, enfim, reforça a imagem mítica do herói construída ao redor de Lula, ao mesmo tempo em que mantém alguns elementos de identificação com o espectador comum.
Em entrevista, Fábio Barreto diz o que quer passar de Lula no filme:“o principal bem que (Lula) fez ao país foi o aumento da autoestima, como se dissesse o tempo todo ‘Se eu estou aqui, você também pode estar. Eu sou igual a você, nós somos iguais. Eu estou aqui porque eu teimei muito. Não fiquem aí reclamando da vida’”.
Lula, O Filho do Brasil segue a trilha das cinebiografias que, como tantas outras, mitificam o biografado. Evidentemente, ninguém poderia esperar ou cobrar uma posição de neutralidade do diretor que, enquanto artista, deve sim ter uma posição de total liberdade para fazer sua obra. Inclusive para imprimir nela suas próprias posições políticas.
No entanto, o filme de Lula parece expressar mais que uma ingênua obra de arte, extravasando para a mais pura propaganda.
Supervisão do Planalto
Informalmente, pode-se afirmar que o filme foi uma co-produção entre o Planalto e a produtora de Barreto. Do início ao fim, a obra teve a mão do governo.
O diretor, antes de comprar os direitos do livro e executar o filme, pediu pessoalmente autorização a Lula. Iniciado o projeto, o roteiro final foi avalizado pelo presidente. O próprio irmão de Lula, frei Chico, acompanhou as filmagens. Ministros e o publicitário de Lula, Duda Mendonça, teriam ainda verificado a primeira versão do filme, dando sugestões para afinar o filme aos interesses do Planalto.
A captação de recursos foi um capítulo à parte, juntando grandes empresas e multinacionais como a Volkswagen, Souza Cruz, Hyunday, além de empreiteiras como Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht e grandes empresas como Oi, CPFL, Ambev e EBX. Grande parte delas tem negócios com o governo federal.
Finalizado o filme, o grande desafio é a distribuição e a exibição. Para isso, as centrais sindicais cumprirão um papel decisivo. Além da promoção do ingresso a R$ 5 aos sindicalizados, especula-se um amplo esquema de exibição, levando o filme aos grandes grotões do país. Após essa primeira fase, viria o DVD do filme, a R$ 10. Junto a isso, uma minissérie na Globo.
Nem o próprio governo ousa negar que o filme tenha considerável impacto eleitoral. Mas, será que só isso justificaria tamanho esforço envolvendo o governo, empresários e as centrais? Lula, surfando na onda do crescimento mundial nos últimos anos e minimizando os efeitos da crise com bilhões para bancos e empresas, goza de popularidade recorde. Barreto chegou a afirmar, com razão, que Lula não precisa do filme para ganhar a eleição.
Lula, o filho do Brasil parece fazer parte de um projeto maior.
Batalha ideológica
Durante a ditadura do Estado Novo, Getúlio Vargas mantinha o chamado DIP, o Departamento de Imprensa e Propaganda, para controlar e impor a censura aos meios de comunicação. Num período de transição de uma economia agrário-exportadora para outra industrial, o governo Vargas chocava-se com interesses contraditórios, não só dos trabalhadores como entre setores da burguesia e da velha oligarquia cafeeira. Lançava mão, portanto, de governo autoritário, que arbitrava esses interesses.
Hoje, não temos mais o DIP. Além de todo o aparato do Estado, o conjunto da burguesia parece ter tomado em suas mãos a responsabilidade de legitimar o governo Lula e a sua política. É só prestar atenção às várias peças de publicidade que enaltecem o Brasil e as suas conquistas, bem ao clima de “pra frente Brasil” dos anos 1970. E, para isso, tem o auxílio das grandes centrais sindicais.
O filme de Lula, nesse contexto, funciona para construir um amplo consenso em torno do presidente e sua política. Não é apenas Lula que é mitificado. É também a união entre empresários e trabalhadores. É a tática do pragmatismo sindical, em lugar do confronto entre capital e trabalho. Pensando nos dias de hoje, a política de isenções e subsídios aos bancos e empresas.
Não é por menos que o longa termine justamente no auge de Lula como líder sindical no ABC. Para o espectador, tem-se essa imagem de Lula sindicalista do filme e o Lula presidente de hoje. A longa trajetória de adaptação que permitiu, por exemplo, que a Volkswagen, uma das patrocinadoras da obra, passe de adversária a aliada, fica de fora.
Resta saber se isso não terá um efeito contrário. Por mais despolitizado e descontextualizado que possa parecer, o filme é obrigado a mostrar as grandes greves do ABC e as cenas emocionantes das assembleias de milhares de trabalhadores no estádio de Vila Euclides. Seria excesso de otimismo pensar na possibilidade desse exemplo acender uma mínima fagulha na consciência dos trabalhadores?
FONTE:OPINIÃO SOCIALISTA
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