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domingo, fevereiro 28, 2010

“Se aumentar a carga horária, vai aprender mais”

Um dos mais destacados especialistas brasileiros na área da educação, o economista Cláudio de Moura Castro usa um termo prosaico para defender a elevação no número médio de horas de aula em Estados como o Rio Grande do Sul: a lei da “bunda-cadeira-hora”.

Resumidamente, ela estabelece que, quanto maior o tempo em sala de aula, melhor tende a ser a qualidade do ensino. Ele considera, porém, contraproducente elevar a carga diária além de seis horas, e avisa que tarefas burocráticas ou recreativas não devem ser consideradas como período de ensino efetivo.

Confira a entrevista concedida, desde Belo Horizonte (MG), por telefone a ZH:

Zero Hora – No Rio Grande do Sul, a média diária é de pouco mais de quatro horas de aula. Uma carga maior faria diferença no ensino?

Cláudio de Moura Castro – Ampliar até cinco, seis horas, favoreceria, e muito. A única lei boa da pedagogia é a lei da bunda-cadeira-hora: quanto mais horas com a bunda na cadeira, mais aprende. Um curso ou sistema que obriga os alunos a passar mais tempo estudando é um sistema em que os alunos vão aprender mais.

ZH – O senhor disse “até seis horas”. Mais do que isso não?

Castro – Para o aluno médio, não adianta achar que oito, nove, 10 horas vão funcionar. Funciona para aluno muito dedicado, que quer passar em um exame ou estuda no Japão ou na Coreia. Nesse ponto, de quatro horas, quatro horas e pouco, ainda se está em uma faixa em que, se aumentar a carga horária, vai aprender mais.

ZH – Qual o prejuízo de estudar apenas quatro horas?

Castro – Hoje, o Brasil botou todos os meninos na escola. O problema é a qualidade. A qualidade é muito ruim. O Brasil está em antepenúltimo lugar no Pisa, entre 50 países. Então, como a gente sabe da lei da bunda-cadeira-hora, isso é um fator de perda. Você está deixando de estudar. Por outro lado, tem de considerar a bunda-cadeira-hora efetiva, não a teórica. Se você perde tempo brigando com os alunos, fazendo chamada, isso não conta.

ZH – Sabe-se que se perde muito tempo em sala de aula com indisciplina.

Castro – Com indisciplina ou fazendo coisa que não serve para nada. Uma pesquisa do Banco Mundial mostra que entre 25% e 50% do tempo de aula é gasto copiando do quadro-negro.

ZH – E, didaticamente, isso não tem serventia?

Castro – Não serve para nada. Não tem nenhum valor educativo. Numa escola em que 50% do tempo de bunda-cadeira-hora os alunos estão copiando do quadro-negro, na verdade só tem duas horas de estudo efetivo. Se o Rio Grande do Sul tem um pouco menos de horas, mas os professores usam melhor o tempo, ele está melhor. Mas não tenho nenhuma evidência de que o Rio Grande do Sul esteja usando melhor o tempo.

ZH – Para aumentar a média diária, chegar a seis horas...

Castro – (interrompendo)... Seis horas nem precisa. Cinco horas já estaria bom demais.

ZH – Que fossem pelo menos cinco, se exigiria um investimento muito grande?

Castro – Não. Porque continuaria dentro de um turno. Se o número de horas não permitir que cada cadeira seja usada por dois alunos (em turnos diferentes), você vai ter um aumento monstro de investimento em prédios. Mas cinco horas, começando às 7h e indo ao meio-dia, e o outro turno começando às 13h, dá perfeitamente. O problema não é dinheiro, o problema é brigar com o sindicato.

ZH – Os sindicatos resistem?

Castro – Se você pagar a mesma coisa e quiser que eles deem mais aula... mas, se um turno termina ao meio-dia, e o outro começa às 13h, dá para ter duas turmas. É viável.

ZH – O senhor não considera necessário, no caso brasileiro, ampliar a rotina de aula para dois turnos?

Castro – Não precisa. Isso é importante para turmas vulneráveis, para alunos que têm perigo de aprontar, que estão em situação socioeconômica muito precária. Mas a gente sabe que as escolas de tempo integral têm rigorosamente o mesmo rendimento que as outras.

ZH – Por quê?

Castro – Por que o segundo turno não é usado para estudar. Para atividades recreativas, culturais, para esporte, tocar violão, lutar capoeira. Mas não tem livro, não tem professor. É tradicional que as escolas de tempo integral tenham o mesmo resultado das de tempo parcial.

ZH – E em outros países?

Castro – O aluno pode até estudar oito horas, mas a escola não funciona oito horas. Na escola clássica da Europa e dos Estados Unidos, o aluno vai para a escola às 7h, 8h e sai às 15h. Nisso ele almoça, faz esporte. De aula, mesmo, são cinco, seis horas, no máximo. Essa ideia de botar todo mundo em turno integral é bobagem. Turno integral é para os meninos que precisam de apoio. Se for para todo mundo, o aluno cansa, não tem o que fazer e é muito caro.
FONTE: ZERO HORA

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