Na abertura do Fashion Rio, no final da tarde da última quinta (27), Walter Rodrigues fez o que nunca se viu (ou há muito tempo não se vê, ao ponto de ninguém ou quase ninguém lembrar) num Fashion Rio ou São Paulo Fashion Week: inverteu a regra e realizou um desfile só com modelos negras.
O pretexto foi a inspiração na África, mas não só ela. O Brasil parece ter se revelado o principal motivo para que o estilista lotasse uma van para trazer, de São Paulo, as onze modelos que faltavam para completar seu casting de 25 beldades afro-descendentes. "É ridículo pensar no Brasil e não pensar nisso [em ter um desfile, se não com 100%, pelo menos com muitas modelos negras]", disse. "Era um sonho", resume o estilista, que não conseguiu reunir, ao procurar em agências cariocas e no casting do próprio evento, o número suficiente de profissionais negras para o seu desfile. "As agências de modelo deveriam viajar mais para o Nordeste do país. Elas estão indo muito para o Rio Grande do Sul", acredita.
Para Walter Rodrigues, cuja clientela inclui celebridades milionárias como a apresentadora Eliana (para quem fez o vestido de noiva), é um equívoco não só ignorar uma grande parcela da população feminina como uma fatia importante de consumidoras brasileiras ao representá-las tão mal na passarela. "Tenho clientes negras muito ricas", afirma.
Habituado a fazer parcerias com comunidades de artesãs em várias regiões do país, foi da última experiência, desta vez com a associação de 23 costureiras do Quipapá, no sertão de Pernambuco, que o interesse pela cultura africana cresceu, até virar coleção.
O estilista conta que foi ao passar por Palmares - cidade batizada com este nome em homenagem ao Quilombo dos Palmares - que decidiu pesquisar a África. "Fui atrás de uma África real", conta o designer, que preferiu investir em tons mais sóbrios como o marinho, o cinza e os marrons ao colorido forte tradicionalmente relacionado à cultura africana. PInturas corporais do Vale do Rio Omo, na Etiópia, viraram estampas da coleção de formas mais simples. "Estou cansado de muita gola, de muita manga."
FONTE: UOL
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