Os mais de cinco mil trabalhadores rurais Sem Terra que vieram marchando de Feira de Santana a Salvador, desde o dia 19 de Abril, encerraram na última sexta-feira (30/4) a jornada de lutas no estado e desmontaram o acampamento realizado em frente à Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária (Seagri) desde o dia 27. A Marcha Estadual fez parte das atividades da Jornada Nacional de Lutas por Reforma Agrária, realizada em todo o Brasil em homenagem às 19 vítimas do massacre de Eldorado dos Carajás, assassinados pela Polícia Militar do Pará em 17 de Abril de 1996. Na Bahia, o MST realizou 17 ocupações durante o mês, em diversas regiões do estado.
Enxadas contra fuzis
A sexta-feira começou cedo para os Sem Terra, com uma grande mobilização em frente à Governadoria. Após uma reunião entre o governador e integrantes da direção do MST, Jaques Wagner vestiu mais uma vez o boné do movimento e discursou para a multidão, afirmando que “lutar não é crime, quem não luta por seus direitos acaba encontrando no crime o refúgio”. O governador afirmou ainda que “eu prefiro ouvir o barulho das enxadas e os gritos de protesto dos trabalhadores do que os tiros de fuzil que matam tantos jovens a cada dia em nosso país”. O militante Sem Terra e deputado estadual Valmir Assunção destacou a importância da Reforma Agrária e da luta do MST, conclamando a militância a “voltar para casa com as energias renovadas e seguir ocupando o latifúndio, porque lutar não é crime”.
Reivindicações atendidas
As várias negociações realizadas pelo movimento durante a semana (com os superintendentes nacional e regional do Incra, Luiz Gugé e Rolf Hackbart, o Secretário de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária da Bahia, Eduardo Salles, além do próprio Governador Jaques Wagner) foram frutíferas, e garantiram o atendimento às suas reivindicações. Dentre os itens da pauta, destacam-se:
· construção de cinco casas de farinha;
· kits de mecanização e de irrigação elétrica, laticínio e despolpadeiras de frutas;
· construção da Adutora do Chapadão, em Vitória da Conquista;
· construção da sede da Cooperativa Central dos Assentamentos da Bahia;
· implantação do Centro de Cultura e Assistência Social e da Central das Associações Comunitárias de Ocupantes e Assentados do Semiárido Baiano;
· elaboração e envio para o Incra de projetos produtivos para o cacau, café, mamona e leite nos assentamentos;
· centralização das ações de reintegração de posse na Casa Militar.
De acordo com Márcio Matos, da Direção Nacional do MST, “a Marcha cumpriu um papel importante, de pressionar os governos e ampliar o diálogo com a sociedade brasileira. Ela garantiu conquistas importantes, tanto do ponto de vista político, da nossa mobilização que é uma referência nacional, quanto do ponto de vista econômico, garantindo melhoria nas condições de vida dos nossos assentados”.
Após a realização de uma assembléia no final da tarde de sexta, os trabalhadores decidiram pelo fim da jornada e iniciaram as diversas viagens de volta, para todas as regiões do estado.
Uma das reivindicações, contudo, permanece em aberto: a libertação dos cinco presos políticos da Chapada Diamantina, presos no dia 25 de março na desocupação das fazendas Novo Horizonte/Conjunto, no município de Wagner. Perseguidos pela justiça e polícia locais, os trabalhadores são um exemplo representativo do processo de criminalização dos movimentos sociais que vem avançando por todo o país. O MST promete seguir em frente com suas ações e ocupações, exigindo o direito constitucional de acesso à terra e bradando que lutar não é crime!
FONTE: MST
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