No dia 24 de junho de 1960, há exatos 50 anos, surgiu no Vale do Rio Pardo um movimento que antecipou, no Rio Grande do Sul, as propostas e estratégias do MST na luta pela reforma agrária.
O Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master) nasceu no município de Encruzilhada do Sul. O motivo foi a tentativa de um proprietário de terras de retomar uma área com cerca de 1.800 hectares, situada no distrito de Faxinal – que hoje faz parte do município de Amaral Ferrador –, que há 40 anos era habitada por cerca de 300 famílias.
Mais tarde, associações de agricultores sem-terra foram criadas em dezenas de municípios gaúchos.
A partir do segundo semestre de 1961, o Master ganhou o apoio decisivo de Leonel de Moura Brizola, governador do Estado entre 1959 e 1962.
O mês de janeiro de 1962 marcou a explosão do Movimento, com a instalação de diversos acampamentos de sem-terra, para obter desapropriações e assentamentos.
Milhares de agricultores participaram das mobilizações, até que, em 1964, o golpe militar encerrou as atividades do Master. Lideranças e militantes foram presos, torturados, exilados.
A disputa pela terra seria retomada apenas em 1979, com a ocupação das fazendas Macali e Brilhante, no complexo da Fazenda Sarandi – ocupação que é considerada a gênese do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), fundado em 1984.
“Tanto o Master como o MST surgem tendo como bandeira central a luta pela reforma agrária, motivados pelo alto índice de concentração da propriedade da terra e pela falta de perspectivas de sobrevivência, exceto pela luta e o processo de organização dos agricultores”, explica a engenheira agrícola Córdula Eckert, autora da mais completa pesquisa acadêmica já realizada sobre o tema.
Ela explica que o Master foi o precursor do MST, na estratégia de luta: a formação de acampamentos na beira das estradas, junto às propriedades cuja desapropriação era reivindicada. “O MST herdou do Master o ritual de luta pela terra”, reforça o sociólogo Ivaldo Gehlen, da Ufrgs.
Já existiam as Ligas Camponesas e a União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (Ultab), mas sua influência no Estado era mínima.
Os agricultores sem-terra reunidos pelo Master, segundo Córdula Eckert, eram os assalariados permanentes e temporários que – pela pouca geração de empregos no campo e as más condições de trabalho oferecidas – ansiavam pela posse da terra como forma de garantir sua sobrevivência e a da família; os posseiros, parceiros, arrendatários e agregados que, apesar de terem acesso à terra, tinham-no de forma instável; os pequenos proprietários, que desejavam aumentar a sua propriedade; e os filhos de pequenos proprietários que, ao casar, queriam permanecer como agricultores mas nem sempre a terra do pai era suficiente para atender as suas necessidades.
Modernização
Grandes proprietários também participaram do Movimento. Em Sarandi, no norte do Estado, por exemplo, que foi o cenário de uma das maiores ocupações em 1962, grandes produtores – apesar de não participarem do acampamento – foram beneficiados com parte da área desapropriada pelo governador Brizola.
Segundo João Carlos Tedesco e Joel João Garini, autores do livro Conflitos Agrários no Norte Gaúcho: 1960-1980, produtores mecanizados de arroz e trigo – apesar de não integrarem o Movimento – atuaram conjuntamente em algumas ocasiões. “Muitos fazendeiros acreditavam que a reforma agrária traria a modernização da agricultura. Havia um ambiente público favorável à questão”, comenta Ivaldo Gehlen.
FONTE: MST
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